quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Senhora

Autor da foto Carlos Sillero: http://br.olhares.com/senhora_foto704302.html


INCONVENIENTE

Desde pequeno não sabia o motivo de se irritar com a alegria esfuziante daquela tia distante. Soltava gargalhadas grotescas que mostravam todos os dentes amarelados; a voz fina quase estourava os tímpanos. Sempre carregava sacos plásticos e, na hora de dormir, adorava mexê-los provocando um barulhinho irritante. Ninguém tinha paciência com a tia, fugiam dela. Continuava ir às festas de família até que todos inventaram desculpas para não convidá-la mais aos eventos. A tia ligava para saber se alguém daria uma festa e ninguém dizia nada. Com o passar dos anos, banida da família, trancou-se em casa e raramente saía. Uma vez, um parente lembrou-se dela e, com uma compaixão repentina, ligou para convidá-la a passar o natal na sua casa. A tia agradeceu, mas disse que não podia ir; iria à casa de uma amiga. Colocou o telefone no gancho e voltou para cama. Habituou-se ao exílio. No sofá, dois olhos felinos a seguiam.


Um comentário:

Angela disse...

Gostei muito deste seu conto! O final é lindo e muito bem sacado!
Tive pena da tia e, mais ainda das pessoas que foram incapazes de ajudá-la a ser mais bem aceita, ensinando-a com amor.