domingo, 28 de dezembro de 2014

CONFIANÇA


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Vivia trancado em casa e mesmo com trancas resistentes nas portas e janelas sentia falta de algo. Essa sensação de perda o atormentava e cada vez se trancava em sua prisão. Não conversava com ninguém, achava que todos queriam passa-lo para trás ou prejudica-lo. Em pesadelos, fugia de uma onda de olhos e acordava apavorado no meio da madrugada. Um dia, ao navegar pela internet, leu uma citação* que foi uma revelação para ele. Mesmo desconfiado da fonte, a sensação da descoberta que tanto o afligia foi validada. O que roubaram dele foi a confiança de si mesmo e em relação aos outros. Tentou lembrar quem foi que a roubou, entretanto viu um mosaico de rostos.

*   “O homem que rouba a confiança do outro é o pior dos ladrões.”
Textos Judaicos



quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

CARTÃO ANTIGO DE NATAL


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Remexendo em objetos antigos, empoeirados e escondidos no armário, encontrei um cartão:
“Tenha um feliz natal e desejo muito que se encontre um dia.”
Nem me lembrava mais da mensagem, talvez não tivesse dado a devida importância. Mas, agora, ela me faz todo o sentido.
Pois é, mãe, ainda estou na minha jornada de me achar. Porém, já me conheço melhor.
Além do mais, sei que você está lá do céu, velando por mim.


sábado, 20 de dezembro de 2014

MÁSCARAS



PREFÁCIO
Muitas vezes, escrevo histórias com o mesmo tema. Isso na literatura é falta de originalidade, mas para mim é interessante perceber os temas recorrentes que me fazem pensar. Por exemplo, fiz uma pesquisa no meu blog, colocando a palavra máscara e encontrei um monte de minicontos relacionados com este tema. Resolvi, então, fazer uma antologia.  Para quem não leu, aproveitem a leitura.

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A máscara é o que é; vazia de significados. Quando alguém a coloca no rosto, torna-se pele e quimera. Quando é retirada volta ser o que é. Para viver, precisa se banhar na imaginação das pessoas.

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“Todos usamos máscaras e chega uma hora em que não podemos tira-las sem arrancar nossa própria pele.” André Berthiaume

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“TENHO MEDO DE MASCARADOS”

– Tem medo de você, então?
– Não uso máscara.
– Todos nós usamos, uns utilizam a máscara-objeto para ocultar só o rosto e outros usam a máscara-invisível para esconder a alma.

A MÁSCARA

Em uma loja de antiguidades, a jovem entra e a vê a rouba, por impulso.
Coloca no rosto. Vive intensamente experiências nunca imaginadas e goza cada momento.
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Dias depois, é encontrada morta na cama de um hotel barato. A máscara retorna para loja.
Outra jovem entra e a vê...

O MASCARADO

Usava uma máscara não para se esconder, pelo contrário, quando a colocava vivia sua verdadeira identidade. Era o mascarado que encantava crianças, adultos e idosos com seus truques mágicos. Quando aparecia no vilarejo, as pessoas o rodeavam. A máscara era a sua segunda pele. Era a face que escolhera e que representava sua alma.

SÓ DESEJO

De repente Sandra sente alguém a agarrando. Ela dá um empurrão e o homem mascarado rola da escada e cai inerte na sala. Desnorteada se aproxima do corpo e tira a máscara.
Era seu marido. Ao remexer no bolso da calça, encontra a cópia do diário em que relata sua fantasia de fazer um sexo selvagem com um invasor. 
- Amor! Era só desejo, Amor!


Sonha com ele...

Perseguindo-a e a possuindo vorazmente. Numa noite, o mascarado retorna e ela teve o ímpeto de tirar a máscara. Levou um susto ao ver seu próprio rosto. Acordou e se olhou no espelho. Viu marcas de unha na face.

PERSONA MARAVILHOSA

Vivia para os outros e era considerada A GRANDE MÃE de todos. Sempre tinha comida na sua casa para os que morriam de fome e remédios para os adoecidos. Um dia, todos ficaram surpresos quando ela desapareceu e uma enorme máscara foi encontrada sobre a cama.

LADO OCULTO

Consideravam-no um debochado que desrespeitava a tudo e a todos. Nunca descobriram que quando a noite cai, ele retira uma máscara grotesca, revelando assim sua verdadeira forma: um belo anjo de asas despedaçadas.

DESCOBERTA

- Que máscara sombria!
- É que descobri quem quero ser.

A mãe correu desesperada para o quarto do filho mais novo, que estava muito silencioso...


- O que vai querer?

- A menina que você esconde nessa máscara vulgar.


- Isso nunca.


" A MORTE LHE CAIU BEM"


Todos o ridicularizavam pela sua feiura. Um dia, quando a morte o visitou, colocou no rosto dele uma bela máscara.

REVELAÇÃO

O menino tem pena de uma máscara que aparenta ser triste. Um dia, não aguentando mais a melancolia dela, entra escondido no atelier do pai e a joga pela janela. Quando o pai vê a cena, fica irado e lhe dá um castigo de não  brincar mais  na rua por um mês.

Anos se passaram, quando o pai vai ao cinema vê uma jovem atriz com feições idênticas da máscara que fizera anos atrás. Tem uma revelação. Ao chegar, liga para o filho já grande e que reside no exterior:

- Desculpa.

ALMA GÊMEA

– Doutora, eu vejo o que ninguém vê. As pessoas que andam pela rua, são máscaras flutuantes. Inclusive você. Eu sou, na realidade, uma geleca...

A máscara flutuante da psicanalista se parte, aparecendo outra geleca. As duas se fundem num enorme gelecão que atravessa o céu.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

FANTASIAS


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“As nossas maiores dissimulações são desenvolvidas não para esconder o que há de ruim e feio em nós, mas o nosso vazio. A coisa mais difícil de esconder é aquilo que não existe.” Eric Hoffer

Quando começou a se perceber e, aos outros, viu que era diferente, não se fantasiava. A solidão aumentava a cada ano, pois as pessoas o achavam esquisito e até sua família, deixava-o de lado.

Um dia, começou a produzi-las e a usá-las de acordo com a ocasião. Começou a ser aceito e até constituiu família.


Mas, quando estava sozinho, despia-se em frente ao espelho. Tinha curiosidade de se ver sem demarcações que formavam sua identidade.


A imagem refletida através do espelho era amórfica.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

CERTA MANHÃ


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A piscina está azul do céu e não tem sequer uma folha flutuando nela. Não há vento e tudo parece uma cena de um sonho. Estou no quarto e o vejo na piscina, não brinca mais, só está à beira da piscina. Vou ao seu encontro.
- Filho, por que não brinca?
- Pai, estou entediado. Parece que estou aqui faz muito tempo? Cadê todo mundo, só vejo você. 
- Vamos passear no campo, que acha?
- Pode ser, mas não acontece nada por aqui.
- Filho, está triste?
- Não, só estou cansado. Parece que faço a mesma coisa por tanto tempo.
- A vida é assim, mesmo. Quer sorvete?
- Já sei, de creme como sempre.
- Posso comprar outro. Quer ir comigo?
- Não, ficarei aqui, por enquanto.
***

O homem acordou e foi ao quarto vazio. Ainda não estava pronto para deixá-lo ir.  Manteria o fantasma do filho em seu sonho.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

MINICONTOS ANTIGOS DE NATAL

Imagens encontrada no google


ENCONTRO NA NOITE DE NATAL
Davam-lhe vinho, mas a boca continuava seca. Ao caminhar, encontrou um ancião que lhe deu um pouco de água. Depois de saciar a sede, perguntou-lhe o nome e ele respondeu...
“ NOEL”

DIA DE NATAL
Achavam que ele passaria o natal sozinho, mas ele guardava sua família no sótão e ceava com eles junto à mesa posta todos os anos. Depois, guardava novamente os bonequinhos do playmobil.

O BEIJO( Inspirado num conto antigo)
A tia arrumava a bagunça depois que as crianças foram dormir com os brinquedos novos. Os adultos também  se recolheram. O Papai Noel apareceu e a abraçou, roubando um beijo. Ela adorou a surpresa, mas lembrou-se que sua irmã estava com as crianças no andar de cima e empurrou o cunhado. Depois, trancou-se no quarto e ligou a tevê para assistir o restinho da programação especial de natal. 


CARTA PARA PAPAI NOEL: “ Quero minha inocência de volta.”

sábado, 13 de dezembro de 2014

O pedido


“Feliz, feliz Natal, a que faz que nos lembremos das ilusões de nossa infância, recorde-lhe ao avô as alegrias de sua juventude, e lhe transporte ao viajante a sua chaminé e a seu doce lar!”

Ele estava com raiva de tudo e todos, queria se vingar do mundo, pois se achava a vítima das circunstâncias. 

Foi contratado como Papai Noel, com a finalidade de distribuir brinquedos para os filhos e sobrinhos de um empresário. Seu plano era matá-lo por achar que irá melhorar o mundo, matando os ricos e poderosos. Planejou tudo com os mínimos detalhes.

O plano seguia perfeitamente... Quando deu meia noite, sacou a arma para o empresário, mas, uma garotinha apareceu chorando e lhe disse:

- Papai Noel pode levar meus brinquedos novos. Só quero de presente meu pai vivo.

Ele ficou perplexo e fugiu. Viu-se na menina e se sentiu um monstro.

Foi se despindo de Papai Noel pela rua e percebeu uma sensação de leveza esboçar dentro dele.



***

Outros contos antigos de natal

http://dudv-descarrego.blogspot.com.br/2012/12/25-de-dezembro.html

http://dudv-descarrego.blogspot.com.br/2012/12/ceia-de-natal-conto-antigo.html

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Juiz e réu... Réu e juiz...


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Os dois amantes se encontram escondidos numa esquina. De repente, um menino aparece e olha fixamente para o casal. O homem fica perplexo, era seu filho. Lembrou-se de quando era menino, também, e viu seu pai trair a mãe. A dor da descoberta surgiu novamente. Porém, pela primeira vez, sentiu remorso por nunca ter perdoado o pai. Quando retornou para casa, viu a imagem do pai nos olhos do filho, que o encarava fixamente como um juiz. Agora, sentiu-se na pele do réu. 

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"A fé é a força da vida. Se o homem vive é porque acredita em alguma coisa."Autor - Tolstoi ,Lev

Desde muito cedo Luiza sempre vivera uma vida de privações materiais e afetivas. Um dia, desmaiou na sarjeta.

Ao ver a menina na calçada, a prostituta chamada Lucíola foi ao seu encontro e a socorreu. Depois, adotou-a como filha.

Luiza se encantou com Lucíola, principalmente por ser tão devota a Deus e achar que Ele sempre a protegeu das maldades do mundo. A fé da prostituta iluminou o coração de garota. 

Anos depois, mesmo Luiza ao ver tanto sofrimento num campo de refugiados, lembra-se de Lucíola e uma força descomunal surge dentro dela.

Luiza continua a ajudar os desvalidos em meio ao deserto, onde o vento traz as lamúrias de outros lugares remotos.  




domingo, 7 de dezembro de 2014

ACHADOS E PERDIDOS


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Foi uma surpresa para todos de eu começar a escrever sem parar. Perguntam como acendeu a chama do meu eu-escritor. Não revelo o segredo, porque muitos me acharão louco, bem... Confesso que tenho um pezinho na loucura, mas ninguém precisa saber disto, não é mesmo? Queridos leitores, como vocês são meus melhores amigos, somente lhes revelarei meu segredo. Um dia desses, entrei numa confeitaria que havia anos não mais frequentava, o que me lembrava pela ultima vez, foi quando era menino. Quis entrar e ao sentar à mesa, um garoto que aparentava ter oito anos surgiu e me fez uma pergunta curiosa: “ E aí, vou me tornar escritor?”, depois saiu correndo e não o vi mais. Ao chegar a minha casa, tive a ideia de ver o álbum de quando era criança. O menino estava lá, ele era eu. Fiquei surpreso e o coração começou a acelerar. Logo, do choque do início, um prazer de descobrir que ainda podia me surpreender fluiu por todo meu corpo. Liguei o computador e comecei a escrever textos que jaziam no meu inconsciente. Até hoje, produzo-os e os reinvento vertiginosamente e, quando me olho no espelho, vejo o menino piscando para mim e se dissipando no ar.

***

Conto ao som..


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

TEMPESTADE
















Preciso pensar mais as ideias saem da minha boca como vômito porque não consigo me calar tenho que golfa-las involuntariamente tempestade de ideias com direito a raios e trovões mas quando acaba caio nos braços do vazio finalmente posso descansar um pouco


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

MADRUGADA QUENTE( conto escrito em 2004, quando fazia uma oficina literária)




Yolanda chegou cansada do trabalho.
A primeira coisa que viu foi a Olivetti sobre o sofá-cama. A madrugada avançava. A quitinete estava um forno e mesmo com a janela escancarada, não vinha sequer uma brisa. Yolanda (só de calcinha) escrevia alguns poemas, sentada no sofá-cama e com a máquina de escrever portátil sobre os joelhos. As horas passavam, o calor continuava. Ela parou de escrever e foi beber água. O seu corpo estava todo suado. Decidiu tomar banho para se refrescar. Não adiantou, a água estava quente. Quando saiu do banheiro, lembrou-se da discussão com Clara, que lhe chamou de alienada. Revoltada, Yolanda respondeu que tinha consciência dos problemas que o país estava passando: a repressão militar e as mazelas sociais, mas que não podia se esquecer de sua família, principalmente da mãe, que estava muito doente. Às vezes sentia raiva, queria ser sozinha para seguir os seus ideais e desejos. Andou em direção à janela. Recordou que a mãe lhe dizia sempre que era como um passarinho. Frágil, mas livre. Calor, sono, pensamentos e poemas por passar a limpo se misturavam. O telefone tocou, quando atendeu ouvi o silêncio do outro lado da linha. Diz: “ É você, Paulo?”.  A ligação caiu. Pensou em Paulo e as lágrimas se misturam com suor. Estava tão cansada que dormiu entre os papéis e a Olivetti. No meio de tanto desconforto, ficou o último poema que acabara de passar a limpo na máquina de escrever.
Do outro lado da rua, em um prédio, um homem a observava de binóculo. Sentia-se fascinado por Yolanda. Mas, não era só uma atração física.
 “ Ela vive em si, sem estar amarrada a nenhum grupo e ideologia. Por isso, ela é o mistério que torna a vida mais interessante.”



***
Na primeira versão, no final do conto tentei escrever um poema que ficou ridículo. Como era um tolo pretensioso. Muitas vezes, achava que estava inventando a roda com minhas ideias geniais. Quantos micos passei, que neste momento sinto meu rosto ruborizar! Queria me valer das minhas ideias nuas e não me importava em vesti-las com leitura e treino. Meu erro mortal sempre foi a pressa em escrever e postar logo no blog e o pior que este equívoco continua a me assombrar. Porém, estou mais consciente de mim e como já disse várias vezes, escrever me salva. Quando reflito para produzir qualquer coisa( mesmo uma mensagem no face) a razão sobrepõe o emocional, já que todo escritor que ser entendido. E o interessante, é que me sinto mais livre. Enfim, escrever como terapia será meu hábito até os fins dos meus dias. Colocarei a versão mais antiga, vejam se as pequenas alterações e o corte do poema tornou o conto melhor?

MADRUGADA QUENTE
Yolanda chegou cansada do trabalho.
A primeira coisa que viu foi a Olivetti sobre o sofá-cama. A madrugada avançava. A quitinete estava um forno e mesmo com a janela escancarada, não vinha sequer uma brisa. Yolanda (só de calcinha) escrevia alguns poemas, sentada no sofá-cama e com a máquina de escrever portátil sobre os joelhos. As horas passavam, o calor continuava. Ela parou de escrever e foi beber água. O seu corpo estava todo suado. Decidiu tomar banho para se refrescar. Não adiantou, a água estava quente. “Está tão quente, que parece que vou derreter, aliás, que tudo em minha volta se transformará numa poça de suor”. Quando saiu do banheiro, lembrou-se da discussão com Clara, que lhe chamou de alienada. Revoltada, Yolanda respondeu que tinha consciência dos problemas que o país estava passando: a repressão militar e as mazelas sociais, mas que não podia se esquecer de sua família, principalmente da mãe, que estava muito doente. Às vezes sentia raiva, queria ser sozinha para seguir os seus ideais e desejos. Andou em direção à janela. Recordou que a mãe lhe dizia sempre: – Você é que nem um passarinho. Frágil, mas livre.–. Calor, sono, pensamentos e poemas por passar a limpo se misturavam. Estava tão cansada, que dormiu entre os papéis e a Olivetti. No meio de tanto desconforto, ficou o último poema que acabara de passar a limpo:
A verdadeira nudez é caótica.
Não se pode entendê-la, mas senti-la.
Deve-se buscar
o lado animalesco e

deixar o humano de lado. Yolanda Ferreira

SINÔNIMOS


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- Pai, por que faz análise?

- É difícil explicar, quando for adulto entenderá.


-Então, difícil é sinônimo de adulto? É que só falta responder essa questão de sinônimos para acabar o dever.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

BRUTAMONTE




Fazia questão de ser o valentão da turma. Mesmo adulto continuava embrutecido. Logo, mulher e filhos se afastaram dele porque não aguentavam tanta grosseria.

Completamente sozinho e rabugento só recebia a visita da neta, que dançava para ele. O velho mesmo com cara fechada, os olhos ficavam molhados. Um dia, contou um segredo que guardara a sete chaves por vários anos.

Quando morreu, a neta foi a única que ficou triste. Mas, sua nova amiga e misteriosa, confortava-a e a convidava para dançar.

O segredo do avô era que sua alma tinha a forma de uma menina bailarina e que para protegê-la, transformou-se uma armadura quase intransponível.

A menina-bailarina finalmente encontrou uma boa morada, na sombra da neta do brutamonte.

***

Conto ao som...