quinta-feira, 30 de junho de 2016

ENTRE O RASO E O FUNDO

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Tinha dois amigos que saía de acordo com seu estado de espírito. Quando não queria se afogar nas profundezas, passeava com o colega que só curtia o superficial.  

Assim como, ao se cansar de bater a cabeça no raso, encontrava-se com o outro que gostava de pensar densamente sobre o mistério do universo e de como somos conectados. 

Por meio destes dois amigos, conseguia encontrar o equilíbrio para lidar com as adversidades da vida.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

INVISÍVEL

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“ Na verdade, nunca contei a ninguém sobre isso, porque fiquei com medo de me acharem maluco. Desde menino, eu sentia cutucões e alguém me empurrar, mas, como não via ninguém, achava que era perseguido por um fantasma. À medida que crescia, a presença ficava mais forte e agressiva. Ficava todo machucado e meus pais me perguntavam quem me batia e não dizia por medo deles me considerarem doido. Um dia, só ouvi alguém gritar para mim para fugir e fiquei sem entender. Ouvi sirene da polícia, um cara apareceu do nada com uma faca apontando para mim  e me levaram à delegacia para depois, seu delegado. Estou sendo sincero, não sei o que aconteceu. Só não quero ser internado em um hospício. ”

“ Confesso, quis matar este cara metido a besta! No início, quando menino queria brincar com ele, porém, nem ligava para mim e ia embora com aquele olhar distante. Fiquei com raiva e comecei a bater nele e continuava a não me enxergar. Meu ódio cresceu ao longo dos anos. Então, já que não nunca me viria, peguei uma faca e corri a sua direção.”



quinta-feira, 23 de junho de 2016

ANDAVAM PERDIDOS DE SI MESMOS PELA RUA...

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Até se encontrarem. Fizeram parte do passado de um de outro e a esperança de se acharem novamente através da memória de ambos floresceu. Conversaram até a noitecer e transaram como no passado.  No dia seguinte, despediram-se e sabiam que nunca mais se encontrariam. Porém, estavam felizes de se descobrirem outra vez e poderiam seguir em frente a partir daí. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Fofoqueira!



Quando estava entretido numa leitura, de repente, peguei a lua bisbilhotando o que eu lia. 

terça-feira, 21 de junho de 2016

NO CEMITÉRIO




Havia uma estátua que se destoava das outras, tinha curvas em abundância. O coveiro ficava ao seu lado, lembrava-se de sua mãe, que apesar dos dez filhos, o colo aconchegava a todos. 

SINOPSE REPROVADA DE UMA TELENOVELA


Duas mulheres correndo na praia, Picasso

A mocinha e a vilã se descobriram apaixonadas uma pela outra e correram seminuas pela praia.
O galã foi se consolar com a bá e se casaram. Hoje, moram em um castelo nos arredores de Paris. Adotaram oito crianças.
O rival do galã pelo o amor da mocinha virou um missionário religioso, viajando por recantos mais miseráveis do planeta.
No final da história, todos se encontraram nus numa vasta colina e se abraçaram, transformando-se numa gelatina translúcida, cósmica e intergaláctica.  

FIM

domingo, 19 de junho de 2016

RECORDAÇÕS ALHEIAS



Todo final de ano escolar, alguém colocava a camisa surrada do uniforme na estátua. Era tradição, mesmo que a fonte em que ficava a estátua tivesse secado. Mas, ninguém sabia que quando a vestiam, ela absorvia as recordações alheias das camisas velhas e que lhe faziam companhia.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

CARLOS

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"Nada é mais fácil do que se iludir, pois todo o homem acredita que aquilo que deseja seja também verdadeiro." Demóstenes

Andava como um caçador. Queria capturar uma sensação ou ser arrebatado por algum sentimento. Ao virar uma esquina, esbarrou em um rapaz e recordou um antigo amor. Foi uma relação forte, mas, uma doença violenta os separou em duas semanas.
O jovem percebeu que um senhor elegante o perseguia. Então resolveu conversar. Com o tempo, saiam juntos para todos os cantos e a harmonia entre eles se consolidava dia a dia.

A única situação que incomodava Carlos era o rapaz ter um ritual antes da relação sexual: Primeiro ia ao banheiro, ficava alguns minutos e desligava todas as luzes do aposento. Ele não entendia como aquele ser tão livre, podia ser metódico na hora da intimidade. Às vezes o jovem vedava-lhe os olhos. Entretanto, Carlos não podia tomar a iniciativa e deixava-se guiar cegamente.

Mesmo cismado, o senhor continuava a relação sem questionamentos. Tinha medo de ficar sozinho novamente. Meses se passaram, o jovem começou a enjoar bastante e a ficar com o ventre intumescido.

Carlos se preocupou, lembranças passadas arranhavam seus pensamentos. Em uma noite, o jovem passou muito mal e teve que ser hospitalizado. Ficou horas esperando o médico trazer notícias; a madrugada parecia infinita.


O doutor chegou e disse que conseguiu salvar o bebê, mas a mulher faleceu. Ficou surpreso. Como poderia ser enganado desta forma ou ter se deixado levar. 

Ao ver o bebê, sua alma solitária chorou de alegria e medo do inesperado.

domingo, 12 de junho de 2016

LEVE ( outra versão)

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A moça caminha e recita um poema em pensamento:
“Leve
Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.” ¹

Atrás dela, um rapaz corre e uma brisa bate no seu rosto. De repente, sente-se confuso. Certas lembranças, pensamentos e sensações de outra pessoa brotam em sua cabeça. Vê alguém à sua frente se extinguindo.

***
¹- O Guardador De Rebanhos
Alberto Caeiro
08-03-1914



ESQUECIMENTO...


O irmão mais velho sempre defendeu o caçula da mãe. Quando ela cresceu e teve outros interesses, largou os bonecos num canto qualquer.

Encontraram a paz e a felicidade e sempre rezavam para nunca serem descobertos, no paraíso chamado esquecimento.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Terraço do Café em Arles à Noite, na Praça do Fórum – 1888






- Já que quer saber tanto por anda seu pai, veja este quadro então que achei na Internet! Lembrei-me o nome do artista ( um tal de Van Gogh) e fui pesquisar.

- Ele entrou no quadro e está no café pintado pelo artista?

- Pois é, deixou-me sozinha com você bebê para entrar aí. Deixou um bilhete, comunicando que se sentisse saudade, era só ver o quadro. Está vendo? Ele apareceu rapidinho para dar um olá.

- Estou sim, será que posso entrar rapidinho para falar com ele?

- Pelo amo de Deus, outro neste quadro, ficarei enlouquecida!

- Pode deixar, não a deixarei sozinha. Mas, a gente pode imprimi-lo e colocar na parede. Papai ficará mais perto da gente.


- Boa ideia, menino.  


***

Agora que percebi, escrevi um conto com temática parecida. Quer saber de uma coisa, se estou repetindo deve ter algum motivo relacionado ao meu inconsciente. Um dia, descubro. 

http://dudv-descarrego.blogspot.com.br/2016/05/do-lado-de-la.html

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O FÃ




De repente não enxergava os outros, nem os familiares. Só via os famosos e corria atrás deles para fugir da solidão.

Era um viajante do deserto que só encontrava miragens.

terça-feira, 7 de junho de 2016

A BOLA( TENTANDO MELHORAR UM CONTO RUIM, PELO MENOS, É UMA FORMA DE TREINAR A ESCRITA.)



AO ATRAVESSAR A RUA, VEJO UMA BOLA  QUICANDO SOZINHA...
Ninguém a percebe, só eu e ela me segue. Fujo, mas, sempre me alcança. Olho, ela está ao meu lado, sobe e desce. Dissimulo que não a percebo, só que  sabe que estou representando. Entro por várias ruas e becos, quero a minha entediante paz novamente: acordar cedo para trabalhar, quebrar a cabeça com os trabalhos chatos da faculdade, levar o lixo até o começo da vila, ficar em casa porque não tenho dinheiro nem para beber um refrigerante no shopping e ficar horas em pé num ônibus lotado. Entro num sebo lugar para fugir. Uma funcionária, pergunta se estou me sentindo bem. Digo que uma bola está atrás de mim e que poderia me achar louco, mas não agüento mais esta situação. Ela diz: “ A bola quicando... estou vendo. Ela caça as pessoas”. Pergunto se não tem uma solução. “ Tem que matá-la.”. Abaixa-se para pegar algo no balcão e me dá uma espada de samurai. Agradeci e fui embora com a arma na mão para resolver o embate.  A noite na cidade parecia mais escura do que o habitual. Ergui a espada. A bola para de pular e vem com toda a velocidade. Consigo acertá-la, um estrondo ecoa por todos os cantos da cidade.

ACORDA COM O PRÓPRIO GRITO...
Acorda com o próprio grito, pensa na amiga. A angustia esmaga o peito, nem espera amanhecer e sai de casa cedo. Olha o lugar onde a amiga a esperava e a encontra lá quicando, a aflição se dissipa. Trabalha num sebo antigo e, ao ver a colega de trabalho, pergunta se escutou o estrondo. Ela responde sim e olha fixamente o outro lado da rua.


ANDAVA SOZINHA PELA RUA...

Quando encontra um rapaz apavorado porque uma bola o segue, deu para ele a espada de samurai. Mas, quando vê a colega feliz e a bola pulando em frente ao sebo, fica irada. Lembra-se de sua mãe pintora, que fez um quadro de uma enorme bola. Uma vez, perguntou a mãe se a amava mais do que o quadro. A outra disse: " Você filha" . " Então prove, queime o quadro.". A mãe realizou sua vontade e nunca mais pintou, entretanto, suicidou-se dias depois.
O dia seguiu normalmente, gostava de se emaranhar nos livros empoeirados do Sebo, fazia esquecer temporariamente da " maldita bola".




segunda-feira, 6 de junho de 2016

O LOBO E O CORDEIRO, O CORDEIRO E O LOBO

Quadro de Edward Hopper



Quando viu uma jovem solitária num bar, deduziu que seria presa perfeita. Foi se aproximando e começou a conversar com ela, que, pelo sotaque era do interior reafirmando ainda mais sua ideia de que seria mole seduzi-la.


A jovem se entregou em pouco tempo, mostrando seus poemas guardados no celular. Ele lhe disse que escrevia muito bem( lembrou-se de uma professora do primeiro grau que era fã de Clarice Lispector) e a comparou com a autora famosa. Ela sorriu agradecida. Ainda, inventou que trabalhava numa pequena editora e poderia ajuda-la a publicar seus escritos. 

Convidou-a para conhecer "seu apartamento". A moça solitária aceitou o convite. Fechou os olhos e se jogou no mistério. O homem estranhou, o corpo dela tremia de desejo. Chegava a gritar e ele como um amante eficiente a satisfazia com desenvoltura. Ao amanhecer, despediram-se e trocaram contatos. 

Ele chegou procurara-la, mas, a jovem do interior desapareceu. Um dia, enviou-lhe uma mensagem pelo celular, revelando que sabia que era cafajeste e que na verdade só desejava usá-la e roubá-la. Não se enganava porque reconheceu no olhar dele o olhar do amante de sua mãe.

Relatou que sua mãe foi à ruína quando encontrou aquele homem. Ela sempre a julgou, mas quando viu um homem semelhante quis entender o que se passou com sua mãe. Entregou-se como se fosse ela e pôde experimentar as sensações de sua mãe, que sempre vivera na superfície da personagem de boa filha, esposa e mãe.  Nunca entrou em contato com seu eu profundo e quando transou com o amante, sentiu-se livre pela primeira vez. O gozo a fez se perceber mulher. Então, caçou essa sensação até enlouquecer. Na realidade, o amante não foi o causador da confusão de sua mãe, ele o despertou.  Fez às pazes com ela, pois tinha o mesmo caos.  

Agradeceu ao sedutor a noite tórrida de desejo e de tê-la comparado com Clarice Lispector, mesmo que seja uma mentira deslavada, já que aqueles poemas eram de sua sobrinha de dez anos.  Ainda, questionou se ele era somente um cafajeste ou um psicopata que sugaria sua vida à última gota se permitisse. Não desejava saber, bastava-lhe transformá-lo num amante quimérico para saciar seu caos através dos sonhos. 

Depois de ler a mensagem, sorriu. Na verdade, ele que foi usado. Se soubesse por onde andaria a jovem, iria assombrá-la até tomar tudo dela.





OUTRO FATO CURIOSO DA MEMÓRIA

Salvador Dali

         




Recebi um e-mail de uma amiga com a seguinte mensagem: “Um conto seu que adoro e guardei desde 2007”. Caramba! Nem me lembrava mais deste conto e até duvidei se é da minha autoria, tive buscas  nas profundezas das minhas lembranças.
            Quantas coisas deixamos pelo caminho ou perdemos e depois encontramos na próxima esquina ou num e-mail de uma pessoa querida. Sei lá, cada vez mais reafirmo a ideia de eu me conhecer, antes preciso me perder e quando me achar terei outro olhar sobre mim que me fará compreender melhor. Obrigado, Angela.


MALDIÇÃO


Tudo começou, quando quis apagar um conto que fiz há muito tempo e ele retornava. Tinha certeza que apertava a tecla delete várias vezes e quando abria o arquivo, o dito cujo aparecia. Foi um dos meus primeiros contos, tentei aproveitá-lo, não adiantava, era muito ruim. Chamei um técnico de informática que fugiu da minha casa: “ Seu computador está amaldiçoado”, pedi até a um padre para benzer o computador, nada. Um dia, acessei o meu blog, o conto estava lá, como pode ter acontecido isto? Mesmo publicando vários textos meus e alheios, ele sempre aparecia primeiro. Resolvi deletar o blog e fazer outro, a mesma coisa acontecia. Desisti de blogs e de literatura, vendi tudo e fui para bem longe. Não adiantou, sempre recebo pelo correio o maldito conto. Não adianta jogá-lo fora ou queimá-lo, sempre volta empilhando a casa. Estou cansado de mudar de residência, não sei mais o que fazer...  

domingo, 5 de junho de 2016

Liberdade de escolha




- Tem que voar! Não pode haver mais pássaros em gaiolas.

- Por favor, me deixa aqui. Minha gaiola é tão confortável.

- Saia, como já disse.


Perdido na imensidão lembrava-se de sua gaiola aconchegante. 

Nem percebeu que um gavião o espreitava.


quinta-feira, 2 de junho de 2016

COMPANHIA

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Durante anos a mulher nunca entendeu o sumiço do marido. Um dia, ele apareceu. Ela o perguntou por que a abandonou. O homem respondeu-lhe que morria de ciúmes por causa do outro. A esposa retrucou que nunca teve um amante, mas ele disse que o outro estava na sua cabeça e que ela não o enxergava, pois só servia como um meio para projetar o outro. De repente, viu o marido como é, pela primeira vez. Resolveram ficar juntos para fazer companhia um para o outro. Os filhos estavam longe e a solidão já se tornava dolorida.


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Olhar violentador



No ponto de ônibus, percebe um homem a olhar fixamente para seus seios e, de repente, sente que foi mordida. Assustada, volta para casa e quando se despe, percebe um de seus seios está com uma marca de dentes. Questiona-se sobre a situação improvável, já que ninguém a mordeu de fato lá fora.