Yolanda chegou cansada
do trabalho.
A primeira coisa que
viu foi a Olivetti sobre o sofá-cama. A madrugada avançava. A quitinete estava
um forno e mesmo com a janela escancarada, não vinha sequer uma brisa. Yolanda
(só de calcinha) escrevia alguns poemas, sentada no sofá-cama e com a máquina de
escrever portátil sobre os joelhos. As horas passavam, o calor continuava. Ela
parou de escrever e foi beber água. O seu corpo estava todo suado. Decidiu
tomar banho para se refrescar. Não adiantou, a água estava quente. Quando saiu
do banheiro, lembrou-se da discussão com Clara, que lhe chamou de alienada.
Revoltada, Yolanda respondeu que tinha consciência dos problemas que o país
estava passando: a repressão militar e as mazelas sociais, mas que não podia se
esquecer de sua família, principalmente da mãe, que estava muito doente. Às
vezes sentia raiva, queria ser sozinha para seguir os seus ideais e desejos.
Andou em direção à janela. Recordou que a mãe lhe dizia sempre que era como um passarinho.
Frágil, mas livre. Calor, sono, pensamentos e poemas por passar a limpo se
misturavam. O telefone tocou, quando atendeu ouvi o silêncio do outro lado da
linha. Diz: “ É você, Paulo?”. A ligação
caiu. Pensou em Paulo e as lágrimas se misturam com suor. Estava tão cansada
que dormiu entre os papéis e a Olivetti. No meio de tanto desconforto, ficou o
último poema que acabara de passar a limpo na máquina de escrever.
Do outro lado da rua,
em um prédio, um homem a observava de binóculo. Sentia-se fascinado por
Yolanda. Mas, não era só uma atração física.
“ Ela vive em si, sem estar amarrada a nenhum
grupo e ideologia. Por isso, ela é o mistério que torna a vida mais
interessante.”
***
Na primeira versão, no
final do conto tentei escrever um poema que ficou ridículo. Como era um tolo
pretensioso. Muitas vezes, achava que estava inventando a roda com minhas
ideias geniais. Quantos micos passei, que neste momento sinto meu rosto
ruborizar! Queria me valer das minhas ideias nuas e não me importava em
vesti-las com leitura e treino. Meu erro mortal sempre foi a pressa em escrever
e postar logo no blog e o pior que este equívoco continua a me assombrar.
Porém, estou mais consciente de mim e como já disse várias vezes, escrever me
salva. Quando reflito para produzir qualquer coisa( mesmo uma mensagem no face)
a razão sobrepõe o emocional, já que todo escritor que ser entendido. E o
interessante, é que me sinto mais livre. Enfim, escrever como terapia será meu
hábito até os fins dos meus dias. Colocarei a versão mais antiga, vejam se as pequenas alterações e o corte do poema tornou o conto melhor?
MADRUGADA QUENTE
Yolanda chegou cansada do trabalho.
A primeira coisa que viu foi a Olivetti sobre o
sofá-cama. A madrugada avançava. A quitinete estava um forno e mesmo com a
janela escancarada, não vinha sequer uma brisa. Yolanda (só de calcinha)
escrevia alguns poemas, sentada no sofá-cama e com a máquina de escrever
portátil sobre os joelhos. As horas passavam, o calor continuava. Ela parou de
escrever e foi beber água. O seu corpo estava todo suado. Decidiu tomar banho
para se refrescar. Não adiantou, a água estava quente. “Está tão quente, que
parece que vou derreter, aliás, que tudo em minha volta se transformará numa
poça de suor”. Quando saiu do banheiro, lembrou-se da discussão com Clara, que
lhe chamou de alienada. Revoltada, Yolanda respondeu que tinha consciência dos
problemas que o país estava passando: a repressão militar e as mazelas sociais,
mas que não podia se esquecer de sua família, principalmente da mãe, que estava
muito doente. Às vezes sentia raiva, queria ser sozinha para seguir os seus
ideais e desejos. Andou em direção à janela. Recordou que a mãe lhe dizia
sempre: – Você é que nem um passarinho. Frágil, mas livre.–. Calor, sono,
pensamentos e poemas por passar a limpo se misturavam. Estava tão cansada, que
dormiu entre os papéis e a Olivetti. No meio de tanto desconforto, ficou o
último poema que acabara de passar a limpo:
A verdadeira nudez é caótica.
Não se pode entendê-la, mas senti-la.
Deve-se buscar
o lado animalesco e
deixar o humano de lado. Yolanda Ferreira
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