Foto tirada pelo celular
F acordou estranho, teve um pressentimento que algo lhe aconteceria./ G sentiu a mesma coisa. F. era perdido/ G. era achado desde nascença.
Apesar
de diferentes tinham algo em comum, sentiam-se incompletos e procuravam algo
que os completasse.
Na
cidade, os dois se encontraram. Olharam-se e se reconheceram. Eram iguais,
feitos do mesmo barro. No primeiro momento tiveram medo.
Lembraram-se
de uma lenda muito antiga que a família de ambos contava: Doppelgänger, segundo
a lenda, é um monstro ou ser fantástico que possui o dom de representar uma
cópia idêntica de uma pessoa que ele escolhe ou que passa a acompanhar. Ele
copia tudo, até mesmo as características
internas mais profundas do indivíduo.
Mas, a curiosidade de G. e F. foi mais forte
e, também, perceberam que apesar de serem iguais na aparência eram diferentes
na essência. Na realidade, os dois
espelhavam o que idealizavam ser. G queria ser bem sucedido como F. aparentava
e F. aspirava ter a autenticidade que G. espelhava.
G:- Olá
cara, que doideira é essa?
F: -Não
sei, mas não estou surpreso, parece que já o conheço.
G: -Eu
também, como se você fosse minha extensão.
F: -E
você a minha.
G:-
Vamos dar uma volta.
Atravessaram
a cidade e nem perceberam os olhares curiosos das pessoas. Entravam num terreno misterioso e as pessoas
que os viam, sentiam isso. Eram dois que se tornavam um, aproximando-se da
totalidade quase divina, que se satisfaz em si. Narciso foi punido por isso,
bastava-se. Conclusão foi punido pelos Deuses. Várias mulheres e ninfas
apaixonaram-se por Narciso. Mas, ele não gostava de nenhuma delas. A ninfa Eco,
não aceitou a indiferença de Narciso e afastou-se amargurada para um lugar
deserto, onde ficou muito exaurida. As moças recalcadas pediram aos deuses para
vingá-las.
G. e F.
ouviram uma sirene. De repente, os transeuntes começaram a se juntar perto
deles e com rostos de ameaça e gritavam pela polícia.
Fugiram
pela rua, até encontrarem o carro de G. Não tinham para onde ir. Ao celular a
família de ambos gritava com eles, dizendo que estavam condenados para sempre.
F.
resolveu ir para casa da avó. Lá, a senhora estava na porta esperando por eles.
-
Entrem, o lanche está na mesa. Precisam comer um pouco.
Devoraram
tudo e ficaram num silêncio tranquilo. A senhora olhou através da janela o
final da tarde:
-
Precisam ir. Os outros chegarão rapidamente.
F. : -
Por que nos perseguem?
A
senhora: - Vocês entraram em um espaço mítico.
G.: -
Senti isso quando vi você, F. Nada será como antes.
F.: -
Realmente, precisamos nos apressar.
Na
estrada, os dois dentro do carro viviam uma comunhão. Estavam serenos e não
desejavam mais entender, apenas conviver com o mistério. Ao se aproximarem de
uma curva fechada, foram envolvidos por uma neblina esverdeada e desapareceram.
A avó de
G. parou de regar as flores:
“
Finalmente, ficarão bem.”
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