quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

UNO( versão de um conto antigo)




Foto tirada pelo celular


F acordou estranho, teve um pressentimento que algo lhe aconteceria./ G sentiu a mesma coisa. F. era perdido/ G. era achado desde nascença.

Apesar de diferentes tinham algo em comum, sentiam-se incompletos e procuravam algo que os completasse.

Na cidade, os dois se encontraram. Olharam-se e se reconheceram. Eram iguais, feitos do mesmo barro. No primeiro momento tiveram medo.

Lembraram-se de uma lenda muito antiga que a família de ambos contava: Doppelgänger, segundo a lenda, é um monstro ou ser fantástico que possui o dom de representar uma cópia idêntica de uma pessoa que ele escolhe ou que passa a acompanhar. Ele copia  tudo, até mesmo as características internas mais profundas do indivíduo.

 Mas, a curiosidade de G. e F. foi mais forte e, também, perceberam que apesar de serem iguais na aparência eram diferentes na essência.  Na realidade, os dois espelhavam o que idealizavam ser. G queria ser bem sucedido como F. aparentava e F. aspirava ter a autenticidade que G. espelhava.

G:- Olá cara, que doideira é essa?

F: -Não sei, mas não estou surpreso, parece que já o conheço.

G: -Eu também, como se você fosse minha extensão.

F: -E você a minha.

G:- Vamos dar uma volta.

Atravessaram a cidade e nem perceberam os olhares curiosos das pessoas.  Entravam num terreno misterioso e as pessoas que os viam, sentiam isso. Eram dois que se tornavam um, aproximando-se da totalidade quase divina, que se satisfaz em si. Narciso foi punido por isso, bastava-se. Conclusão foi punido pelos Deuses. Várias mulheres e ninfas apaixonaram-se por Narciso. Mas, ele não gostava de nenhuma delas. A ninfa Eco, não aceitou a indiferença de Narciso e afastou-se amargurada para um lugar deserto, onde ficou muito exaurida. As moças recalcadas pediram aos deuses para vingá-las.

G. e F. ouviram uma sirene. De repente, os transeuntes começaram a se juntar perto deles e com rostos de ameaça e gritavam pela polícia.

Fugiram pela rua, até encontrarem o carro de G. Não tinham para onde ir. Ao celular a família de ambos gritava com eles, dizendo que estavam condenados para sempre.
F. resolveu ir para casa da avó. Lá, a senhora estava na porta esperando por eles.

- Entrem, o lanche está na mesa. Precisam comer um pouco.

Devoraram tudo e ficaram num silêncio tranquilo. A senhora olhou através da janela o final da tarde:

- Precisam ir. Os outros chegarão rapidamente.

F. : - Por que nos perseguem?

A senhora: - Vocês entraram em um espaço mítico.

G.: - Senti isso quando vi você, F. Nada será como antes.

F.: - Realmente, precisamos nos apressar.

Na estrada, os dois dentro do carro viviam uma comunhão. Estavam serenos e não desejavam mais entender, apenas conviver com o mistério. Ao se aproximarem de uma curva fechada, foram envolvidos por uma neblina esverdeada e desapareceram.
A avó de G. parou de regar as flores:


“ Finalmente, ficarão bem.”

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