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ACORDO COM UM GRITO ABAFADO...
Não sei onde estou? Mais uma noite de bebedeira e de orgias. O grito está mais forte. Vou para um quarto e abro o closet.
- Cara que bom que você me soltou. Vamo embora, antes que Antônio apareça. Ele disse que vai me matar e você, por vomitar no tapete da avó dele.
Não estou raciocinando direito, a mulher fica gritando. De repente, chega um homem com uma peixeira na mão e diz que vai nos matar. Pego um vaso para jogar em cima dele.
- Não, por favor, este vaso foi presente de minha tia Gertrudes Patrícia.
- Então, porra, deixa a gente sair.
- Vai levar esta vagabunda, ela vai te chifrar com um monte de homem.
- Eu nunca te traí com homem nenhum. Quero ser freira.
- Como?
- Sim. Não quero mais você e nenhum homem. Quero seguir minha vocação, servir a Deus.
- Se não deixar a gente sair, vou arrebentar este vazo.
O homem nos deixou ir. Pegamos um ônibus vazio, apenas umas três pessoas no transporte coletivo. Ela morava perto de casa. Um caminhão ultrapassa o sinal e joga o ônibus do Viaduto. Das cinco pessoas no veículo, só eu sobrevivi. Fiquei internado por alguns dias. Não recebi nenhuma visita. Todos da minha pequena família morreram.
Deprimido, tentei viajar clandestinamente para os EUA. Juntei todo o dinheiro de economias de anos, da casinha do subúrbio dos meus pais mortos e desviei algum do meu antigo chefe. Paguei os coiotes para me atravessar o deserto e o rio. Mas, na correria, torci o pé e fui pego pela polícia.
Fui deportado. Arranjei alguns bicos. Aluguei um quarto. Numa noite, quando fui mijar, escutei um ruído na banheira velha, eram quatro ratazanas cruzando. Pequei uma faca grande, mas quando avancei, pularam entre as minhas pernas e gritei de susto. Tenho pavor de ratos, principalmente, ratazanas.
Será que um dia vou ser feliz? Puta que pariu, que frase clichê. Vago pela cidade. Encontro uma moça muito bonita. Para onde ela está indo? Sigo-a. Ela vai para um Sebo. Deve gostar de ler, comprou um monte de livros. Disfarcei e a segui. Duas horas depois, vejo que ela mora no Bairro dos Surdos das Colinas Verdejantes. Eu a amo, como vou me aproximar dela. Sinto que não posso deixar a oportunidade de ser feliz me escapar outra vez. Com um pouco de dinheiro, fiz um curso para aprender a linguagem dos sinais e assimilei o jeito dos surdos e mudos, que encontrava pela frente. Aluguei um quarto de pensão, em frente à casa da moça que estou apaixonado.
O plano é me fingir de surdo e mudo. Sei lá, talvez tenha mais confiança em mim. Quando falei com ela, me respondeu com sinais:
- Você não é como eu. Eu te conheço faz tempo. Sei que me segue e aprendeu a linguagem dos sinais por minha causa. Seu bobo, não precisava fingir. Meu nome é Jéssica Marina.
Meses depois, casamos e tivemos três filhos. Finalmente, consegui ficar em paz e ter um lar. Não sei se este final ficou bom, mas quero ter um bom clichê final feliz dos antigos filmes românticos americanos:
THE END
Um comentário:
o conto estava indo tão bem... por que vc o assassinou?
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