sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

VÍNVULO






Era uma vez...
 Duas princesas à espera de seus príncipes. Ficaram um longo tempo juntas e começaram a ter um vínculo forte.
Quando os príncipes as salvaram e as levaram para seus respectivos reinos, elas se lembravam de quando estavam presas na masmorra e sentiam saudade dos momentos compartilhados.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Casa de boneca



Tinha uma vida perfeita. O marido era belo, rico e os filhos saudáveis. As únicas coisas que a incomodavam, era a enfermeira que vinha lhe dar remédio e coloca-la para dormir.
Afastava-a de seu lar ao lado da cama.

domingo, 11 de dezembro de 2016

REPETITIVAMENTE


Sempre se sentiu num filme, mas, ninguém acreditava nele. Quando morreu e a escuridão surgiu com os créditos rolando, os outros ficaram perplexos de ele ter sempre falado a verdade. Entretanto, tinham a esperançar de que se esqueceriam desta verdade e retomariam suas vidas quando alguém assistisse ao filme. 

Já o protagonista, estava casado de viver repetitivamente a mesma história. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Herdeira



Nunca conheceu os pais e vivia sozinha num apartamento. Sentia-se uma folha ao vento. Mas, um dia ao preparar o chá, começou a pensar que praticava um ritual ancestral e que vários indivíduos fizeram a mesma coisa. Percebeu-se que carregava dentro dela milhares de anos de humanidade e a cada atitude cotidiana, esta herança se manifestava.
Percebeu-se não mais solitária.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Olhos devoradores


Não sei o motivo, mas, meus olhos tornam-se bocas famintas e devoram tudo que encontram. 

Quando voltam ao normal, só vejo ruínas. Além, de sentir um vazio terrível. É estranho, já que, ao mesmo tempo, sinto-me empanzinado. 

Resolvi me refugiar para um lugar bem distante da civilização.

Na imensidão das dunas e do mar, meus olhos devoradores tornam-se insignificantes. 

Na solidão, encontrei a paz e o vazio-abismo adormeceu dentro de mim.

Bem, pelo menos, por enquanto...


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Inesperadamente...


 


Ficou preso na selfie que acabara de tirar. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Ex-surfista




Quando via uma onda em qualquer lugar, ficava encharcado. Todos se assustavam ao vê-lo molhado e ofegante de repente.




domingo, 20 de novembro de 2016

Vomitando arco-íris


Um dia aconteceu, assustando a mim e a todos. Fui a vários especialistas e ninguém entendia os motivos de eu vomitar arco-íris.
Sempre fui um homem sério e nunca fiz nada de errado. Não merecia passar por esta experiência tão insólita. E o pior era ouvir explicações psicológicas. Não, não me escondia em nenhum armário e nem era reprimido. Por que as pessoas sempre querem interpretar tudo que acontece? Por que não se ater ao fato de que inexplicavelmente eu vomitava arco-íris?
Fui perseguido e caçado por todos os cantos. Intitulavam-me O HOMEM QUE VOMITAVA ARCO-ÍRIS. Nunca entendi tanto ódio gratuito e tanta curiosidade mórbida.
Ainda bem que um tio me emprestou um chalé afastado da cidade e pude descansar.
Um dia, fui procurar o significado do arco-íris na internet e encontrei a interpretação bíblica, Gênesis 9:8-15:
"E Deus falou para Noé e seus filhos com ele, dizendo: "...Este será o sinal da aliança que estou fazendo entre mim e vós e todo ser vivente que está convosco, por todas as gerações."Meu arco-íris pus na nuvem ... Quando o arco-íris puder ser visto nas nuvens, vou lembrar de minha aliança ... Nunca mais as águas se tornarão em dilúvio para destruir toda carne. ""
Então, percebi como estava voltado só em mim. Comecei observar ao redor e me conectei novamente com Deus. Não precisava seguir ninguém ou uma religião. Agradeci por ter me dado a vida e de estar em contato com a natureza.
Parei de vomitar arco-íris de repente e, agora, sigo minha vida simplesmente e não julgo mais ninguém. Antigamente, adorava ser o dono da razão.
Não sou mais assim, pois descobri que toda forma de amor é melhor ao ódio dos ignorantes e dos mal resolvidos.





domingo, 13 de novembro de 2016

ARREBATADOR




Gostava de ser feio, pois como nada vinha de graça, teve que usar a imaginação e a inteligência para conquistar os obstáculos. A natureza não deu a beleza, entretanto ele com sua conversa agradável e perspicácia seduzia a todos, principalmente, o público feminino. As diferentes mulheres eram desde patricinhas a intelectuais. Um dia, quando morreu repentinamente, amigos e suas ex-namoradas foram ao seu velório e observaram pasmados o corpo franzino e orelhudo. Mas, a imagem que construiu ao longo dos anos viverá na memória das amantes e amigos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

“Pare de palhaçada”




Quadro de A morte de Werther, por Baude

Os pais batalharam muito na vida para conseguirem construir um lar confortável aos filhos. Acreditavam que eles nunca passariam o que experimentaram. Teriam todas as oportunidades para conseguirem bons empregos e uma situação financeira confortável. Teriam a vida desejada por eles.   

Um dia, um de seus filhos se entristeceu por causa de um termino de namoro.  No início, acharam bobagem, já sobreviveram por coisas piores e lhe diziam: “Pare de palhaçada.”. Mas, em certa manhã, o rapaz foi encontrado inerte no banheiro.

Anos depois, nunca entenderam o suicídio do filho. Sempre diziam que foi uma bobagem de menino mimado e começavam a contar sobre suas histórias de pobreza, violência doméstica e de como conseguiram vencer na vida.


***
Recordo que já tive esta ideia anos atrás, mas eu a perdi. Então, escrevo-a novamente, tornando-se outro conto.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

DEPRESSÃO


´
Desde menino, diziam-lhe para sempre ser simpático e feliz. Satisfazia as expectativas dos outros com a intenção de conseguir benefícios. 

Fez uma máscara sorridente que ocultava suas fases tristes e de angústia.  Um dia, desapareceu. 

A única coisa que encontraram foi a máscara sorridente sobre a cama e uma cratera enorme no quintal de sua casa.

 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Mesmo sonho...



Está entre Romeu e Julieta, mas, não é um empecilho.
Pelo contrário, o casal o beija e os três se tornam um só.
Quando amanhece, percebe que o celular está em cima do travesseiro.

Na tela, estão os dois juntinhos, porém, incompletos, já que ele não está na foto.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

INTIMIDADE


Crédito da quadro, José Ferraz Almeida Jr. - Moça com livro




Durante muitos anos ele trabalhava numa biblioteca e tinha uma formalidade com o manejo dos livros. Observava a nova moradora da pensão que sempre esquecia a porta entreaberta. Ela lia diferentes livros na cama a cada dia e, muitas vezes, adormecia com algum entre os braços. O bibliotecário entrava com passos de anjo e, com muita delicadeza, retirava o livro dos braços dela.

domingo, 30 de outubro de 2016

CAÇADOR( conto de 2009)










Era o melhor da região. Uma vez, o desafiaram a caçar o alvo mais difícil de todos, o que está dentro do seu interior. No primeiro momento, ficou enfadado com a perseguição. Entretanto, com o decorrer do tempo, começou a gostar da busca. Quando estava preste a sobrepujar a presa, deixava-a fugir, para retornar à perseguição.


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

TÓXICOS


... Fiquei muito contente ao me mudar para um condomínio meio campestre.  As casas não eram muito coladas e havia um bosque muito bonito.

 

Depois, de me instalar, comecei a caminhar. Na rua, não havia ninguém e como era agradável andar sozinho.  Um dia, prestei a atenção em uma casa ao lado da minha. Ela parecia ser de boneca e não tinha nada fora do lugar. Um casal de idosos ficava na varanda e me cumprimentavam. Pareciam viver muito bem.

 

Sempre que caminhava, eles riam para mim e puxavam papo. Até que me convidaram para jantar e fiquei agradecido.

 

O jantar estava maravilhoso e conversamos sobre tudo. Porém, quando um se ausentava por algum motivo, o outro falava mal do que havia saído. " Ele já me traiu várias vezes.", " Ela é fria e foi péssima mãe. Meu filho mais velho se matou por causa dela...". Fiquei constrangido. A comida começou a revirar o estômago, senti-me intoxicado. Arrumei uma desculpa que precisava acordar cedo e fugi dali. Resolvi mudar o trajeto das minhas caminhadas e nunca mais passar por ali.

 

Meses se passaram e soube da notícia que foram encontrados mortos em casa. Foram envenenados por uma substância desconhecida. Será que um envenenou o outro ou foram se intoxicando durante anos até o momento fatal? Na reportagem da tevê, uma filha do casal comentou que todos da família já sabiam que era " uma tragédia anunciada".

 

De vez em quando, passo pela "casa de boneca" do casal de idosos e me pergunto por qual motivo as pessoas complicam tanto a vida e preferem viver relações tão tóxicas.

 

 

 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Onisciente

 




Eu sei quem vocês são 
Eu sei o que fazem
Vejo tudo
Não tem como fugirem de mim
Eu sou o autor
E vocês são meus
PERSONAGENS

domingo, 23 de outubro de 2016

ASPIRANTES A FAMOSOS E DESCONHECIDOS NEWS


 

Aspirante a escritor desconhecido flagra a namorada, aspirante à modelo desconhecida, com o amante aspirante a jogador de futebol desconhecido.

Suicidou-se e uma aspirante editora desconhecida publicará seus livros desconhecidos.



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Distraído...



Em seus devaneios sente alguém o beijar no canto da boca. Olha a janela e encontra a lua.


Sorri ao pensar que a vida pode ser mágica, também!

domingo, 16 de outubro de 2016

" VOCÊS ADULTOS COMPLICAM MUITO"



Um homem se senta num banco da praça. Está cansado por caminhar a tanto tempo. Um garoto aparece e senta ao seu lado.
- Oi, está por aqui há muito tempo?
- Cheguei agora, mas, seus pais não o ensinaram que não se pode falar com estranhos?
- Disseram, mas, agora, não existe mais perigo.
- Você que pensa, menino... Curioso, faz anos que ninguém conversa comigo, sinto-me invisível.
- Está morto ou vivo?
- Pergunta estranha, menino. Mas, já me fiz esta pergunta várias vezes.
- Vocês adultos complicam demais... Você faz xixi e cocô?
- Me deixa pensar,  já que me perguntou... Não faço as necessidades fisiológicas há bastante tempo.
-Estão, está morto e anda por aí sem rumo, né?
-  Eu refletindo sobre os mistérios da vida, qual era minha situação no mundo e você já matou a charada. Se não faço cocô 
e nem xixi é porque não me alimento mais. Logo, estou morto.
- Pois é, precisamos ir.
- Ir  aonde? Você precisa  voltar para seus pais.
- O pessoal lá de casa ficará bem, meu lugar é outro. Vem comigo ou prefere ficar perdido? Dê-me a mão.





sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Apesar do labirinto de turbilhão de estímulos e informações...



Escreve algumas anotações para tese de mestrado, paga as contas, envia uma mensagem parabenizando uma amiga, pesquisa sobre os lançamentos de filmes e peças que deseja assistir, vai flanando pelos sites de seus assuntos de interesse. Mas, apesar do labirinto de turbilhão de estímulos e informações, ela continua ansiosa para que o grande amor do passado a aceitasse como amiga na rede social. Não conseguia entender como aquela menina romântica persistia a viver dentro dela e a sonhar pelo amante de séculos atrás.


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

DESCULPA INCOMODAR SEU SONO...




Magritte " la magia nera"




- Oi!

- Oi! Quem é você?

- Não me reconhece? Sou eu, a gente conversa constantemente na madrugada adentro em nossos sonhos.

- Como? Está equivocado, senhor.

- Poxa, no sonho é mais simpática. Não acredito que não se recorde de nossos papos sobre livros, viagens e filmes...

- Senhor, se não parar de me importunar, chamarei a polícia!

O homem a pegou pelo braço e a mulher gritou por socorro. A polícia veio e ela deu queixa na delegacia.

 Quando foi dormir, sonhou com uma mulher igual a ela:

“ Desculpa incomodar seu sono, mas o rapaz que a abordou é um cara legal. Quando ele a viu, pela primeira vez, criou-me.  Mas, sou um ser com pensamentos próprios, não uma marionete. Gosto dele por livre espontânea vontade. Por favor, retire a queixa! Juro que conversarei  com ele e não vai mais incomodá-la!”.

A outra retirou a queixa, mas, não gostou de ter uma versão igual na cabeça de um estranho. Queria ser a única e ficou tão agitada que não conseguia mais dormir. Resolveu ligar para o homem que a incomodou em busca respostas. No início, ele ficou com medo, mas, decidiu encontra-la.

O homem lhe revelou o que dialogavam e ela se interessou pela sua réplica que vivia na mente dele. Começou a assimilar as características da outra e a media que fazia isso, essa desaparecia da cabeça do indivíduo que assustou no primeiro momento.

Com o passar do tempo, tornaram-se amantes e a outra se acoplou nela, desaparecendo na cabeça dele.

A outra não lutou por sua existência autônoma, chorou silenciosamente.


O GAROTO E EU




O garoto corre pela casa, lutando com inimigos imaginados.
Eu luto com inimigos reais.
Os inimigos do menino são gigantes poderosos que quando destruídos se desfazem em pó encantado.
Os meus são homens como eu, mulheres, crianças idosos e doentes. Não viram pó mágico, seus corpos se amontoam nos destroços.
O garoto luta mano a mano com uma espada de plástico.
Eu estou a quilômetros de distância do campo de batalha. Só aperto o botão para acionar o bombardeio.
O garoto cresce e vai para guerra defender sua pátria. Sente-se vencedor.
Eu retorno derrotado e a culpa me consome.
O garoto e eu somos um só universo, juntos e misturados. Vencedor e perdedor, mocinho e vilão.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O PERSONAGEM( miniconto escrito em 2015)





Era mais um ator que desejava sucesso na carreira. Um dia, ao abrir a porta de casa, encontrou um manuscrito empoeirado. Começou a lê-lo e se apaixonou pela história e pelo protagonista. Concluiu que aquele papel seria o divisor de águas para sua carreira.
 Foi mostrar aos seus colegas e alguns que ouviram falar da peça disseram que era maldita. Ele não ligou e se dedicou ao máximo para produzi-la. Fez de tudo para conseguir, até ir contra aos seus valores mais profundos.
 No dia da estreia, foi impecável. Atuou como nunca e o realismo que transmitia assustava as pessoas, parecia estar possuído.

Quando a peça terminou, ele era outro e todos ficaram abismados, já que não o reconheciam mais.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

NOVO MUNDO




Via tudo grandioso, inclusive, as pessoas que amava. Um dia, tropeçou e caiu em outro lugar não idealizado. Ficou surpreso que todos que estimava ficaram do seu tamanho e se tornaram outros.

Como um recém-nascido, precisou aprender a se adaptar a este novo mundo.

domingo, 9 de outubro de 2016

A VIZINHA



Nunca troquei uma palavra com ela. Mas, adorava quando ouvia aquelas músicas tranquilas que me faziam viajar.

Em muitas ocasiões, encontrava-a lendo no ônibus e procurava anotar rapidamente o título do livro. Seguia-a e consequentemente descobri um mundo novo, repleto de bons restaurantes, livrarias, cinemas,
bibliotecas e museus.

Um dia, mudou-se e nunca mais a vi. Gostaria de ter tido oportunidade de agradecê-la por me inspirar a apreciar o que existe de belo no mundo.

***


sexta-feira, 30 de setembro de 2016

MEDO DE SER FELIZ

René Magritte

Estou tão feliz que sinto um aperto no peito de que algo acontecerá! A felicidade me angustia. Quando não sou feliz não sinto medo, torno-me destemido e livre. Agora, quando ela está em mim, transformo-me num ser mesquinho, obsessivo e obcecado. Perco minha grandeza.  Pelo menos, na melancolia, encontro a serenidade e a reflexão. Sei que isto é sem sentido, não quero que me entenda. Só me abrace e me faça esquecer-se do medo de ser feliz.


Ela o abraçou e disse que ficariam juntos. Era uma feiticeira e lançou um encanto nele, com a intenção de não perceber que estavam prestes a serem enforcados.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A ONDA



La Vague (A Onda), de Camille Claudel




Vem e destrói tudo que se construiu anos. Sua irracionalidade ancestral assusta. Aparece, de repente, num dia tranquilo em que você passeia devagar a olhar as belezas muitas vezes ocultas pelo cotidiano e ela vem, engolindo-o. Não tem para onde fugir, pois se esparrama violentamente e os destroços viram armas fatais. Depois de tudo terminado, surge a calmaria. Vai embora, aparentemente, na verdade, está adormecida em algum lugar ou até dentro da gente.
Até um dia acordar... Pode demorar eras e anos, porém, sempre desperta. 
Vejam a História para perceber isso.

domingo, 18 de setembro de 2016

REFLEXO( Última revisão, por enquanto)



SEGURAVA A PEQUENA MALA COM FORÇA... 


E mesmo que não tivesse muita coisa, Laura sentia orgulho ao carregar as fotos dos pais falecidos, da tia que a criou com muita disciplina para ser tornar uma mulher de bem, os livros de pedagogia e a bíblia. Era professora e havia recebido uma proposta de emprego para ser governanta. 

Laura teve um breve arrepio, quando chegou à mansão centenária, mas, manteve a postura severa ao se apresentar aos empregados e ao seu futuro aluno, Antônio, um rapaz pálido de quatorze anos.

Laura achou-o estranho, um menino com postura de homem maduro. Os primeiros dias foram tranquilos, Antônio parecia ser muito educado. Entretanto, um dia, ele falou sobre a antiga governanta que havia se suicidado. Contou que havia boatos sobre o desespero por estar grávida. Laura não entendeu, inclusive, a malícia quando ele disse que a moça só vivia na mansão e nunca fora vista com ninguém. 

Depois, Antônio lhe deu um livro com recomendação enfática para que o lesse. Laura só lia livros da área de educação e ao pegar o aquele considerou o título estranho: A VOLTA DO PARAFUSO. Considerou o título estranho e até pesquisou sobre seu significado. Além das informações sobre a obra literária, descobriu que havia muitas adaptações da história para o cinema.

Os momentos, antes serenos, se tornaram opressores. Laura à medida que lia o livro percebia que aconteciam situações semelhantes.
O título do livro começou a ficar claro para ela. A expressão "dar uma volta no parafuso ou em parafusos" refere-se ajustar uma máquina - ou um instrumento de tortura - de modo que ela opere de forma mais rápida ou mais eficaz. Figurativamente, a frase refere-se a fazer algo mais intenso ou doloroso. Realmente, à medida que a narrativa do romance se aprofundava, Laura passava por este processo, principalmente, por se sentir impotente para salvar Antônio de algo que não sabia direito.

Tinha a impressão de que a história era um espelho. Ela e a governanta do romance eram a mesma pessoa. Antônio tornava-se cada vez mais estranho e sedutor. Tocava Laura de leve e a olhava fixamente. Questionou sobre a mansão ser assombrada, já que quando o sol mudava de posição, a luz e as sombras dos recintos produziam formas melancólicas e sugestivas. Pensou na antiga governanta e em quem a teria engravidado realmente. Perguntou aos antigos empregados que respondiam por meias palavras e se esquivavam apressados. 

 Uma vez, sentiu alguém beijá-la na alta madrugada, mas só viu um vulto na esquina do corredor. Será que aconteceu ou foi fruto da sua imaginação? Em uma tarde, flagrou uma jovem emprega a sair apressada do quarto de Antônio e ela estava meio decomposta. Quando Laura entrou no aposento, o rapaz estava a ouvir música e a torturar uma borboleta, colocou-a em um recipiente sem oxigênio e assistiu prazerosamente ao inseto agonizar. Às vezes, quando nadava na piscina, sorria-lhe e Laura incomodava-se e se refugiava nos ensinamentos da tia. 

Devorava o livro e, depois de terminá-lo, concluiu que deveria salvar Antônio, que parecia estar sendo dominado pela historia da antiga governanta. Decidiu confrontá-lo. Antônio riu dela e disse ser tudo fruto da imaginação de uma solteirona que não conhecera nada da vida. Laura foi arrumar suas coisas para ir-se. De repente, sentiu uma presença e viu um vulto de mulher na janela. Quase gritou, mas manteve a calma.

O taxi que tinha chamado já estava à espera. Dias depois, na casa da tia, viu no noticiário que a mansão pegara fogo inexplicavelmente, matando Antônio que não conseguira fugir. Ficou perplexa e triste por não poder salvar o menino. 

Quando foi ao quarto, encontrou o livro sobre a cama e a foto queimada de Antônio.


terça-feira, 13 de setembro de 2016

O DESTEMIDO


Imagem encontrada no google

Em outros tempos existia um rei benevolente com seu povo e terrível com os inimigos.  Um dia, um invasor entrou no palácio e matou o escriba que registrava os feitos do monarca. Todos ficaram surpresos e questionaram  o motivo, já que todos consideram a alteza um alvo perfeito. O assassino confessou, mas, seu depoimento nunca foi ao público:

- O rei só é um homem, quis terminar com a fonte da lenda. O escriba é que construiu o fabuloso personagem do rei, com sua narrativa atraente e o dom que tinha com as palavras. Ele não só relatava os acontecimentos, pelo contrário, transformava-o em mito.

O matador foi decapitado, enquanto o rei perdeu sua grandeza, pois, nunca encontrou um escriba à altura do morto.  




VULNERÁVEL



A princesa ficava horas à beira da janela da torre mais alta. Ouvia música e conversava com vários amigos de suas redes sociais. O dragão que guardava o castelo devorava os príncipes que tentavam salvá-la.


Entretanto, a fera não conseguia protegê-la dos sapos que faziam perfis falsos de príncipes encantadores pelas redes sociais e os quais brincavam com os sentimentos dela, tornando-a cada vez mais vulnerável.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ÍCARO




Certo saco plástico voa bem alto, mas, desce e fica preso no arame farpado. Vencido e completamente dilacerado, nem se dá conta de que repetiu um mito muito antigo. Aliás, será que reproduziu ou é o mesmo que se manifesta repetitivamente ao longo das eras?


terça-feira, 6 de setembro de 2016

CONTO-CRÔNICA-BIOGRAFIA




Eduardo, quando deu por si, descobriu que tinha uma ambiguidade complexa em seu ser. Tinha sensibilidade de artista, mas, não possuía talento. Sua vida se resumia a procurar uma forma de expressão. Esta busca foi uma travessia de vários ensaios na escrita, em fazer vídeos e a fotografar.

Atualmente, com o desenvolvimento da tecnologia, surgiram os smartphones com suas ferramentas e aplicativos que ajudavam há melhorar um pouco a foto. Eduardo passava horas a editar seus instantâneos, brincando de ser artista. Sem restrições, colocava um monte filtros de edição de imagem nelas. Não tinha noção nenhuma de equilíbrio das cores.
Com o tempo, fotografar com o celular foi a mais nova e breve obsessão de Eduardo( acumulou breves obsessões ao decorrer das estações, eu que eu diga.).

Porém, esta mania podia ser perigosa, já que havia a possibilidade de o considerarem bisbilhoteiro. Na verdade, Eduardo desejava capturar a beleza escondida no cotidiano. Sua mente se expandia para encontra-la, enquanto a câmera do telefone não acompanhava. Até ficava desaminado de não conseguir descobrir algo interessante.

Um dia, no shopping, viu uma manequim na vitrine e clicou. Depois, recortou para focar o rosto e utilizou o aplicativo que transformava a foto em desenho.

Teve uma crise de identidade, sentiu-se fingidor e não queria mostrar ser o que não era. Começou a construir um manifesto para ele, com a finalidade de se justificar.

Concluiu que era um pseudoartista e sua pseudoarte o ajudava a enxergar o mundo em vivia e a si mesmo.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

MEU LAR



- Oi, desculpa de incomodar esta hora da noite, recorda-se de mim? Estou diferente, né? Preciso de um lugar para descansar, posso ficar por aqui? Juro que vou embora rápido, só necessito repousar um pouco. Pode deixar que não virei uma pessoa má. Lembra-se àquele rapaz megalomaníaco que você conheceu, não existe mais. O que restou fui eu, seu cadáver que vaga na imensidão do mundo. Meu estômago ronca que nem um velho, pode me dar alguma coisa pra comer? Como preciso descansar, deixa-me ficar, por favor. Espera, não te conheço! Mas, esta era a casa! Merda, a pessoa que conhecia não mora mais aqui. Pensei que retornando não estaria mais perdido, entretanto, este não é mais meu lugar, também. Sou um apátrida e ruínas do que fui um dia. Não precisa chamar a polícia, estou indo. Ainda bem que me sobrou foram as recordações, aliás, a memória pode ser meu lar, depois de tantos anos.