domingo, 18 de setembro de 2016

REFLEXO( Última revisão, por enquanto)



SEGURAVA A PEQUENA MALA COM FORÇA... 


E mesmo que não tivesse muita coisa, Laura sentia orgulho ao carregar as fotos dos pais falecidos, da tia que a criou com muita disciplina para ser tornar uma mulher de bem, os livros de pedagogia e a bíblia. Era professora e havia recebido uma proposta de emprego para ser governanta. 

Laura teve um breve arrepio, quando chegou à mansão centenária, mas, manteve a postura severa ao se apresentar aos empregados e ao seu futuro aluno, Antônio, um rapaz pálido de quatorze anos.

Laura achou-o estranho, um menino com postura de homem maduro. Os primeiros dias foram tranquilos, Antônio parecia ser muito educado. Entretanto, um dia, ele falou sobre a antiga governanta que havia se suicidado. Contou que havia boatos sobre o desespero por estar grávida. Laura não entendeu, inclusive, a malícia quando ele disse que a moça só vivia na mansão e nunca fora vista com ninguém. 

Depois, Antônio lhe deu um livro com recomendação enfática para que o lesse. Laura só lia livros da área de educação e ao pegar o aquele considerou o título estranho: A VOLTA DO PARAFUSO. Considerou o título estranho e até pesquisou sobre seu significado. Além das informações sobre a obra literária, descobriu que havia muitas adaptações da história para o cinema.

Os momentos, antes serenos, se tornaram opressores. Laura à medida que lia o livro percebia que aconteciam situações semelhantes.
O título do livro começou a ficar claro para ela. A expressão "dar uma volta no parafuso ou em parafusos" refere-se ajustar uma máquina - ou um instrumento de tortura - de modo que ela opere de forma mais rápida ou mais eficaz. Figurativamente, a frase refere-se a fazer algo mais intenso ou doloroso. Realmente, à medida que a narrativa do romance se aprofundava, Laura passava por este processo, principalmente, por se sentir impotente para salvar Antônio de algo que não sabia direito.

Tinha a impressão de que a história era um espelho. Ela e a governanta do romance eram a mesma pessoa. Antônio tornava-se cada vez mais estranho e sedutor. Tocava Laura de leve e a olhava fixamente. Questionou sobre a mansão ser assombrada, já que quando o sol mudava de posição, a luz e as sombras dos recintos produziam formas melancólicas e sugestivas. Pensou na antiga governanta e em quem a teria engravidado realmente. Perguntou aos antigos empregados que respondiam por meias palavras e se esquivavam apressados. 

 Uma vez, sentiu alguém beijá-la na alta madrugada, mas só viu um vulto na esquina do corredor. Será que aconteceu ou foi fruto da sua imaginação? Em uma tarde, flagrou uma jovem emprega a sair apressada do quarto de Antônio e ela estava meio decomposta. Quando Laura entrou no aposento, o rapaz estava a ouvir música e a torturar uma borboleta, colocou-a em um recipiente sem oxigênio e assistiu prazerosamente ao inseto agonizar. Às vezes, quando nadava na piscina, sorria-lhe e Laura incomodava-se e se refugiava nos ensinamentos da tia. 

Devorava o livro e, depois de terminá-lo, concluiu que deveria salvar Antônio, que parecia estar sendo dominado pela historia da antiga governanta. Decidiu confrontá-lo. Antônio riu dela e disse ser tudo fruto da imaginação de uma solteirona que não conhecera nada da vida. Laura foi arrumar suas coisas para ir-se. De repente, sentiu uma presença e viu um vulto de mulher na janela. Quase gritou, mas manteve a calma.

O taxi que tinha chamado já estava à espera. Dias depois, na casa da tia, viu no noticiário que a mansão pegara fogo inexplicavelmente, matando Antônio que não conseguira fugir. Ficou perplexa e triste por não poder salvar o menino. 

Quando foi ao quarto, encontrou o livro sobre a cama e a foto queimada de Antônio.


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