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"Fixo
instantes súbitos que trazem em si a própria morte e outros nascem – fixo os
instantes de metamorfose e é de terrível beleza a sua sequência e
concomitância." Água Viva e Lispector , Clarice
Sou mais um na multidão ou alguém sabe meu segredo?
Tento esconder minha alegria de criança por viajar ao exterior pela primeira vez,
não quero aparentar ser bobo, tem tanta gente que já está tão acostumada como
se fosse à padaria ou ao supermercado. Este tipo de gente é
internacional, enquanto eu... Meu lado adulto-pretenso-informado aperta forte a
mão do meu lado criança. Alguém me olha, será que fui descoberto? Será que
estou um clichê? Não quero me machucar ao ficar idealizando uma viagem de um
mês e expor minha felicidade clandestina, sei lá, um indivíduo mal intencionado
pode manipulá-la para me dominar mentalmente. Estou cansado de construir
castelos de nada, só desejo curtir o momento sem pretensões. Quer saber de uma
coisa, saltarei no escuro! Se eu me foder, não tem problema. Vou me reerguer
novamente e continuar a viver. Está na hora do avião decolar, será que vou
morrer num ataque terrorista ou afogado pelo tsunami e se o avião cair? Que se
dane! Estou viajando para o exterior, um sonho tão antigo desde que me entendo
por gente. E mesmo estar num avião na classe econômica, faz meu coração
pulsar como nunca. Nunca mais senti isto desde quando era menino. Devo estar
com um sorriso de tolo no rosto, não vou mais me esconder. Podem achar que sou
um turista de primeira viagem cafona e ignorante, não me importarei mais. Estou
fruindo a emoção de viver minha aventura particular, que só tem valor
para mim. Olho para janela do vizinho( estou no meio) está de noite e sinto uma
formigamento gostoso na barriga. Estou pronto para o bem e para o mal, o
importante que estou vivendo. Que venha o desconhecido!
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