sábado, 21 de novembro de 2015

ACORDO!( conto antigo e retocado)


Imagem encontrada no google


A primeira coisa que vejo é um velho de sessenta e seis anos, o espelho fica em frente à cama. Apronto-me e vou tomar café no boteco perto de casa. Degustando meu pão requentado, uma colegial veio até mim: “ Vem girafa, estamos atrasados”. Fico atônito, ninguém me chama assim há bastante tempo. ” Minha filha, quem é você?”. “ Girafa, para de palhaçada, precisamos ir”. Pega a minha mão e me deixo levar. Entramos no colégio que freqüentei quando era jovem, há cinquenta anos. Sentado na carteira, a professora Cândida veio a mim: “ Fez o dever de matemática?”. “ Senhora, não sei que pegadinha é esta. Estou com o meu coração pela boca. Sou um senhor de sessenta e seis anos...”. “ Para de encenação. Como sempre cheio de gracinhas, mandarei um bilhete aos seus pais.”. Na sala, todos me encaram com normalidade, me sinto mal cercado de rapazes no auge do condicionamento físico. Eu era como eles. Vejo uma bolinha de papel cair na carteira: “ Girafa, hoje não tem ninguém em casa”. Reconheço estas palavras, mesmo que o tempo as torne embaçadas na memória. Olho no relógio, preciso sair desta insanidade. O sinal toca e todos se levantam para ir embora. A colegial segura no meu braço e me carrega ao seu apartamento. Será que ela me vê realmente com as minhas pelancas ou me enxerga na versão de cinquenta anos atrás? Passamos a tarde inteira fazendo amor e quando vou embora, ela está adormecida. Retorno para casa e quando me preparo para deitar, vejo um rapaz de dezesseis anos tornando-se um velho novamente.

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