domingo, 29 de novembro de 2015

O GAROTO E EU




Imagem encontrada no google


O garoto corre pela casa, lutando com inimigos imaginados.
Eu luto com inimigos reais.
Os inimigos do menino são gigantes poderosos que quando destruídos se desfazem em pó encantado.
Os meus são homens como eu, mulheres, crianças idosos e doentes. Não viram pó mágico, seus corpos se amontoam nos destroços.
O garoto luta mano a mano com uma espada de plástico.
Eu estou a quilômetros de distância do campo de batalha. Só aperto o botão para acionar o bombardeio.
O garoto cresce e vai para guerra defender sua pátria. Sente-se vencedor.
Eu retorno derrotado e a culpa me consome.

O garoto e eu somos um só universo, juntos e misturados. Vencedor e perdedor, mocinho e vilão.

sábado, 28 de novembro de 2015

SOB A NEVE( conto antigo e retocado, talvez novo conto)

Imagem encontra no blog


trabalhava no armazém dos meus pais recebo o convite de uma tia para viajar a um lugar que sempre quis conhecer/ no início  estava inseguro ela tinha fama de ser muito chata  a viagem foi um inferno me humilhava quase todos os dias  dizia que eu era um homem de mais trinta anos fracassado nunca senti tanto ódio por uma pessoa suas palavras me corroía/ mas  teve algo bom na viagem encontrei uma prima distante a bela Sofia de dezoito anos saíamos escondidos para ela me mostrar a cidade que habitava meus sonhos por muito tempo fazíamos amor na adega de seu pai de repente me senti mais vivo/ um dia nos descobriram minha tia me humilhou tanto que o ódio me subiu a cabeça a empurrei chamando-a de vagabunda/estou perdido no bosque todo o meu corpo está congelado a neve me cobre ESPERA UM MOMENTO tive a impressão de uma mão afagar o meu rosto não sei se foi de minha mãe ou de Sofia tudo se mistura em mim passado presente futuro

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

GRANDEZA INESTIMÁVEL ( Miniconto antigo e retocado)



Enquanto o homem a possuía, ela olhava fixamente a estatueta. Um dia, o senhor não quis mais seus serviços e lhe ofereceu uma grande quantia em dinheiro. A jovem disse a ele que desejava a estatueta. Satisfeito, deu-a sem pestanejar, a peça não lhe era valiosa. Mas, para ela, tinha uma grandeza inestimável.


O objeto foi feito pela sua avó que deu de presente para um político que prometeu grandes melhorias à pequena cidade, onde moravam. Todavia, ocultava suas verdades intenções com a máscara de “senhor respeitável”.


Estava com a avó quando a senhora deu a lembrança ao político. Como sentia saudade dela...


Saiu e o homem nem percebeu, estava planejando negociatas com seus assessores pelo celular.


sábado, 21 de novembro de 2015

FOME DE PRIMEIRAS VEZES



“...Aborreço-me da possibilidade
De vida eterna; o tédio
De viver sempre deve ser imenso.
Talvez o infinito seja isso...
Já o tédio de o pensar é horroroso.” Trecho do poema de Fernando Pessoa Primeiro Fausto Primeiro Tema MISTÉRIO DO MUNDO 


O peso da eternidade é quando deixamos de sentir pela primeira vez as coisas e como sinto saudade disto, tanto pelo bem e pelo mal. Tudo fica tão repetitivo que não consigo mais sentir nada. Olha que só tenho mil anos de existência e a fome de sentir pela primeira vez aumenta cada dia. Já conheci tanta coisa neste mundo que o tédio me sufoca. Tudo se repete, só mudam os atores. Preciso encontrar um jeito de morrer, mas estou amaldiçoado de ver a humanidade repetir os mesmos erros. Entretanto, ainda sinto que há ainda em mim aquela criança curiosa que acumula primeiras vezes. Só que está soterrada pelo conhecimento milenar que adquiri. Talvez, se eu conseguir me livrar de tudo, conseguirei sentir minha última primeira vez, a morte.


ACORDO!( conto antigo e retocado)


Imagem encontrada no google


A primeira coisa que vejo é um velho de sessenta e seis anos, o espelho fica em frente à cama. Apronto-me e vou tomar café no boteco perto de casa. Degustando meu pão requentado, uma colegial veio até mim: “ Vem girafa, estamos atrasados”. Fico atônito, ninguém me chama assim há bastante tempo. ” Minha filha, quem é você?”. “ Girafa, para de palhaçada, precisamos ir”. Pega a minha mão e me deixo levar. Entramos no colégio que freqüentei quando era jovem, há cinquenta anos. Sentado na carteira, a professora Cândida veio a mim: “ Fez o dever de matemática?”. “ Senhora, não sei que pegadinha é esta. Estou com o meu coração pela boca. Sou um senhor de sessenta e seis anos...”. “ Para de encenação. Como sempre cheio de gracinhas, mandarei um bilhete aos seus pais.”. Na sala, todos me encaram com normalidade, me sinto mal cercado de rapazes no auge do condicionamento físico. Eu era como eles. Vejo uma bolinha de papel cair na carteira: “ Girafa, hoje não tem ninguém em casa”. Reconheço estas palavras, mesmo que o tempo as torne embaçadas na memória. Olho no relógio, preciso sair desta insanidade. O sinal toca e todos se levantam para ir embora. A colegial segura no meu braço e me carrega ao seu apartamento. Será que ela me vê realmente com as minhas pelancas ou me enxerga na versão de cinquenta anos atrás? Passamos a tarde inteira fazendo amor e quando vou embora, ela está adormecida. Retorno para casa e quando me preparo para deitar, vejo um rapaz de dezesseis anos tornando-se um velho novamente.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

VIAJANTE DE PRIMEIRA VIAGEM


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"Fixo instantes súbitos que trazem em si a própria morte e outros nascem – fixo os instantes de metamorfose e é de terrível beleza a sua sequência e concomitância." Água Viva e Lispector , Clarice



Sou mais um na multidão ou alguém sabe  meu segredo? Tento esconder minha alegria de criança por viajar ao exterior pela primeira vez, não quero aparentar ser bobo, tem tanta gente que já está tão acostumada como se fosse à padaria ou ao supermercado.  Este tipo de gente é internacional, enquanto eu... Meu lado adulto-pretenso-informado aperta forte a mão do meu lado criança. Alguém me olha, será que fui descoberto? Será que estou um clichê? Não quero me machucar ao ficar idealizando uma viagem de um mês e expor minha felicidade clandestina, sei lá, um indivíduo mal intencionado pode manipulá-la para me dominar mentalmente. Estou cansado de construir castelos de nada, só desejo curtir o momento sem pretensões. Quer saber de uma coisa, saltarei no escuro! Se eu me foder, não tem problema. Vou me reerguer novamente e continuar a viver. Está na hora do avião decolar, será que vou morrer num ataque terrorista ou afogado pelo tsunami e se o avião cair? Que se dane! Estou viajando para o exterior, um sonho tão antigo desde que me entendo por gente. E mesmo estar num avião  na classe econômica, faz meu coração pulsar como nunca. Nunca mais senti isto desde quando era menino. Devo estar com um sorriso de tolo no rosto, não vou mais me esconder. Podem achar que sou um turista de primeira viagem cafona e ignorante, não me importarei mais. Estou fruindo  a emoção de viver minha aventura particular, que só tem valor para mim. Olho para janela do vizinho( estou no meio) está de noite e sinto uma formigamento gostoso na barriga. Estou pronto para o bem e para o mal, o importante que estou vivendo. Que venha o desconhecido!




***



domingo, 15 de novembro de 2015

Aspirante_escritor_egocentrico@google.com( outro conto inspirado em fatos reais)


Resposta:

“ Prezado Eduardo,
A editora este ano não publicará mais ficção, por isso disponibilizaremos seu material para o senhor pegar em horário comercial no endereço...

Sinceramente, apreciei seus contos, mas, tem um que particularmente me irritou um pouco. Chama-se A GRANDE MÃE, que de repente numa cidade pequena um seio gigantesco aparece e jorra leite condensado nos habitantes, os quais entram num êxtase profundo. Esta imagem da mulher-deusa que sempre se doa é um saco. Por que a mulher precisa nutrir e não consumir? Por que não escrever sobre uma Deusa-mulher-devoradora-insana que abocanha tudo que vê pela frente?  Chega dessa história de ser a mãe, a sociedade precisa de gladiadoras vorazes e enlouquecidas que só querem sentir o gozo profundo de devorar tudo e todos.

Estou me metamorfoseando em uma enorme vagina com dentes afiados. Não estou utilizando metáforas, é verdade. Meu autocontrole se esvai e meus lábios aumentam a cada segundo...”

***

Eduardo não conseguiu fugir. O planeta foi engolido por uma fenda enorme. Só restaram o vazio e as trevas. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

ACONPANHADA

Sunlights in Cafeteria de Edward Hopper 


Quando a viu sozinha, o homem pediu para se sentar. Na verdade, via-se acompanhada com suas lembranças e lhe disse que todas as cadeiras estavam ocupadas. Ele resmungou que era louca, mas nem ouviu. O papo estava muito revelador, pois, a cada diálogo um fato inédito surgia e o qual ela nem tinha se dado conta antes.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Madrugada de Verão( Ideia antiga e revisada)


imagem encontrada no google

“A principal e mais grave punição para quem cometeu uma culpa está em sentir-se culpado.”

    Não consegue dormir. Olha pela janela o céu escuro e repleto de estrelas. Percebe que uma coruja o observa. O olhar do bicho gela seu coração. Lembra-se de Marisa com rosto pálido, deitada numa maca; o médico com cara de raiva olhando para ele e a moça. Tem a impressão que a coruja manifesta a mesma fisionomia carrasca. Não deseja recordar. Marisa gostava de ficar por cima quando faziam amor, via-a soberana. Outra vez, a maca aparecia e o mesmo rosto feminino pálido. A cada segundo, a coruja se torna gigante. Fecha todas as janelas da casa. Fica só de cueca, mesmo assim estava encharcado de suor. Escuta o barulho de asa nas vidraças. Não aguenta o calor, toma banho. Água insuportavelmente quente. Escuta um barulho, vê a coruja no basculante. Sai do banheiro e deita na cama molhado. O sono vem. Adormece com o vento quente do ventilador secando-o.
Amanhece. F. vai à janela e a abre, céu está azul e infernal. Coloca uma sunga e caminha até a praia.  Quando retorna, pega a maça mais bonita na geladeira. Morde e cospe em seguida, está podre.  De repente, sente a presença da coruja.


domingo, 8 de novembro de 2015

Aspirante_escritor_egocentrico@google.com




“Não tenho fome de atenção. Só não suporto seu silêncio. Faz dois meses que enviei meu original e não diz nada. Não consigo dormir e nem comer, à espera. Por que não diz nada? Agora, quando disse desta fome de atenção, talvez seja o desejo de aceito e que alguém diga que tenho talento para ser escritor. Será que é errado eu almejar ser elogiado. Responda-me, por favor! Não aguento mais aguardar, diga qualquer coisa, se não gostou, apenas diga. Espero resposta, senão irei a sua casa hoje e ficarem plantado na porta da sua casa. Estou enlouquecido!”

A resposta:

“Eduardo, sou a esposa de V. Ele não leu sua obra, porque fugiu para Europa com minha mãe. Estou destroçada. Mas, consegui ler seu original. Desculpa a sinceridade, mas é uma bosta literalmente. Desculpa a franqueza, mas alguém precisava lhe dizer a verdade. Por exemplo, se alguém me dissesse que meu marido brocha e a vaca da minha mãe estavam tendo um caso, poderia matá-los antes de partirem. Agora, quero aproveitar a vida e foder muito. Aconselho fazer o mesmo, vi suas fotos na internet e até que bonitinho... Vamos nos encontrar para um sexo casual? Mas, por favor, não venha me mostrar seus textos chatos, esta pretensa literatura que você diz fazer não me agrada. Enfim, perdoa-me se não é a resposta que desejava, entretanto, dará temporariamente um ponto final na sua angústia, o luto é um rito muito importante para se seguir em frente. Tchau!”


Ao ler esta frase a sombra diz:


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Perfeição

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Treinava horas em seu violino para consertar alguns sons dissonantes e erros que seu professor pontuou na aula passada. Almejava ser impecável em sua técnica. De repente, quando estava a tocar deu um rápido olhar na janela e viu um pequeno macaco a observá-lo. Parecia está fascinado ao vê-lo com o violino. Emocionou-se com a cena e começou a tocar com o coração, esquecendo-se da técnica apurada. Pela primeira vez, sentiu a perfeição.



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Miniconto ao som:

Ao ler esta frase a sombra diz:
























- Não concordo com a comparação, pois mesmo que não tenha luz, estou ao redor como um fantasma.


domingo, 1 de novembro de 2015

MAIS LÚCIDO QUE NUNCA




Relembrando de alguns episódios da minha vida, fico vermelho de vergonha. Como em um dia, tinha acabado de escrever um texto e queria mostrar para meus colegas, sentindo-me O ESCRITOR. Quando lia, ninguém deu bola e fiquei chateado na época. Hoje, percebo que fui imaturo. Não preciso fazer nada para ter aprovação dos outros. Continuo a escrever mesmo que ninguém leia. Farei vários contos e romances que nunca existirão, pois não serão lidos. Serei o escritor de obras não lidas. Agora, com licença, vou a minha noite de autógrafos. O espaço está vazio e só estão as pessoas do bufê. Olham-me com pena, mas estou feliz de publicar meu livro, mesmo que eu esteja sozinho no lançamento. A noite está mágica e a lua parece sorrir para mim. Quando tudo terminar, deixarei os exemplares por aí e se uma pessoa ler, ficarei contente.  Não quero mais nada. Posso não ser um escritor, porém, escrever é minha segunda respiração e se parar, irei me tornar um morto vivo. Ouvi um garçom do bufê dizer que sou louco por ter oferecido um exemplar do meu  livro, discordo. Estou mais lúcido que nunca!

***






A FOTO

Foto tirada pelo celular



- Vá meu amor. Seja feliz!

O outro foi embora e se viu só, mas livre do peso da obsessão que sentia. Olhou a foto que tirou pelo celular de dois pássaros ( um indo embora e o outro no fio sozinho), o qual o fez ter coragem de se libertar, mesmo pagando o preço da solidão. Então, ele e o passarinho solitário no fio são o mesmo indivíduo, apesar de aparentemente diferentes. É o labirinto de espelhos da vida que prega suas peças para mostrar com a vida é absurda.