Imagem encontrada no google
“O bacilo da peste não morre nem
desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa,
espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na
papelada. E sabia, também, que viria talvez o dia em que, para desgraça e
ensinamento dos homens, a peste acordaria seus ratos e os mandaria morrer numa
cidade feliz.” A Peste, Albert Camus.
I.
Primeiro surgiram notícias
isoladas de que algumas pessoas tiveram uma doença repentina e estranha. Com o
tempo os casos foram aumentando. De repente, multidões se encontravam
estendidas no chão gemendo freneticamente, com os rostos extasiados de prazer e
gozando até a morte.
Os que escapavam fugiam
para regiões desabitadas, e formularam regras rígidas da moral, bons costumes e
religiosas para sobreviver. Achavam que isto poderia aumentar a imunidade e
dificultar a disseminação do vírus ou bactéria. Não adiantou, ao longe se ouvia
milhões de pessoas tendo múltiplos orgasmos. Os berros eram tão intensos, que
os animais ficavam escondidos. Sacerdotes e juízes pregavam que a causa do mal
da sociedade era o desejo carnal. Qualquer manifestação sexual representava a pena
de morte. Existiam fogueiras de corpos em cada esquina. Todos se vestiam com
armaduras, para que a doença não penetrasse na pele. Orações em todas as
partes. O cheiro do medo impregnava o ambiente.
II.
Dia nublado. Aparentemente a
cidade estava tranquila. Os transeuntes voltados para si mesmos.
Ele e ela andam pela rua,
perdidos em suas lembranças. Esbarram-se e, mesmo com as armaduras, seus
corpos tremem. Sentem pavor da peste e se distanciam, já que são casados com
outras pessoas. Mas, uma esperança os acalenta. E se, por um milagre, não fossem
contagiados? Aproximam-se e fogem para
um lugar mais ermo. Os amantes se despem e transam na busca do prazer proibido.
Minutos depois, cumprimentam-se perplexos por não estarem contaminados pelo
gozo doentio.
Em outras partes do mundo, no
mesmo dia, os casos foram florescendo.
Um rapaz deitado no campo,
olhando as nuvens, masturba-se e suando percebe que está bem.
Duas amigas que
brincando, brincando, desvendam-se e ficam contentes por estarem sadias.
O despertar do desejo de um
casal idoso numa manha ensolarada.
Um beijo inesperado de dois rapazes que viviam
brigando...
III.
A cura se espalhara, assim
como a praga. Ninguém entendeu o que acontecera. A alegria voltou às ruas. As
armaduras foram largadas .
Como sempre, alguém tentava
explicar. Mas, para que entender?
Só sei que tudo voltou ao
normal. Vamos aproveitar a cura, por enquanto!
Se alguém achou a narrativa parecida com outros enredos, deve lembrar
que os acontecimentos sempre se repetem ao longo da história. As piores pestes são a ignorância, a intolerância e o
ódio e seus bacilos estão adormecidos em nosso inconsciente, esperando o
momento certo de despertarem. Por isso, precisa-se nunca esquecer e nos manter
atentos para não reproduzirmos os mesmos erros.
2 comentários:
Muito interessante, não me remeteu a texto algum, mas a um filme sobre pragas.
Te envio uma mensagem sobre.
Acho que esta turma deve ter descoberto o sentimento, sem ele o orgasmo não é tão bom nem belo!
Uma boa história Dudu!
Postar um comentário