quinta-feira, 9 de julho de 2015

SOBREVIVENTE




A madrugada avança pela janela, Helena está à espera do filho. Ao mesmo tempo em que se angustia com a falta de notícias, pensa que se ele não existisse mais teria paz. De repente, lembra-se que no ônibus um homem lhe olhou com desejo e se sentiu mulher depois de muitos anos de só atuar como mãe. Olha-se ao espelho e passa batom, porém fica com medo. Pois, tem a impressão de estar prestes a saltar no escuro. Não sabe como viverá sem ninguém para cuidar. Ser mãe tornou-se sua identidade soberana que expulsou todas as outras. Helena questiona: “Quem vem antes, a mulher ou a mãe?” Olha para o telefone, deseja tanto que toque. Precisa saber como o filho está. Imagina-o morto e sente dor. O telefone toca, Helena atende apreensiva e ouve a voz do filho. Ele diz que precisa sumir por uns tempos e que se pudesse mandaria notícias.  Desliga rapidamente e Helena olha pela janela que a madrugada densa está indo embora, dando lugar ao dia; os pássaros começam a cantar e o trânsito mais denso. Helena toma banho para ir trabalhar. Sai de casa na hora habitual e se junta com as colegas de trabalho. É uma sobrevivente. 

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