A madrugada avança pela janela, Helena está à espera do filho.
Ao mesmo tempo em que se angustia com a falta de notícias, pensa que se ele não
existisse mais teria paz. De repente, lembra-se que no ônibus um homem lhe
olhou com desejo e se sentiu mulher depois de muitos anos de só atuar como mãe.
Olha-se ao espelho e passa batom, porém fica com medo. Pois, tem a impressão de
estar prestes a saltar no escuro. Não sabe como viverá sem ninguém para cuidar.
Ser mãe tornou-se sua identidade soberana que expulsou todas as outras. Helena
questiona: “Quem vem antes, a mulher ou a mãe?” Olha para o telefone, deseja
tanto que toque. Precisa saber como o filho está. Imagina-o morto e sente dor.
O telefone toca, Helena atende apreensiva e ouve a voz do filho. Ele diz que
precisa sumir por uns tempos e que se pudesse mandaria notícias. Desliga rapidamente e Helena olha pela janela
que a madrugada densa está indo embora, dando lugar ao dia; os pássaros começam
a cantar e o trânsito mais denso. Helena toma banho para ir trabalhar. Sai de
casa na hora habitual e se junta com as colegas de trabalho. É uma sobrevivente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário