segunda-feira, 27 de outubro de 2014

QUANDO EDUARDO EDUARDALIZA




























"Se me apetece rir de um louco, não preciso ir procurar muito longe; rio de mim mesmo."Autor - Sêneca







I
Eduardo voltou da Nova York mítica direto para o ônibus barulhento e sujo. Quer tanto conhecer a cidade que tudo funciona e é um paraíso. Tanto que nem se importa de viajar ilegalmente para lá, podendo ser deportado num piscar de olhos. Tadinho de Eduardo...


II
Outro dia, no trabalho, Eduardo imagina estar num café em Paris, lendo um livro hermético e profundo e fazendo pose de escritor -pensador. Sempre quis viajar para França, apesar de não ter interesse em aprender francês e nem juntar dinheiro com a finalidade de viajar. Na verdade, Eduardo prefere sonhar com a Paris mítica- glamorosa, fantasiando que chegando lá, todos o acharão com muita potencialidade artística, contratando até tradutores para decifrarem suas obras complexas. Eduardo é assim, mas ainda bem que a realidade o chama, quando lhe pede para desarquivar um documento. Eduardo trabalha num arquivo. Ele é, ao mesmo tempo,  água e terra.

 III
Eduardo acredita que os políticos precisam ser belos, para que o resto do mundo admire o país, como sendo o lugar de pessoas bonitas. Inclusive, crê que as pessoas lindas são mais bem resolvidas consigo mesmas, logo, serão mais éticas e menos corruptas. Eduardo é admirador da beleza e nem percebe que ela pode ser um abismo.
Pobre Eduardo...

IV
Eduardo tem pensamentos contraditórios, de repente imagina que é um voluntário que vai para África ajudar os necessitados. Agora, o elegante é ser politicamente correto e ser despido de desejos consumidores. Viajar para Europa e os E.U.A já saíram de moda. Entretanto, Eduardo fica na superfície do sonho. Não pensa que se sujará ou correrá risco de vida, pelo contrário, em seus devaneios, sempre está impecável. Realmente, Eduardo tem cabeça de rio caudaloso repleto de criaturas quiméricas.

V
Ninguém aguenta a loucura de Eduardo, muitos acham que ele dissimula para fugir da realidade e todos ficarem com pena dele. Eduardo não entende a agressividade das pessoas, tranca-se no armário, onde luta contra a rainha-mexilhão-devoradora. Sua espada afiada é a única arma que consegue vencê-la e salvar o reino de cristal azul intergaláctico. Eduardo tende a ser mais água do que terra.


VI
A família resolveu internar Eduardo numa clínica. Eduardo achou o lugar lindo, principalmente o jardim. Começou a imaginar que era um castelo só seu, os funcionários e os pacientes eram todos empregados seus. Eduardo foi feliz para sempre...




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