domingo, 17 de junho de 2012

conto antigo




NINGUÉM!

Calor de quarenta graus. Ele bebe água calmamente. Tem o hábito de estar sempre de camisa, bermuda e sandálias: 

“Pai, vou te vingar. O filho da puta do filho do seu chefe não vai ficar impune por roubar seu projeto. Você sempre me disse que me faltava interesse e paixão pelas coisas. Desde a tenra idade tinha uma natureza apática. Agora, a raiva me move.

O que fico mais revoltado é que a gente estava fazendo as pazes, depois de muitos anos sem nos falar. Estava no meu “apertamento”, quando escutei alguém bater na porta. Era você, pai, eu fiquei surpreso e demorei pra lhe convidar a entrar. No início a gente ficou travado, mas, depois, conversamos por muito tempo e zeramos nossas diferenças. 

Uma semana depois, escuto o telefone tocar. Estou cagando, ainda bem que estava com o telefone no colo, havia conversado com um colega do tempo da faculdade, cagando também. Ao atender, a primeira coisa que escutei: 

– Filho, seu pai sofreu do coração e não conseguiu resistir, morreu.
 Não pude acreditar, disse rapidamente à minha mãe que ia ao hospital e fiquei chorando e cagando por algum tempo. 

Depois do enterro, acompanhei a minha mãe até a sua casa. Ela me revelou que você começou a piorar da saúde, quando o Fred, o filho do chefe, roubou o projeto que estava fazendo e ele ficou com todos os louros da vitória.  Perguntei para a minha mãe o que iria fazer agora. Ela disse que a minha irmã a convidou, para morar com ela no Sul. Com o passar do tempo, convenci a mãe a ficar com a mana. Livre, eu poderia agir contra o desgraçado que o prejudicou. 

Começo a planejar,  porém não conseguo concretizar nenhum plano interessante. Pai, sempre fui muito burrinho. Tentei ler alguns livros de suspense, mas nunca gostei de ler esse tipo gênero literário, minutos depois dormia no sofá. 

Compro uma arma.  Fico observando sua rotina, ele sempre sai do prédio em que trabalha para almoçar num chique restaurante japonês ao lado. Me aproximo bem perto dele e atiro. Corro. Não sei para onde vou? Fico como antes, perdido. Sei que isso é clichê, mas sou O Rei dos Clichês.

Acho que as sirenes dos carros da polícia estão se aproximando. Começo a recordar de quando era criança, você e a mãe me levavam junto com a mana pra a casa de praia nas férias. Dos seus conselhos, pai, para estudar e ser alguém na vida (infelizmente o desapontei, não sou ninguém). 

Os rostos, prédios, árvores e ruas começam a girar e a se misturar, ficando tudo branco na minha cabeça, como a porra  do Disco de Newton, que a gente aprende na época da escola. Pai, não sei o que vai acontecer comigo, mas estou aliviado por vingá-lo.”

***
Calor de quarenta graus. Homem mata um executivo, os policiais conseguiram prendê-lo. Um repórter pergunta a ele quem é. Ele responde:


 – Ninguém. 



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