EXPLOSÃO
– Doutor, a vida é uma explosão. Os meus ouvidos doem. Eu até ouço o estrondo das sementes rompendo a terra e emergindo na superfície. Não existe calmaria, o bombardeio está em toda parte. Até os pensamentos fazem barulho e o próprio silêncio. Por isso, procuro mergulhar num espaço vazio para que os meus ouvidos descansem. Eles estão doendo muito. Quero paz, entende? Quero fugir do turbilhão de sons que me invade todos os dias. A violência é inerente a todos os seres vivos, mas eu quero viver num mundo como os desenhos animados que assistia quando criança, em que todos os bichos do bosque eram amiguinhos. Por que a realidade não pode ser assim? Até o nascimento é um ato violente, rompendo entranhas maternas e cascas de ovos. Não consigo me acostumar com isso, doutor. Queria que todos nós fôssemos amiguinhos de mãos dadas correndo pelos campos verdejantes. Por que não podemos ser assim, doutor. Você me ouve? Está tão inerte... A arma que carrego é de brinquedo. Não fica preocupado, é que eu queria matar saudade dos tempos de moleque, quando brincava de bang bang com meus colegas da escola e da rua.
2 comentários:
adorei este!
Muito bem engendrado. parabéns Dudu!
Dudu, mandei este teu conto para um amigo italiano que estava exatamente me falando sobre sua dificuldade com o barulho e a necessidade de silêncio. Acho que ele vai gostar.
Vou mandar um e-mail pra vc. Tenta ler o texto e veja como tudo está sincronizado.
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