domingo, 2 de fevereiro de 2014

ERASMO & LÚCIA ( conto antigo)

Imagem encontrada no google

Corriam pela floresta. Aproveitaram que a mãe estava entretida costurando. Lúcia sempre foi mais esperta que Erasmo. Gostava do perigo, o seu corpo vibrava de prazer.  Quando fugiam, obrigava o irmão pegar uma machadinha. Caminhavam atentamente. O medo de Erasmo e a excitação de Lucia fundiam-se e transformavam o ambiente sufocante e sombrio.

Escondida via o irmão no chão e seu rosto pisado pela grotesca galocha do pai. O homem surrava Erasmo por horas. Apesar de dissimular deboche, por dentro, a menina chorava.

   Na floresta escutavam sussurros e vultos, mas nunca conseguiam ver nada. Um dia, viram um monstro perseguí-los ferozmente. A escuridão produzida pelas imponentes e antigas árvores fez os olhos da besta reluzir.Lucia grita: – Mata ele!!! Mata ele!!! Mata ele!!!   

   Desesperado, Erasmo avançou contra a besta com a machadinha, uma força descomunal se apossou dele, quando viu de repente a imagem do pai. O sangue esparramou por seu rosto e roupa, descontrolado, dilacerou o corpo inerte do monstro. A irmã: – Chega, ele já morreu. Vamos para casa.

    Entraram em casa escondidos da mãe, que estava entretida com seus afazeres. Nem percebeu que os filhos estavam presentes. Lúcia deu banho no irmão: – Foi um bom irmão mais velho.

     Hora do almoço, a mãe ficou surpreendida:
– Vocês estão aqui. O pai de vocês foi procurá-los bastante brabo. Não gosta que vão à floresta, é um lugar muito perigoso.

    Erasmo teve um leve tremor, olhou para Lúcia que comia tranqüilamente. O pai nunca mais voltou para casa. Os vizinhos fizeram uma busca na floresta sem resultado. Surgiram boatos que talvez tivesse fugido com uma jovem camponesa e que talvez fosse devorado por lobos. A mãe ora chorava ora o amaldiçoava por tê-la abandonado.

    O menino tentava conversar com Lúcia, que desconversava:
 – Vamos jogar pedrinhas no rio. O dia está tão bonito.


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