Não sou autor do desenho
Sempre tive a curiosidade de saber, como os escritores constroem suas histórias. Deitado na minha cama, olhava para o teto do quarto. Às vezes, meus pais ficavam preocupados, quando me viam quieto no quarto por muito tempo. Um dia, quando estava quase dormindo, o esboço de uma princesa apareceu de repente. Era de madrugada. Sua aparência era formada por rabiscos indefinidos e em preto e branco. Fiquei surpreso com a sua aparição:
– Quem é você?
–Sou um esboço de uma princesa.
– Você é tão bonita, de onde você vem?
– Venho do Reino dos Esboços e dos Rascunhos. Quer conhecê-lo?
– Desejo sim.
Ela me levou ao mundo que havia um mar de figuras inacabadas e palavras rasuradas; as folhas das árvores eram palavras soltas e fragmentos de desenhos; o sol e a lua, um do lado do outro, eram apenas rabiscos sombreados. Apesar deste mundo fosse sem cor, tudo era vibrante na essência.
– Desenhistas, escritores e pintores visitam o Reino dos Esboços– disse a princesa esboço.
– Posso visitar este lugar, a hora que eu quiser?
– Claro que sim, esse lugar é livre.
– Você já se viu pronta? Se é linda como inacabada, imagina pronta.
– Não quero ser acabada. Gosto viver aqui, onde as idéias se originam. Aqui tudo se modifica.
– Falando assim, queria ser esboço também. Bem, já está na hora de regressar. Amanhã, tenho aula cedo.
– Quando quiser voltar, é só me chamar.
Com o passar do tempo, meus pais não entendiam a minha razão de colar um monte de rabiscos e textos rasurados nas paredes do meu quarto. Nunca disse nada a ninguém, que os meus verdadeiros tesouros, eram os rascunhos e os esboços que faço. São manifestações primeiras das minhas idéias.
Até adulto, deixo-me levar pela Princesa esboço.
*Escrito em 2005
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