segunda-feira, 20 de julho de 2009



Cândido Portinari (1903-1962)

Doutor,

vieram homens fardados dizendo que a revolução estava consolidada e o novo governo requisitava a minha pequena terra. Só sei, doutor, que tive que ir embora com a minha família, senão seria preso ou morto. Tudo foi inusitado; perder tudo e vagar na estrada. Quando encontrava alguém, comentava-se sobre esta revolução; ninguém sabia explicar direito o que estava acontecendo. A única razão que tínhamos é que a novo governo desapropriou todo mundo em nome da tal revolução. Cartazes enormes apareciam e neles estavam escritos: “A NOVA PÁTRIA”. Doutor, pode me explicar o que é a nova pátria? E a velha, como era? Antes disto tudo, vivíamos a nossa rotina que chegava a ser tediosa; mas, agora, sinto falta. Meu avô disse que a gente só valoriza o que perde. Ele estava e está certíssimo. De manhã íamos para lida, de noitinha ouvíamos música e jogávamos dominó. Eu gostava da minha vida antiga. Doutor, desculpa, mas quero que a pátria vá para o quinto dos infernos. Eu e minha família estamos cansados de tanto caminhar; vimos muita gente morrer por causa da exaustão, fome e sede. Sinto-me um peixe fora d´água, doutor. Por isso, quero que me explique o porquê de me expulsarem da minha terrinha.

2 comentários:

Alejandro Ramírez Giraldo disse...

¡Terrible!

Pero hermoso escrito cargado de un gran juego simbólico. Ese es el papel de la literatura: reflexionar sobre este mundo caótico en que vivimos.

Angela disse...

Concordo com o Alejandro Ramirez!
E ele deve saber bem sobre o que vc fala.