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"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."Autor - Proust , Marcel
"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."Autor - Proust , Marcel
Antônio
brincava no quintal. Ele morava num lugar, que antes era uma senzala. Sua avó
contava histórias dos tempos de escravos e de como eles sofriam nas mãos dos
senhores. Não muito longe dali, havia a Casa Grande que já estava em ruínas.
Um
dia, teve curiosidade de entrar casa “mal assombrada”.
Subiu uma escada velha, que rangia e teve medo de desabar junto com ela. Entrou
no primeiro quarto que viu. Lá, havia uma cama antiga toda comida pelos cupins
e sem colchão. Antônio, com medo, decidiu ir embora. Quando estava saindo do quarto,
escutou uma vós de menino: – Espere negrinho!
Antônio assustado viu um menino com uma
roupa esquisita. Tinha os cabelos cacheados e uma olhar desafiador. Antônio
perguntou: – Quem é você menino? Nunca te vi mais gordo.
O outro disse agressivamente: – Negrinho
abusado!
Antônio
ficou furioso: – Você tá cheio de marra. Vou embora!!
–
Fica onde está!
–
Quer me bater, vem logo. Vou dar uma lição.
O menino de roupa esquisita pegou um chicote
pequeno e correu para cima de Antônio, mas o chicote atravessou o corpo de
Antônio sem causar nenhum arranhão.
–
Bem feito! Quem manda ser metido, fantasminha.
–
Vou falar com meu pai: O Conde das Serras Verdes.
–
Espera aí, já ouvi falar nele. Minha avó falou que ele era um senhor muito mau.
–
Ele não é malvado. É um homem forte.
–
Mas, ele viveu há mais de cem anos atrás.
–
Como assim, estamos em 1826.
–
Não seu idiota, estamos no século 21.
– Então, você não é um escravo?
–
Não, sou livre. A princesa Isabel assinou a Lei Áurea e libertou todos os
escravos negros. Você não sabia disso?
–
Não.
–
Qual é seu nome?
–
Justino.
– É um fantasma. Não pode estar vivo.
–
Claro que não, vou chamar meu pai!
A casa continuou silenciosa. Ele percebeu
que o outro estava com razão. Depois da
briga, ficaram conversando.
Com o passar do tempo, começaram a trocar informações sobre suas respectivas épocas. Antônio mostrou o celular,
internet e o videogame. Já, o Justino mostrou seus livros prediletos e brinquedos
antigos.
Antônio
disse a Justino que os livros de sua época tinham uma linguagem mito difícil.
Justino argumentava achar que a Internet transmitia informações com muita
rapidez e ao mesmo tempo. Ele ficava com a cabeça embaralhada. Começaram a
ficar amigos. Trocavam ideias e brincavam bastante.
O
tempo passou e Antônio teve que viver a vida adulta. Casou e teve três
filhos. Entretanto, sempre fazia uma
visita ao seu amigo e contava sobre sua mulher, filhos e depois os netos.
Justino achava graça de ver o amigo crescer até ficar com os cabelos brancos.
Um dia, Antônio nunca mais voltou.
Justino
conheceu outros colegas que sempre o fizeram pensar que o mundo está em
constante mudança. Muitas vezes, tinha medo de quando a vida humana acabasse,
ficaria sozinho no mundo.
Quando
aconteceu, vieram outros seres e Justino aprendeu muito com eles e ensinou sobre
os seres humanos extintos. Sempre revivia a lembrança de quando encontrou Antônio,
pela primeira vez.
Sentia
uma nova sensação ao conta-la, como se sempre encontrasse algo novo que lhe
passasse despercebido.
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