sábado, 3 de maio de 2014

ANTÔNIO E JUSTINO( conto antigo e reformulado)

Imagem encontrada do google

"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."Autor - Proust , Marcel


Antônio brincava no quintal. Ele morava num lugar, que antes era uma senzala. Sua avó contava histórias dos tempos de escravos e de como eles sofriam nas mãos dos senhores. Não muito longe dali, havia a Casa Grande que já estava em ruínas.
Um dia, teve curiosidade de entrar casa “mal assombrada”. Subiu uma escada velha, que rangia e teve medo de desabar junto com ela. Entrou no primeiro quarto que viu. Lá, havia uma cama antiga toda comida pelos cupins e sem colchão. Antônio, com medo, decidiu ir embora. Quando estava saindo do quarto, escutou uma vós de menino: – Espere negrinho!
   Antônio assustado viu um menino com uma roupa esquisita. Tinha os cabelos cacheados e uma olhar desafiador. Antônio perguntou: – Quem é você menino? Nunca te vi mais gordo.
  O outro disse agressivamente: – Negrinho abusado!
Antônio ficou furioso: – Você tá cheio de marra. Vou embora!!
– Fica onde está!
– Quer me bater, vem logo. Vou dar uma lição.
   O menino de roupa esquisita pegou um chicote pequeno e correu para cima de Antônio, mas o chicote atravessou o corpo de Antônio sem causar nenhum arranhão.
– Bem feito! Quem manda ser metido, fantasminha.
– Vou falar com meu pai: O Conde das Serras Verdes.
– Espera aí, já ouvi falar nele. Minha avó falou que ele era um senhor muito mau.
– Ele não é malvado. É um homem forte.
– Mas, ele viveu há mais de cem anos atrás.
– Como assim, estamos em 1826.
– Não seu idiota, estamos no século 21.
  – Então, você não é um escravo?
– Não, sou livre. A princesa Isabel assinou a Lei Áurea e libertou todos os escravos negros. Você não sabia disso?
– Não.
– Qual é seu nome?
– Justino.
–  É um fantasma. Não pode estar vivo.
– Claro que não, vou chamar meu pai!
   A casa continuou silenciosa. Ele percebeu que o outro estava com razão.  Depois da briga, ficaram conversando.
    Com o passar do tempo, começaram a trocar informações sobre suas respectivas épocas. Antônio mostrou o celular, internet e o videogame. Já, o Justino mostrou seus livros prediletos e brinquedos antigos.
Antônio disse a Justino que os livros de sua época tinham uma linguagem mito difícil. Justino argumentava achar que a Internet transmitia informações com muita rapidez e ao mesmo tempo. Ele ficava com a cabeça embaralhada. Começaram a ficar amigos. Trocavam ideias e brincavam bastante.
O tempo passou e Antônio teve que viver a vida adulta. Casou e teve três filhos.  Entretanto, sempre fazia uma visita ao seu amigo e contava sobre sua mulher, filhos e depois os netos. Justino achava graça de ver o amigo crescer até ficar com os cabelos brancos. Um dia, Antônio nunca mais voltou.
Justino conheceu outros colegas que sempre o fizeram pensar que o mundo está em constante mudança. Muitas vezes, tinha medo de quando a vida humana acabasse, ficaria sozinho no mundo.


Quando aconteceu, vieram outros seres e Justino aprendeu muito com eles e ensinou sobre os seres humanos extintos. Sempre revivia a lembrança de quando encontrou Antônio, pela primeira vez. 
Sentia uma nova sensação ao conta-la, como se sempre encontrasse algo novo que lhe passasse despercebido.

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