sexta-feira, 30 de setembro de 2016

MEDO DE SER FELIZ

René Magritte

Estou tão feliz que sinto um aperto no peito de que algo acontecerá! A felicidade me angustia. Quando não sou feliz não sinto medo, torno-me destemido e livre. Agora, quando ela está em mim, transformo-me num ser mesquinho, obsessivo e obcecado. Perco minha grandeza.  Pelo menos, na melancolia, encontro a serenidade e a reflexão. Sei que isto é sem sentido, não quero que me entenda. Só me abrace e me faça esquecer-se do medo de ser feliz.


Ela o abraçou e disse que ficariam juntos. Era uma feiticeira e lançou um encanto nele, com a intenção de não perceber que estavam prestes a serem enforcados.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A ONDA



La Vague (A Onda), de Camille Claudel




Vem e destrói tudo que se construiu anos. Sua irracionalidade ancestral assusta. Aparece, de repente, num dia tranquilo em que você passeia devagar a olhar as belezas muitas vezes ocultas pelo cotidiano e ela vem, engolindo-o. Não tem para onde fugir, pois se esparrama violentamente e os destroços viram armas fatais. Depois de tudo terminado, surge a calmaria. Vai embora, aparentemente, na verdade, está adormecida em algum lugar ou até dentro da gente.
Até um dia acordar... Pode demorar eras e anos, porém, sempre desperta. 
Vejam a História para perceber isso.

domingo, 18 de setembro de 2016

REFLEXO( Última revisão, por enquanto)



SEGURAVA A PEQUENA MALA COM FORÇA... 


E mesmo que não tivesse muita coisa, Laura sentia orgulho ao carregar as fotos dos pais falecidos, da tia que a criou com muita disciplina para ser tornar uma mulher de bem, os livros de pedagogia e a bíblia. Era professora e havia recebido uma proposta de emprego para ser governanta. 

Laura teve um breve arrepio, quando chegou à mansão centenária, mas, manteve a postura severa ao se apresentar aos empregados e ao seu futuro aluno, Antônio, um rapaz pálido de quatorze anos.

Laura achou-o estranho, um menino com postura de homem maduro. Os primeiros dias foram tranquilos, Antônio parecia ser muito educado. Entretanto, um dia, ele falou sobre a antiga governanta que havia se suicidado. Contou que havia boatos sobre o desespero por estar grávida. Laura não entendeu, inclusive, a malícia quando ele disse que a moça só vivia na mansão e nunca fora vista com ninguém. 

Depois, Antônio lhe deu um livro com recomendação enfática para que o lesse. Laura só lia livros da área de educação e ao pegar o aquele considerou o título estranho: A VOLTA DO PARAFUSO. Considerou o título estranho e até pesquisou sobre seu significado. Além das informações sobre a obra literária, descobriu que havia muitas adaptações da história para o cinema.

Os momentos, antes serenos, se tornaram opressores. Laura à medida que lia o livro percebia que aconteciam situações semelhantes.
O título do livro começou a ficar claro para ela. A expressão "dar uma volta no parafuso ou em parafusos" refere-se ajustar uma máquina - ou um instrumento de tortura - de modo que ela opere de forma mais rápida ou mais eficaz. Figurativamente, a frase refere-se a fazer algo mais intenso ou doloroso. Realmente, à medida que a narrativa do romance se aprofundava, Laura passava por este processo, principalmente, por se sentir impotente para salvar Antônio de algo que não sabia direito.

Tinha a impressão de que a história era um espelho. Ela e a governanta do romance eram a mesma pessoa. Antônio tornava-se cada vez mais estranho e sedutor. Tocava Laura de leve e a olhava fixamente. Questionou sobre a mansão ser assombrada, já que quando o sol mudava de posição, a luz e as sombras dos recintos produziam formas melancólicas e sugestivas. Pensou na antiga governanta e em quem a teria engravidado realmente. Perguntou aos antigos empregados que respondiam por meias palavras e se esquivavam apressados. 

 Uma vez, sentiu alguém beijá-la na alta madrugada, mas só viu um vulto na esquina do corredor. Será que aconteceu ou foi fruto da sua imaginação? Em uma tarde, flagrou uma jovem emprega a sair apressada do quarto de Antônio e ela estava meio decomposta. Quando Laura entrou no aposento, o rapaz estava a ouvir música e a torturar uma borboleta, colocou-a em um recipiente sem oxigênio e assistiu prazerosamente ao inseto agonizar. Às vezes, quando nadava na piscina, sorria-lhe e Laura incomodava-se e se refugiava nos ensinamentos da tia. 

Devorava o livro e, depois de terminá-lo, concluiu que deveria salvar Antônio, que parecia estar sendo dominado pela historia da antiga governanta. Decidiu confrontá-lo. Antônio riu dela e disse ser tudo fruto da imaginação de uma solteirona que não conhecera nada da vida. Laura foi arrumar suas coisas para ir-se. De repente, sentiu uma presença e viu um vulto de mulher na janela. Quase gritou, mas manteve a calma.

O taxi que tinha chamado já estava à espera. Dias depois, na casa da tia, viu no noticiário que a mansão pegara fogo inexplicavelmente, matando Antônio que não conseguira fugir. Ficou perplexa e triste por não poder salvar o menino. 

Quando foi ao quarto, encontrou o livro sobre a cama e a foto queimada de Antônio.


terça-feira, 13 de setembro de 2016

O DESTEMIDO


Imagem encontrada no google

Em outros tempos existia um rei benevolente com seu povo e terrível com os inimigos.  Um dia, um invasor entrou no palácio e matou o escriba que registrava os feitos do monarca. Todos ficaram surpresos e questionaram  o motivo, já que todos consideram a alteza um alvo perfeito. O assassino confessou, mas, seu depoimento nunca foi ao público:

- O rei só é um homem, quis terminar com a fonte da lenda. O escriba é que construiu o fabuloso personagem do rei, com sua narrativa atraente e o dom que tinha com as palavras. Ele não só relatava os acontecimentos, pelo contrário, transformava-o em mito.

O matador foi decapitado, enquanto o rei perdeu sua grandeza, pois, nunca encontrou um escriba à altura do morto.  




VULNERÁVEL



A princesa ficava horas à beira da janela da torre mais alta. Ouvia música e conversava com vários amigos de suas redes sociais. O dragão que guardava o castelo devorava os príncipes que tentavam salvá-la.


Entretanto, a fera não conseguia protegê-la dos sapos que faziam perfis falsos de príncipes encantadores pelas redes sociais e os quais brincavam com os sentimentos dela, tornando-a cada vez mais vulnerável.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ÍCARO




Certo saco plástico voa bem alto, mas, desce e fica preso no arame farpado. Vencido e completamente dilacerado, nem se dá conta de que repetiu um mito muito antigo. Aliás, será que reproduziu ou é o mesmo que se manifesta repetitivamente ao longo das eras?


terça-feira, 6 de setembro de 2016

CONTO-CRÔNICA-BIOGRAFIA




Eduardo, quando deu por si, descobriu que tinha uma ambiguidade complexa em seu ser. Tinha sensibilidade de artista, mas, não possuía talento. Sua vida se resumia a procurar uma forma de expressão. Esta busca foi uma travessia de vários ensaios na escrita, em fazer vídeos e a fotografar.

Atualmente, com o desenvolvimento da tecnologia, surgiram os smartphones com suas ferramentas e aplicativos que ajudavam há melhorar um pouco a foto. Eduardo passava horas a editar seus instantâneos, brincando de ser artista. Sem restrições, colocava um monte filtros de edição de imagem nelas. Não tinha noção nenhuma de equilíbrio das cores.
Com o tempo, fotografar com o celular foi a mais nova e breve obsessão de Eduardo( acumulou breves obsessões ao decorrer das estações, eu que eu diga.).

Porém, esta mania podia ser perigosa, já que havia a possibilidade de o considerarem bisbilhoteiro. Na verdade, Eduardo desejava capturar a beleza escondida no cotidiano. Sua mente se expandia para encontra-la, enquanto a câmera do telefone não acompanhava. Até ficava desaminado de não conseguir descobrir algo interessante.

Um dia, no shopping, viu uma manequim na vitrine e clicou. Depois, recortou para focar o rosto e utilizou o aplicativo que transformava a foto em desenho.

Teve uma crise de identidade, sentiu-se fingidor e não queria mostrar ser o que não era. Começou a construir um manifesto para ele, com a finalidade de se justificar.

Concluiu que era um pseudoartista e sua pseudoarte o ajudava a enxergar o mundo em vivia e a si mesmo.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

MEU LAR



- Oi, desculpa de incomodar esta hora da noite, recorda-se de mim? Estou diferente, né? Preciso de um lugar para descansar, posso ficar por aqui? Juro que vou embora rápido, só necessito repousar um pouco. Pode deixar que não virei uma pessoa má. Lembra-se àquele rapaz megalomaníaco que você conheceu, não existe mais. O que restou fui eu, seu cadáver que vaga na imensidão do mundo. Meu estômago ronca que nem um velho, pode me dar alguma coisa pra comer? Como preciso descansar, deixa-me ficar, por favor. Espera, não te conheço! Mas, esta era a casa! Merda, a pessoa que conhecia não mora mais aqui. Pensei que retornando não estaria mais perdido, entretanto, este não é mais meu lugar, também. Sou um apátrida e ruínas do que fui um dia. Não precisa chamar a polícia, estou indo. Ainda bem que me sobrou foram as recordações, aliás, a memória pode ser meu lar, depois de tantos anos.

domingo, 4 de setembro de 2016

TRAIDOR



Não entendia o porquê sua sombra  lhe dizia isso. Nunca traiu ninguém. Um dia, perguntou por qual motivo era traidor.

Respondeu que sempre foi infiel a si mesmo.


SAYACA SUKINO...


Estava homogeneizada com a multidão no trem, todavia os sentimentos urravam. Descobriu que Yukito(um colega de turma e seu amor platônico) transformava-se na guerreira galáctica Diana, que salvava Tóquio de todos os perigos.

Um dia, viu-o no terraço da escola, seu corpo magro se metamorfosear em uma mulher máscula vestida com pouca roupa.

A revelação aumentou ainda mais atração da jovem pelo amado. Ainda absorta em seus pensamentos, Sayaca Sukino nem poderia imaginar que num outro canto da cidade, Diana/Yukito luta com um monstro pontiagudo e devorador de moças inocentes. Ele lhe atingiu gravemente, com sua gosma branca ácida estelar...

NÃO PERCAM O PRÓXIMO EPISÓDIO DE DIANA, O MENINO-AMAZONA


***
Quero esclarecer que não tirei a foto e nem desenhei, reeditei a imagem para ilustrar um conto antigo meu.