Acho isto tão interessante, li um conto antigo meu em um blog que colaboro. Nem me lembrava mais da historia, parece que encontrei uma parte
de mim perdida no passado.
“Pobre diabo”
... Gente arrogante! Sempre tem alguém que me diz: "Você
tem que contar tudo". Não quero. Agora estou em casa, escrevo no
computador e às vezes vou ver o mar. Plagiando, na cara-de-pau, Clarice
Lispector, a imensidão do mar é a imagem refletida da minha essência. Tudo que
escrevo não é original, todos nós somos seres amórficos com capacidade de
digerir pensamentos e teorias que nos antecedem há gerações. Nada é novo e sim
repaginado.
Um amigo disse que escrevo as mesmas coisas, está certo. Sou
como as ondas, vou e volto... Até na época das ressacas de inverno. Uma vez me
disseram que devemos resolver os nossos problemas, se não acumulam. Ora, não
somos um poço de alegrias, tristezas, perdas e recalques? Vida real é deste
jeito, se você ganha de um lado, perde de outro. Se você é bem-resolvido numa
área, em outra, é uma droga. Não me venha com a lógica racional ou de autoajuda.
Somos bestas feridas e famintas, que constroem castelos de nada.
O pessoal da minha família se divide em dois grupos: os que
me acham vagabundo e os que me acham maluco. Sou um pouco vagabundo e maluco. A
vadiagem e a loucura que tenho me acompanham, desde quando minha mãe me pariu.
Tentei mudar, não consegui e o pior de tudo é que se pelo menos fosse um
artista genial, talvez justificasse minhas excentricidades.
Gosto de observar minha filha na escola. Fico de longe, ela é
linda. Muitas vezes, parece ser minha mãe: "Papai, você tá fedendo...
Papai, quando você vai crescer e for pai de verdade". Ela foi um delicioso
acidente que aconteceu na minha vida. A última notícia que tive da mãe dela era
que virou prostituta na Itália. Quem cuida da menina são os meus pais e eu sou
o irmão-mais-velho-desajustado-que-só-arranja-problemas.
Ultimamente, fico horas no computador trancado no quarto.
Todos lá de casa perguntam o que escrevo tanto "neste maldito
computador". É difícil explicar, só sei que me sinto bem, paro de pensar
asneiras. Quando termino, vou direto para cama e apago. Acordo e recomeço a
mesma rotina. Estou trocando os antigos vícios por um novo. O analista disse
que não estou resolvendo os meus problemas e que somente os aglutino.
Mas a vida não é um jogo de videogame em que se precisam
vencer as etapas e as dificuldades. Quem é feliz pra sempre? Quem é bem
resolvido? Quem não tem fantasmas? Quem não tem um pouco de mesquinhez? Quem
não tem manias obsessivas? Quem não tem certo quê de perversidade e tenta se
controlar para não cair totalmente no lado obscuro?...
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