Desde que me entendo por gente, quando a noite chegava e o sono vinha, ninguém dormia. Todos ficavam vagando por aí como zumbis e à espreita de quem está acordado, para mordê-lo. Ao amanhece, todos voltavam ao normal.
No início, tinha medo os gritos da madrugada,
mas, acostumei-me com os sons que minha família emitia.
Ao crescer, curti minha infância e juventude sem muito
drama. A única coisa que me incomodava, era os gritos ou quando alguém ficava a
me observar, para ser se dormiam realmente.
O
tempo passou, tive mulher e filhos. Eram zumbis, também. Até quis ser mordido
por eles, para não ser mais diferente. É muito pesado ser diferente dos outros,
além, de não sentir nada como aquela música:
“Socorro,
não estou sentindo nada.
Nem
medo, nem calor, nem fogo,
Não
vai dar mais pra chorar
Nem pra rir.”[1]
Quando surgiram as redes sociais, descobri o "grupo
dos acordados". Entrei em contato e conversei bastante com os integrantes.
A que dialogava mais comigo era Ana e nos conhecemos no mundo real. Era casada,
também, e sofria de ver os seus na madrugada, caçando os acordados.
Nós nos apaixonamos, porém, não podíamos abandonar nossas
famílias. Encontrávamos um jeito para passar a noite se amando trancados
num quarto de motel, enquanto os zumbis noturnos perambulavam pela madrugada.
Será que somos os loucos?! Ou pertencemos aos poucos sãos
que ainda existem no mundo?
Não consigo responder esta pergunta. A única certeza que
continuarei com Ana e nos ajudaremos na travessia entre os vivos e os
mortos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário