terça-feira, 26 de junho de 2018

FRONTEIRAS




- Muitas vezes, não consigo escolher as palavras certas.  Quero dizer como me sinto, mas, elas ficam embaralhadas na minha frente e não consigo pescá-las. Tentarei lhe explicar... Há fronteiras que a gente não pode ultrapassar, pois, não tem como voltar atrás.  Está entendendo?  Quando me deparo com estes limites, tenho medo de deixar de ser eu e me tornar outro ao atravessá-los. Ao mesmo tempo, que sinto medo, surge certa curiosidade. Porém, se eu quiser voltar e não puder mais? Já que o mundo que conhecia não existirá mais. Até quando sou prudente ou covarde? Você já ultrapassou suas fronteiras, ainda continua sendo você? Sei que isto é meio confuso, nunca consegui explicar o que acontece comigo. Talvez, estas fronteiras sejam minha humanidade. Em alguns momentos, imagino-me fazer uma crueldade com um bicho, por exemplo, colocar um gatinho no microondas... A culpa vem galopante ao pensar sobre isto. Deve estar me achando louco, né? É que fico transbordando com tantos pensamentos que preciso colocar um pouco para fora. Tenho tanta ira, às vezes. Chega! Você é um cara legal, não lançou, para mim, nenhum olhar de censura. Não sei o que me deu, nunca disse a ninguém o que lhe confessei. Sei lá, o dia está estranho. Amanhã será outro dia, até mais. Boa noite, vizinho.

***
O vizinho nem prestou a atenção nele. Estava mais preocupado em se livrar do corpo da amante, antes de sua noiva voltar de viagem.

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