Laura chega cansada e ainda precisa arrumar os
filhos. Neste final de semana, o pai das crianças irá pegá-los. Sente-se
aliviada por ficar sozinha em casa, pois poderia maratonar
seu dorama preferido.
Ela se imagina como a heroína virginal, fofa e trabalhadora, que faz de
tudo para provar seu valor ao seu príncipe. Encanta-se com o galã de uma beleza
sensível. Beijam-se sem língua e muito menos sem baba.
Laura gostava de romance, considerava a vida bruta e odoros
desagradáveis. Então imaginava relações íntimas com o príncipe da série
oriental, com aromas de flores, toques delicados e suspiros imperceptíveis.
Como se estivesse num balé clássico, o qual os bailarinos dançam
harmonicamente, parecendo um só. Às vezes, fica triste por ser impossível viver
este amor utópico.
Neste final de semana algo inusitado acontece, Laura se sente
transportada à história. O príncipe e os outros falam com ela, que não entende
nada por causa da língua. Mas, compreende o que acontece na história,
instintivamente. Ela se joga na narrativa e vive o sublime amor, intensamente.
Percebe-se que é a protagonista da série que tanto gosta.
Todavia, começa a sentir saudade dos filhos e mesmo com os perrengues,
gosta da sua vida real. Quer voltar, o par romântico e os outros personagens se
entristecem. Laura está decidida. O lindo príncipe dá uma um relicário com sua
foto. Ela retorna.
Acorda com o barulho de buzina. Recebe os filhos e, pela primeira vez,
cumprimenta o namorado do ex-marido. Depois, uma das crianças questiona sobre o
cordão que usa. Desconversa, perguntando como foi o final de semana.
Ouve com uma paciência que há muito tempo não tinha. Transborda de
felicidade por estar viva.