sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

" DOCES LEMBRANÇAS"( CONTO REVISITADO)





Quanto mais velho eu fico, percebo que não sei nada. Tudo que acontece há várias interpretações. Até os conceitos básicos do bem e do mal, variam de acordo com diferentes pontos de vistas.

Estou perdido e talvez nunca me ache de verdade em um labirinto de janelas, que são prismas  sobre  este  mundo,  onde vivo.
 
De repente, lembro-me do menino que eu era. Adorava passear na fazenda dos meus avós. Era tratado com um “reizinho” por todos. Quando brincava com os filhos dos empregados, sempre era o líder.

Minhas festas de  aniversário  eram  surpreendentes.  Bem, no meu olhar de garoto, a época era boa e me sentia  feliz por fazerem  todas  as  vontades.  Mas, um dia, um monte de homens armados invadiu a fazenda, prenderam meus pais e meus avós. Os empregados com seus filhos se abraçavam contentes.  Uma antiga empregada abraçou-me e a ouvi pedir para os caras armados me deixasse ficar com ela. 

Então, fui morar numa casa simples da periferia. No início, fiquei revoltado, queria minha vida antiga de volta, mas, com o tempo, fui me adaptando e os dias na fazenda se tornaram um belo sonho. Anos depois, quando voltava do trabalho, na porta de casa havia uma jornalista. Queria me entrevistar sobre minha família biológica. Minha mãe de criação apareceu e a expulsou e veio conversar comigo.

Bem... É lógico que eu sabia de tudo, porém, não queria ter consciência disso, principalmente, perder as doces lembranças da infância. A verdade veio dilacerando meu reino particular.

Minha verdadeira família escravizava as pessoas para trabalhar na fazenda. Todos me tratavam bem, porque eram obrigados.  Fiquei alguns dias à deriva.
Minha mãe adotiva me disse para tocar a vida. Seguirei seu conselho. Quem sabe um dia me encontre por aí. 


terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Conto revisitado






Tentei reescrevê-lo. Achei que estão versão  ficou um pouco melhor. 


INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA

"O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente" Sigmund Freud




André adorava pintar paisagens e muitos o achavam cafona. Sua namorada, uma crítica de arte, dizia que precisava mudar urgentemente de estilo, já que a pintura acadêmica ficou muito “demodê”. A mãe de André não concordava, adorava os quadros do filho, porque transmitiam paz. 

Quando a noite surgia, André tinha pesadelos e ao amanhecer desenhava as criaturas estranhas e as trancava numa jaula nos fundos da casa. Somente a mãe tinha acesso ao lugar, para alimentar os seres taciturnos.

Com o passar do tempo, a noiva percebeu que havia um segredo na casa e resolveu investigar.   Seguiu André e encontrou um  esconderijo,  onde  havia uma jaula com  um monte de pinturas  penduradas nas grades.  Quando observou, ficou admirada com a coleção de desenhos grotescos que lá habitavam. Aproximou-se da jaula, de repente ouviu rugidos apavorantes. Ficou paralisada de medo. O cadeado da jaula se rompeu.

Na manhã seguinte, ao encontrar o corpo da amada estraçalhado se desesperou e foi pedir ajuda à mãe.

 - Meu filho, além das criaturas fugirem, precisamos nos livrar do corpo.  

- E o pior que surgirão outras criaturas através dos meus pesadelos.

- André, é só reforçar o cadeado e ter mais cuidado para ninguém descobrir. Entretanto, um problema por vez.

Um vulto passou rapidamente entre eles e sentiram um odor forte. Não estavam sozinhos.  




segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

INVISÍVEL




Sentia-se assim, já que todos o esbarravam na rua. Vivia tão calado que nem se lembrava de sua voz.  Com o tempo, adquiriu o hábito de seguir e a observar as pessoas. O vazio que sentia, diminuía  brevemente. Nas festas de finais de ano, começou a entrar de penetra nos lugares, para se alimentar das alegrias dos outros. 
Em certo natal,  entrou numa casa e, como  sempre,  ninguém  o  percebeu.   Explorou a casa, até encontrar  uma menina  que lhe  sorriu.  Pegou em sua mão e o  levou  ao quarto.  Seu corpo estremeceu, há tempos que ninguém o tocava. Tentou lembrar-se de  alguma lembrança remota, mas, só havia uma tela em branco.
Ela mostrou os brinquedos novos e não parava de conversar.  De repente, alguém a chamou.  Minutos depois, ela voltou com sua mãe para apresentar o novo amigo. A mãe  pensou que  se  tratava de  um novo amigo imaginário. Mandou a garota brincar com os primos e fechou  a janela  escancarada do quarto  para não entrar  insetos. 
Ele correu com o coração quase saindo pela boca. Sentia felicidade e medo ao mesmo tempo,      por se  visível  por segundos. Perguntava-se como agiria  se todos voltassem a vê-lo, acostumara-se a não ser visto.  Um  grupo de  homens e mulheres  passou por  ele e lhe desejaram  um  feliz natal.  
Retribuiu e quando ouviu sua voz, um  onda  de  alegria o  arrebatou.





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domingo, 2 de dezembro de 2018

FÉRIAS DE MIM





De repente, olho para uma menina que me chama de vovô. 

Assusto-me e me olho no espelho e meu corpo está bastante velho. Quando não aguentava mais o cotidiano, viajava para fora do corpo e o alugava por temporadas. 

 Mas, nessas idas e vindas perdi a noção do tempo.

RELAÇÃO INESPERADA( conto antigo e revisitado)

Imagem encontrada no google


Ela chega a casa. Vai direto ao quarto rosa, mas não encontra ninguém; só o cachorro deitado na cama. O rosto fica tenso, mas ao olhar para o bicho não consegue brigar.


Acorda ao ouvir uivos no quarto rosa. Os olhares da mulher e do cão se encontram, sofrem a mesma dor. O animal se aproxima, mas ela se afasta.


O animal não quer comer. Fica deitado no chão a olhar para a porta. Ela respira fundo, está com a coleira nas mãos. Vai devagar e consegue colocá-la no cão. Caminham um pouco.

Aproximam-se a cada dia. O cachorro  lhe faz festa  e ela devolve com um sorriso espontâneo.

O quarto rosa continua intacto. Fotos de viagens espalhadas por todo lugar e a cadeira de rodas. No dia seguinte, o quarto rosa não existirá mais.

Ela e o cachorro sempre passeiam pelo bairro. Os vizinhos estranham, pois ela sempre demonstrou sentir medo de bichos. Ambos usam um pingente com as iniciais da dona do quarto rosa que agora está na companhia dos anjos.