Sinto que vão invadir a casa a qualquer momento, mesmo fechando as janelas e as portas, diferentes sons entram pelas frestas e as vidraças vibram. A cada ano que passa, eles dominam cada vez o espaço e sinto saudade do tempo de criança que não volta: dias longos e serenos. Hoje, tudo é rápido demais. O cachorro rosna, será alguém a caminhar no quintal? Lembro-me que li um conto de um escritor argentino (qual será o nome dele mesmo?), recordo, Júlio Cortázar(Agora, o título do conto?). Deixa procurar no google ... Achei, Casa tomada narra a história de dois irmãos solteiros que vivem numa casa ampla, espaçosa, velha e cheia de lembranças dos seus antepassados. O protagonista é quem narra a história dele e sua irmã, Irene. Meu Deus, como este conto me assombra, principalmente, por experimentar um caso semelhante. Lógico que vivo num contexto completamente diferente, mas, a sensação de meu mundo particular ser tomado por um turbilhão lá fora é angustiante do mesmo jeito. Até, tive um sonho( ou será que foi um miniconto que escrevi há anos?) de ser um passarinho fugido da gaiola e que foi devorado por um gato, entretanto, vi pelos olhos do felino a visão do céu infinito. Talvez, se for embora para uma mata fechada e ter um encontro com uma onça, veja no reflexo de seus olhos meu paraíso, o retorno do tempo perdido. O cão late sem parar, olho pela janela e vejo um gato enorme a olhar fixamente para mim. Ouço passos estranhos pela casa e, de repente, sinto que a casa está parecida da qual quando era criança. Tenho a impressão de escutar meus pais me chamando ao longe.