sábado, 21 de julho de 2012

Conto antigo




MÃE

 – Estamos sozinhos no prédio, fechei bem as portas. Mãe quer comer alguma coisa? O Ricardo ligou ontem. Vou ligar a tevê. Contei-lhe que o síndico brigou com a vizinha de cima? Ela não queria a vaga sorteada, foi um bafafá. Mãe, ontem tive pesadelo. A tarde está bonita, não acha? Outro dia andava pelas ruas do centro e evitava ver o meu reflexo nas vitrines, não queria saber o que me desejavam revelar. De repente, vi uma pessoa conhecida que me observava pena. Saí da rua principal e caminhei pelas ruelas adjacentes. Mas ganhei o dia, entrei na livraria e comprei o livro que tanto queria. Mãe o telefone toca, já volto... Era um colega da faculdade, me perguntava do dia da entrega do trabalho, por falar nisso nem comecei o meu. Lembra, mãe, na época do colégio ficava em cima de mim para cumprir os prazos? Tá me ouvindo mãe? Não quer dá uma olhada na janela? Só tem figura engraçada pulando carnaval. A música alta faz vibrar o vidro da janela. Ricardo levou a família pra Angra, foi convidado por um amigo do trabalho. Mas, disse que podia ligar a hora que eu quisesse. É um bom irmão, apesar de não sermos amigos. O único elo que temos é você, mãe. Tem certeza que não quer comer algo? Novamente o telefone... Dispensei logo, é a chata da Candinha. Só sabe dizer coisas desagradáveis, por você isso nunca gostou dela. Mãe, hoje você está estranha... Vou ligar pro Ricardo.

Um comentário:

Angela disse...

Caramba, fiquei pensando se a mãe existe mesmo ou se é doente, muda, paralítica... ou imaginária...
bom isso!