terça-feira, 27 de novembro de 2018

PIERRE E CALEBE( Conto antigo)





Helena quando conheceu Pierre se encantou. Era um homem bonito,  bondoso e nunca perdia a paciência. O único problema era que Pierre tinha a foto do irmão falecido e gêmeo (Calebe) por todo apartamento e Helena se incomodava um pouco com este fato. Mas, Pierre era tão especial, que Helena relevou.
O tempo passou... Helena se casou com Pierre e foi morar no apartamento dele. No início, queria fazer uma reforma no lugar e tirar as fotos espalhadas de Calebe.
Todavia, não queria magoar os sentimentos do marido e resolveu deixar para lá, mais uma vez.  Além da bondade de Pierre, ele foi o único homem que satisfez Helena na cama e a jovem se sentia completa.
Na verdade, Helena não se entregava para Pierre. Quem a possuía era o espírito de Calebe. Pierre amava Helena, mas não gostava de sexo. Ele  passava a madrugada inteira, dando comida aos mendigos, já que sentia um prazer sem limites, quando ajudava  ao próximo.
Ao amanhecer, Pierre entrava no quarto de mansinho para não acordar Helena, que dormia tranquilamente. Olhava agradecido para foto do irmão e Calebe retribuía com a fisionomia de cumplicidade.

QUERIDO DIÁRIO( VERSÃO ANTERIOR ( 2014))


Às vezes, gosto de revisitar contos antigos meus e fico surpreso  com  a imensidão de bosta que produzi. Já quis escrever coisas engraçadas que saíram  um tremendo mau gosto e tive épocas  que me achava super original...  Quanta pretensão tola!!!
Neste conto, tentei reescrevê-lo com a intenção de treinar a escrita. Com certeza nunca será publicável. 
Por fim,  aprendi  a não me levar muito. Postarei no meu blog  e  pronto. 
É meu espaço para exercitar, mesmo.

Imagem encontrada no google


QUERIDO DIÁRIO
Resolvi fazê-lo porque estou desesperada com minha vida caótica. Então, tento colocar minhas ideias em ordem e me entender como indivíduo. Sigo o conselho do meu saudoso psicanalista, que foi hipnotizado pela minha mãe-bruxa-secular para ser escravo sexual. Coitado, para se livrar dela, jogou-se de um viaduto.
Bem, meu amigo, minha família é repleta de criaturas mágicas. Meu pai é um vampiro que sempre matou meus namorados e ele tem um hábito horrível de roubar minhas roupas. Quer ser eu e isso o angustia. Por isso, qualquer homem que se aproxima de mim, meu pai o deseja e o mata. Além do mais, pedi minha mãe a lançar um feitiço para proteger meu armário. Estava ficando sem roupa.
Meu irmão é um lobisomem e meio alienígena. Como já disse, mamãe é uma bruxa ninfomaníaca. Ela aprisiona todas as espécies de machos para serem servos sexuais. O mano é um cara bacana, mas quando fica bravo, mata povoados inteiros.
Sou a única normal da família e triste por não ter nenhum amigo ou namorado. Fugi de casa e uma comunidade religiosa me acolheu. Eles me consideram muito especial e até faço parte do coro da igreja.
O pastor me disse que preciso perdoar. Então, resolvi passar o natal com minha família, já que é uma época de solidariedade e perdão.
Será que estou sendo rancorosa, meu querido diário? Desejo tanto desnudar minha alma e perdoar minha família!!!
Bem, resolvi chamar Augusto Emanoel, meu noivo amado. Ele quer conhecer muito minha família e passar o natal comigo. O que acha, amigo diário, será que dará certo?
***
Ah, meu amigo, quero lhe mostrar um poema antigo que escrevi e que minha professora de literatura me falou que era muito profundo e intenso. Coitada, ela foi assassinada pelo meu irmão, porque não quis ficar com ele.

Sou menina travessa
Mas, quando quero, sou mulher sensual
Porém, posso ser fera faminta
Logo, menina- travessa-mulher-sensual-fera-faminta

E aí? Será que sou uma poetisa, querido diário?
***
Querido diário, as festas de final de ano passaram. Percebi que não posso me reconciliar com minha família. Todos tentaram devorar Augusto Emanoel e tivemos que fugir pela alta madrugada.
Minha mãe mandou suas bestas de estimação para nos perseguir. Foi horrível e ao mesmo tempo muito triste.
Porém, encontramos algumas pessoas vestidas de branco e que faziam oferendas numa encruzilhada. Elas nos ajudaram sem pestanejar e unidos, mesmo possuindo crenças diferentes, conseguimos fazer a barreira do bem, que defendeu a todos de todo mal de minha família diabólica.
Meu querido diário, o amor venceu mais uma vez ao ódio cruel. Eu e meu noivo estamos muito bem no momento. Além, é claro, ganhamos novos amigos.
Entendi que o amor significa diversidade e foi muito bom descobrir esta verdade divina.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Passarinho




Voa por aí e depois retorna para meu peito.
Sua cantoria me ressoa por inteiro, transbordando-me vida.
Um dia, não voltará e irei perecer.
Ele sou eu.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Mortos ou vivos







Vivian está no quintal para escapar do calor. Sempre está à espera de algo. "Sinto que sou a única pessoa viva a atravessar esta madrugada. Ou estou morta ou esquecida nesta casa.".
Ouve um barulho repentino e se assusta.  Fica surpresa ao sentir qualquer coisa, depois de tantos anos. Constantemente ficava em dúvida se estava  vivia ou presa em um sonho.

Wanderson foge por muito tempo e nem tem mais a consciência dos motivos de sua fuga. 
"Assalto, tiros, Luiz é preso, Vânia atravessa a fronteira, meus pais dizem que estou morto para eles. Vivian...".
Se assusta, porque pensou em Vivian. Percebe estar na frente da casa dela.
Vivian é um pouco mais velha que ele e foi sua professora particular. Lembra-se do cheiro agradável que exalava dos cabelos longos da moça (professora particular). Ela o tratava muito bem, lhe oferecia lanches e lembranças de aniversário.  

 Vivian reconhece Wanderson pelo olhar. O medo que sentia passa.
- Rapaz, por que não apertou a campainha?
- Desculpa, se quiser, vou embora.
- Não. Está todo suado,  precisa de um banho. Pegarei umas roupas velhas do meu irmão. Sabe, ele foi para Portugal depois da morte de meus pais. Vem comigo.

Wanderson se esvazia  de seus pensamentos. Por um momento, parece que a ducha os leva para o ralo. Depois começa a pensar o que o levou a chegar nesta situação. Tem a impressão de que nunca segurou as rédeas de sua vida. Deixa-se levar pelos acasos.

Pensa em Vivian novamente e de como ficou com raiva por não ser correspondido. "Jurei nunca mais pisar nesta casa e voltar a vê-la. Ainda tem aquele cheiro nos cabelos.". Percebe-se excitado.

Vivian prepara um lanche para o ex-aluno. Sente-se estranha ao pensar em Wanderson. Como ele está forte... Sabia que ficaria assim.". Arrepia-se, não gosta de pensar certas coisas, "parece que sou outra". Todos que a conhecem a consideram como generosa e correta. Vivian incorpora impecavelmente este papel, mas, há momentos em que ela se acha incompleta. Não consegue experimentar intensamente os sentimentos, "parece que estou num palco representando uma  personagem única".

Nunca entendeu os motivos pelos quais Wanderson desapareceu. Adorava ensiná-lo. Pensava nele mais velho. Seria um cavalheiro e iria tratar bem uma mulher...

Agora, mesmo diferente do que imaginava, Vivian se encanta com
Wanderson e junto  vem a vergonha. “Estou esquisita. Não  controlo  meu  corpo  que não  para de  vibrar”. 

Wanderson vai à cozinha e se depara com a mesa posta. Lembranças já mortas ressuscitam. Vivian se  senta, também...

- Rapaz, você cresceu.  Por onde andou?
-  Vaguei por aí, que nem  uma alma penada.  E  você?
-  Continuei aqui,  fincada nesta casa. Meus pais se foram e meu irmão mora em Portugal com a família. Sou uma alma penada que tenta  sobreviver  a mais uma madrugada calorenta... Estou  curiosa,  por  que  veio?

-  De repente estava em frente a sua casa e percebi  que  precisava te ver. Acho que temos algumas questões a resolver.

- Bem,  você desapareceu do nada e não entendi o motivo.

- É que eu te amava.

-  Como?  Era só  um menino.

-  E daí? Eu a amava e pronto e você só queria brincar de professorinha boazinha.

- Eu não sabia de seus sentimentos, me desculpa.  Aliás, eu nunca pensei  que despertaria este sentimento em alguém. Como vê, estou sozinha. Está vingado?

- Não vim aqui por vingança. Queria vê-la mais uma vez. Por que nunca se casou?

- É que sou complicada. Não sei como explicar, procuro por alguma coisa e passei  muito tempo nesta busca. Muitos me acham exigente, mas realmente não sei. Nunca me apaixonei por ninguém  e fui  levando minha vida. 

- Engraçado, o tempo todo eu era insatisfeito  e ficava procurando procurando...

-  Também  havia meus pais e meu irmão.  Sempre me consideraram perfeita e nunca quis  macular  a imagem  que eles tinham de mim.  E seus pais?

-  Morri  para  eles.  Tomei muitas atitudes equivocadas sem pensar. Fui sendo levado e me enrolei  num emaranhado que não dá para  sair. Até achei já estar morto. Porém, quando a vi...

-  Pare com isso!!! É um bom homem, eu o conheço.  Também me sentia morta até reencontrá-lo.

Conversam animadamente, trocam confidências e nem percebem que o amanhecer surge com os cantos dos pássaros.

Então, os primeiros raios do sol iluminam seus beijos. Seus corpos se encaixam perfeitamente e eles aproveitam cada segundo, já que acabam por se descobrir momentaneamente vivos. 

Mesmo envolvidos no gozo, ouvem os barulhos da cidade recém-acordada e não  se  sentem mais almas solitárias. Estão conectados com a  vida, por enquanto.  
...

A empregada entra na casa vazia. Costuma fazer faxina a pedido do patrão que mora em  Portugal.  Ao entrar acha o lugar desarrumado, principalmente o quarto de Vivian. Parece que alguém invadiu a casa. Ao ligar a tevê escuta que um bandido morreu ali perto.