domingo, 28 de janeiro de 2018

PRESENTE DE DEUS...




Ele apareceu em um dia de muito calor.  Ana o olhou nos braços de Antônio e o odiou. Mas, queria salvar seu casamento e concordou cuidar do filho da amante do marido.

Quando cuidava do bebê, parecia que segurava uma bola de  fogo. A criança não parava de chorar. 

Com o passar do tempo, Ana começou a se acostumar como o bebê e a produzir leite nos seios, mesmo com os filhos já crescidos.  Quando deu por si, afeiçoou-se a ele.

 A partir daí, descobriu que o amor pode vir aos poucos e a ser construído.  Diferente daquela concepção do amor à primeira vista, o qual aconteceu com seu marido e filhos. Tornaram-se unha e carne e este  acontecimento deixou a  família perplexa.

Tinha me esquecido  de dizer o nome do menino. Chamaram-no de Théo. Sempre fora um peixe fora d’água. Não gostava das brincadeiras de garotos, preferia ficar com Ana, aprendendo a cozinhar e a costurar. O pai ficava irado e, quem o protegia das pancadas, era Ana. Os outros filhos sentiam ciúme, mas, uma mãe sempre defende o filho mais frágil.

A cada dia, o clima da casa foi piorando.  O pai não suportava o jeito de Théo. Ana resolveu fugir com ele, no meio da noite e rompeu com a família.  Foi uma época difícil, seus outros filhos reataram relações com ela anos depois.

Por coincidência, “às pazes”, aconteceu quando Théo arranjou um bom emprego como estilista e começou a ajudar os irmãos, inclusive, os sobrinhos.  Quando o pai ficou velho e senil, Théo e Ana resolveram cuidá-lo até seus últimos dias de vida. Os outros filhos não podiam ficar com ele.

Ana amava todos os filhos e netos. Costurava para eles e fazia aquele almoço de domingo.  Entretanto, em relação ao Théo, sentia-se grata a ele, por se transformar numa pessoa melhor quando o conheceu. 

Théo adoeceu e Ana ficou com  ele  até  o  fim, mesmo com sua idade  avançada. Suas últimas palavras para o  filho:
“ Presente de deus para mim.”    



      

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Desaparecer




Sente que sempre perde algo, porque não consegue acompanhar as listas de indicações de livros e filmes que não podem deixar de ler e assistir. Corre esbaforido para ler um livro de certo escritor que morreu e o qual os críticos dizem o quanto foi importante. Ou assiste a um filme cult, porém, não consegue compreender ou curtir como os outros. Torna-se desértico e o que gostaria de ser é uma miragem cada vez mais inatingível. Fica dias sem fazer nada, bloqueado. Tem a sensação de desaparecer, pois não sabe quem é realmente. Viveu a idealizar a si mesmo, colocando padrões muito altos de alcançar.