terça-feira, 25 de setembro de 2018

“Não eram os únicos neste vasto mundo”






"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente."
Clarice Lispector


Antes da faculdade, Lauro e Laura viviam suas solidões, apesar de terem amigos. Quando se encontraram foi amor à primeira vista. E tinham um segredo em comum, embora não o conseguissem definir cvom clareza.

No início, muitos os achavam interessantes, mas, com o tempo, as atitudes do casal causavam estranheza aos amigos e familiares. Lauro e Laura se beijavam, se davam as mãos e não se separavam por nada, porém, pareciam não ter contato sexual.

Se alguém perguntava como era o sexo pra eles, desconversavam. Quando estavam com amigos no quarto, olhos curiosos observavam e ficavam intrigados ao vê-los deitados, dormindo profundamente ou abraçados assistindo a tevê. 

Amigos e familiares ficavam preocupados e sugeriam que esquentassem a relação. Que comprassem roupas sensuais e brinquedos eróticos. Os namorados não entendiam esta pressão para fazer sexo. Não tinham vontade nem interesse em conhecer esses objetos.

Em uma ocasião, numa viagem entre conhecidos, um colega agarrou Laura para ver se com a "pegada" dele, a moça ia se viciar em sexo. Ela ficou apavorada e Lauro a salvou da situação, chegando a lutar com o abusado. Lauro passou por momentos constrangedores, também. Algumas meninas o paqueravam e quando não eram correspondidas, chamavam-no de viado.

À medida que o tempo passava, a situação tornava-se cada vez mais opressora. O respeito por eles não existia mais.  Resolveram cortar relações e viviam como exilados.

Anos depois, assistiram a um programa de televisão, cujo tema era assexualidade. Os dois se olharam e se perceberam. 

Então, sentiram-se leves. Não eram os únicos neste vasto mundo.



quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Íntimos e Estranhos



"Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.”



“Coisa estranha isso, né? Não conhecer as pessoas. Pior que, às vezes, nem eu sei quem sou. Como já ouvi dizer, todos nós somos atores e escolhemos o melhor de nós para mostrar.

Eu não tenho nada de excepcional. Saí da casa dos meus pais com quarenta anos. Fui motivo de piada por ter saído tarde. Porém, morar com eles era tão cômodo...

Perguntaram-me uma vez o que me levou a sair da casa deles. Embromava, porque não queria pensar muito nisso. Era um assunto estranho e desejava empurrar para as profundezas de mim.

Tudo começou com uma lembrança antiga, de quando tinha uns três anos. Estava com meus pais numa praia deserta. Minha mãe me distraía, enquanto meu pai carregava algo pesado. Recordo-me que, mesmo brincando com minha mãe, eu sentia um desconforto. Para onde o papai ia com aquele peso e por que pegou uma pá depois? Minha mãe ria nervosa para mim e me chamava atenção para o castelo de areia que fazia. Eu estava feliz, entretanto, algo não fazia sentido.

A maré subiu e o castelo se desmanchou. Chorei, meu pai me pegou no colo e fomos embora. O silêncio entre eles era sufocante. Depois, os dias correram e me entreti com outras coisas. Até então, tive uma vida muito boa, mas algo aconteceu dali pra diante.

Ao chegar a minha casa, meus pais estavam absortos pela televisão.

Olhei e exibia uma reportagem sobre um corpo encontrado numa praia havia muitos anos. Eles perceberam minha presença e me olharam friamente. Fui dormir e, intuitivamente, tranquei a porta do quarto. Semanas depois, já morava em outro lugar.

Meus pais resolveram fazer uma viagem e disseram que ficariam fora por muito tempo. Não sei onde estão. A única conclusão a que chego é que nunca conheci meus pais, realmente. Só me mostravam o que lhes convinham.”


quinta-feira, 13 de setembro de 2018

FÁBULA





Era uma jovem arrebatadora, que todos paravam para admirá-la.

Por meio das danças e de seus versos, proferia verdades na mente dos que a rodeavam, conseguindo semear ideias implícitas que levavam à reflexão.

Começou a utilizar esta técnica ao ver seu irmão Insulto ser trucidado, porque vomitava veracidades.

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( Inspirado numa fabula que li há tempo, não plagiei, juro)


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Desejo proibido




Olha o reflexo das nuvens pela sarjeta. Experimenta um desejo de lambê-las, para ver se tem o mesmo gosto do algodão-doce.

De repente, sente sua taxa de açúcar aumentar.