segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Ensaio de um conto ou uma reflexão particular...




Fugiu, porque não desejava sentir mais inveja. Acreditava que longe dos outros, este sentimento iria se desiludir, uma vez que não existiria mais paradigmas para se comparar. Iria ser só ele e isto bastaria.

Foi para uma região inóspita e a imensidão do lugar o fez perceber o universo, o qual havia dentro de si. Precisava dos outros para se encontrar verdadeiramente. Além, de compreender que necessitava a lidar com todos os sentimentos diversos, inclusive, a inveja.

Resolveu voltar e assumir seu lado obscuro, com a finalidade de controlá-lo. Quando se ignora o “inimigo”, mais chances de ele ganhar.
***
Não sei o motivo de escrever a história em terceira pessoa. Quem sabe para me distanciar

do personagem, tendo a ilusão que não tem nada a ver comigo: “Só conto uma história”.

Mas, ele sou eu e não posso negar. Há momentos de que inveja me pega de surpresa e tento canalizá-la por meio da escrita.

Nem sei o que acabei de produzir, pode ser considerado um ensaio de um conto ou uma reflexão particular; ambos, impublicáveis.
Foda-se, guardarei esta coisa! Decerto será útil algum dia.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

RAZÃO/ LOUCURA




Ando por terras insanas, procurando você. É minha amada Razão, a qual não me deixa no abismo da Loucura. /

Ando por terras racionais. É minha amada Loucura, a qual não me deixa vagar no abismo da Razão.

Espera, as duas são uma só! Ficam trocando de trajes, para me confundir?

Safadas!



segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Sumiço na véspera de natal



Imagem encontrada no google


Antônio tinha passado a noite na casa de um amigo, quando retornou, teve a triste surpresa do sumiço do cachorro Golias. Quem deu a notícia, rapidamente, foi sua mãe, que estava mais preocupada com os preparativos natalinos.

Antônio achou estranho e foi procurar o cão. Era inusitado, Golias fugir por aí. Nunca saía de perto da casa e nem do menino, eram amigos inseparáveis. Começou a perguntar pela vizinhança se alguém viu Golias e ninguém tinha notícia. Um bêbado sem rumo, conhecido no bairro, aproximou-se. Comentou que viu a mãe do garoto na direção do descampado, segurando uma trouxa de lençol.

No início, Antônio não deu importância, mas, um pensamento o martelava. Resolveu checar. Encontrou uma cruz fincada no chão e a terra parecia que foi mexida recentemente. Respirou fundo e começou a cavar com as mãos. O bêbado se aproximou com a pá e o ajudou.
Algo parecido com Golias estava lá. Antônio sabia que era seu cachorro, porém, a impressão que tinha, era de estranhamento. O bêbedo lhe disse que quando a alma se esvaía do corpo, transformava-se em algo sem sentido.

Antônio voltou para casa com Golias no colo. Alguns parentes haviam chegado e levaram um susto com a cena. A mãe aos prantos disse ter sido acidente. Ela acordou bem cedo para fazer as compras, entrou no carro e quando saiu da garagem, teve a sensação do automóvel passar em cima de algo. Ouviu um ganido, em seguida, silêncio. Desesperada, para não estragar o natal e nem deixar o filho triste, elaborou o plano de fuga do cachorro. Já tinha a desculpa montada e compraria outro cão, para o filho se distrair.

O episódio trágico em pleno dia de natal tornou-se uma revelação para Antônio.  Foi a primeira vez que percebeu que sua mãe não era perfeita. Além, do inédito contato com a morte de “alguém” querido.  Também, não se pode esquecer, da descoberta de que se precisa sempre levar em consideração qualquer pessoa. Quem se solidarizou e o ajudou a desvendar o mistério do desaparecimento de Golias, foi um mendigo vadio.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Silencia( miniconto antigo)




No quarto o silêncio grita, mas o cansaço faz o homem parar de ter medo. O sono vem e ele se torna um corpo em si mesmo como os móveis do quarto. O silêncio se silencia.

sábado, 23 de novembro de 2019

A VIDA É ASSIM








Preciso me apressar por causa do ônibus ESPERA vejo algo diferente no fio do poste pego meu celular não vou conseguir o tempo está nublado e a câmera do celular é foda mesmo com a luneta que encaixa na câmera mas tentarei mesmo assim preciso ter cuidado para não atrapalhar os transeuntes e de não ser assaltado FODA-SE vou capturar este momento acho que é um gavião clico não consigo focar não posso demorar chegarei atrasado no trabalho não consigo enxergar está escuro esqueci de aumentar o brilho do celular disparei mais clics o gavião alça voo desaparece fico frustrado de não conseguir boas fotos mas a vida é assim mesmo parto também tomara que o ônibus chegue logo

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

TUDO SE REPETE






Revoltas

Injustiças

Corrupção

Disputas de poder

Egos inflados

Miséria

Elite X povo

Civilização X Barbárie

Ambições humanas X Natureza

Discurso de ódio

Fanatismo religioso

Apesar de tudo, ainda há esperança

Resistência

O amor ainda existe  Em que época estou?

Faz diferença defini-la?

Na verdade, tudo é reflexo de uma coisa só

Carrego em mim a ancestralidade dos outros

Eu sou o outro

E você

***


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

"NÃO QUERO SABER”


“É isso mesmo que acabei de dizer, não quero saber de nada. Não adianta olhar para mim, não farei nada. Preciso cuidar da minha vida, sabe. Não tenho tempo para bobagens dos outros. Cala boca, não me fale dos seus problemas, só perguntei como você estava, por educação. Desculpa a sinceridade, estou cagando para você. Não posso mudar o mundo, ele é uma bosta e fim de papo. É um fato, a seleção natural existe para os mais aptos vencerem, o resto é mimimi. Se você está dissonante com a sociedade, o problema é seu. Resolva! Os outros não têm culpa da merda que é sua vida ou se é um perdedor. Com licença, preciso ir embo...”   

De repente, teve mal súbito e o outro que o escutava, gritava por socorro, mas, na rua só passava veículos em alta velocidade. A ajuda iria demorar... 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Magnólia
















Não era verão ainda, mas, estava uma noite muito quente. De repente, uma mariposa pousou na cortina. O primeiro pensamento de Magnólia: " É uma mensagem..."

O telefone tocou, era o noivo de muito longe, comunicando-a o término do noivado. Magnólia olhou triste para mariposa e, resignada, contemplou a beleza da criatura. 

Na manhã seguinte, resolveu sair com os amigos e percebeu que o inseto ainda está lá, porém, inerte no chão.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Desintoxicação


“Eduardo, desculpa, mas, não vou mais te seguir e vou bloquear você nas minhas redes sociais. Não é nada pessoal. É que preciso fugir de gatilhos que podem me levar ao abismo, entende? Você só posta fotos maravilhosas na Grécia, Nova York, Milão e em outros paraísos. Além de correr sem camisa na praia do Leblon, mostrando seu belo físico. TAMBÉM, vive postando fotos de sua cobertura. Sua vida é tão perfeita e a minha tão lixo. Juro que não sou invejoso, sei que trabalhou muito para ter o que tem. Todavia, preciso me desintoxicar de você e de sua vida perfeita. Preciso fugir dos gatilhos que me levam às profundezas. Fique bem, pois tentarei resgatar minha saúde mental.”

domingo, 8 de setembro de 2019

O BEIJO( conto escrito há 10 anos e um pouco mexido)




Através da boca dos amantes, cada um beijava todos aqueles que já tinham sido tocados por seus lábios. Todos do passado de ambos estavam presentes naquele beijo. Cada indivíduo é uma ponte que a vida vai conectando ao longo do tempo. Como tiveram muitos parceiros, a carícia pesou toneladas e o asfalto cedeu, mas nem perceberam, pois gozavam profundamente.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Lua cheia



...que habita em mim, torna-me fértil de imaginação e prova que não sou somente uma-criatura-que-paga-boletos

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

domingo, 18 de agosto de 2019

Conectividade inesperada( ideia antiga para um conto novo)



Em certo dia... Apareceu sobrando uma defeituosa peça de quebra-cabeça. Resolveram jogá-la fora, por não ter serventia. Foi lançada na sarjeta.


Inesperadamente, ouviu um pedido de socorro e encontrou outra peça de quebra-cabeça. Tentou ajudar, mas não conseguiam se juntar. Viu um pedacinho de corda e jogou para outra amarrá-la.


De um jeito peculiar, descobriram uma forma de conexão e continuaram suas jornadas, sem mais se sentirem sozinhas.


sábado, 10 de agosto de 2019

LEVEZA




Tempo fluindo
Efemeridade
Constante mudança

Num futuro próximo




Vendem-se corpos


Desconto para downloads de consciências já usadas.

domingo, 4 de agosto de 2019

Viajante


Sempre no mesmo lugar
Mais um na multidão 
Porém imaginação longe...
Passaporte: 
Livro

domingo, 28 de julho de 2019

A esperar


O ônibus

O país finalmente nos eixos

Ganhar na loto ou receber uma herança de um parente distante

Não chegar muito tarde no trabalho

Não ter muitos aborrecimentos

Novas curtidas nas minhas redes sociais


E seguidores

Mais educação do povo

Um sinal de fumaça

Um amor

Por uma vida menos ordinária

Para ter asas e voar

terça-feira, 16 de julho de 2019

Aparentemente





Mesmo a mulher o traindo com o chefe dele.


O melhor amigo o enganou num investimento duvidoso e fugiu com suas economias.

O filho engravidou a namorada e os pais dela ligam toda hora, ameaçando.

O primo não quer que ele vá para casa de campo, porque tira selfie e insinua que a propriedade é dele, porém, pertence ao primo.
Ondas de dívidas se tornam cada vez mais gigantes.
A sensação de queda aumenta.
Sente falta de ar.
Quer gritar e não consegue.
Em frangalhos, a única coisa que consegue fazer, tirar selfies e postar nas redes sociais.
Quem vê suas fotos, não percebe que por detrás daquele homem aparentemente bem sucedido, há um indivíduo caindo cada vez mais na escuridão.



sexta-feira, 5 de julho de 2019

domingo, 30 de junho de 2019

domingo, 2 de junho de 2019

Repetidamente



 Uma vez, ouvi algo mais ou menos assim: os fantasmas ficam aprisionados no mesmo ciclo de erros e sofrimentos. 

No primeiro momento, não liguei, mas, agora isso emerge na memória. 
Talvez, eu seja um espectro a vagar por aí e a repetir os mesmos equívocos para encontrar a luz no final do túnel. Pode-se achar que é a salvação, mas, é uma miragem provocada pelo desespero, que nem uma mariposa que se debate na lâmpada.

Eu me reconheço no seu desespero em encontrar uma saída e se perder, ainda mais, no labirinto. Há tantas luzes falsas que nos fazem se perder.
Preciso continuar, talvez, encontrarei o descanso tão desejado.

O ônibus abarrotado de gente aparece no horizonte. 

***
Faz sinal como os outros que estavam no ponto. Pergunta-se se eles sabem ou não de viverem a mesma coisa eternamente.
Tem a impressão de ouvir o barulho da asa da mariposa a se debater na lâmpada. 

sábado, 25 de maio de 2019

Certa sombra



Tenta capturar a imagem da borboleta pelo celular.
Conseguiu, mas, ela continua a voar.
Insatisfeita, a sombra retorna a sua jornada. Deseja por meio dos cliques roubar vidas para preencher seus espaços vazios. 
A única coisa que consegue é abarrotar as memórias dos seus dispositivos com várias fotos, que perdem o sentido ao decorrer do tempo.


terça-feira, 21 de maio de 2019

"NUDES"




Madrugada adentro.

Travessia.
De repente, percebo meu reflexo na vidraça da janela.
Estou só de cueca e me fotografo.
Faço isso, porque a imagem reflete a nudez de minha alma.
O vazio e o todo lá de fora comunicam-se com o vazio e o todo dentro de mim.
Eu me aproximo do divino, pois, no momento, estou despido de valores egocêntricos e egoístas construídos pela realidade humana.
A nudez absoluta é amoral e vai de encontro aos mistérios de Deus.
 ***

Horas depois, o post foi deletado da rede social. Nunca soube se foi denunciado e censurado pela imagem ou pelo conteúdo escrito.



terça-feira, 14 de maio de 2019

Transformação




O guerreiro cansado de lutar, abaixa a espada suja ensanguentada. De repente, sente uma presença e olha para um jardim destruído. 
Surpreende-se com as borboletas sobrevoando algumas flores e se lembra de um sonho antigo e esquecido. 
Companheiros o procuram e só  encontram a armadura e a espada.

Desapareceu com as outras borboletas por aí.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Expectativa e Realidade



O rosto pontilhado e irregular sou eu, um esboço que talvez nunca será terminado.

O outro com traços contínuos e simétricos representa como eu gostaria de ser; sem " em tempos", digos" e " ressalvo rasuras".

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Quando transbordei...




Eu nem sabia por quais motivos. O dia estava lindo e eu me sentia até bem. Eu achava?
Mas, agora, veio-me lembranças  de pensamentos que se faziam gotas e as quais gotejavam em câmera lenta em mim.
Eram átmos de segundos que percebia isso, mas, ligava o botão do automático.
Mesmo sem saber, as gotas-pensamentos se lançavam ao longo dos anos e comecei a me sentir represado. Fiquei com medo de algo explodir dentro de mim e me transformar em enxurrada.
Construí mecanismos de defesas para ficar sempre na superfície. Nunca gostei de profundidades reais e metafóricas. Arrumava algo para fazer, não podia ficar parado.
Resolvi tomar remédios com o intuito de dormir e parar de ouvir o barulho das gotas-pensamentos se espatifarem.
Então, um dia, aconteceu. Foi de repente e pegou todo mundo de surpresa. Transbordei um tsunami. Dizem que durou pouco tempo, mas, a destruição foi devastadora. Não me recordo.
Só me lembro de ouvir sirenes e de estar amarrado. As pessoas que me conheciam a vida inteira, encaravam-me com medo e ódio. Ouvi, "monstro". Estava tão exausto que permaneci em silêncio. Não pudia julgar aquelas pessoas de não mais me reconhecerem. Nem eu me reconhecia. Desejava não existir.

domingo, 31 de março de 2019

CRIME PERFEITO (Ideia revisitada que virou um conto inédito)



 O beijo roubado não é visto, mas, sentido.  A lua aparece por entre nuvens, sou empurrado.

Quem me compeliu, foge.

Sozinho no chão, ouço ruídos na mata. As nuvens ocultam novamente a lua.

Vejo um vulto de um cachorro ferido ao sair do matagal e nos encaramos. Somos reflexo um do outro. Ele vai embora, quando a lua reaparece.

Levanto e já penso numa desculpa, para ficar tudo bem em casa.

É sério, gente...



Apareceu esta aranha na minha cama e me encarou de um jeito estranho. Acho que ela é uma espiã comunista e está registrando tudo o que faço. Vocês precisam acreditar em mim. Precisamos defender nosso país da peste comunista. Tenho fontes sérias de que milhares de soldados cubanos invadirão o Brasil, além, dos venezuelanos que lançarão uma bomba atômica mais poderosa que Hiroshima aqui. Temos que nos unir com os EUA, ficaremos protegidos. A aranha está fazendo posição de ataque, ela quer me sequestrar porque eu sei de tudo. Sabiam que o leite condensado é cancerígeno? Sabia que existe uma vacina, a qual tem o poder de transformar as pessoas em homossexuais e comunistas? Eu sei de tudo, devido às estrelas que cochicham no meu ouvido. A Ursal não é fake e sim um projeto de poder comunista. Precisamos lutar contra e mudar tudo que está aí. É muita pouca vergonha, há casos de professores ensinando suruba para os alunos e até um lance de "banho de ouro". Inclusive, eles doutrinam os alunos com esta baboseira de "Direitos Humanos", palhaçada! Esses esquerdopatas desejam destruir o país e praticar um surubão imensurável. Precisamos lutar contra isso, devemos proteger as criancinhas de serem cozidas nas panelas dos comunistas da Ursal. A aranha solta uma fumaça vermelha, estou tonto. Ela dança freneticamente. Chega! Basta! Nossa bandeira nunca será vermelha, quem sabe laranja... A aranha está crescendo, ela vai me devorar. Morrerei com dignidade e com orgulho de ser patriota. Viva o golpe de 64!! A ditadura militar foi uma época linda, em que os pais podiam brincar com seus filhinhos na praça do bairro. Todos eram felizes, saltitantes e cantavam junto com os animais do bosque. Não existia assalto e nem violência. Não havia corrupção, pois, os militares possuem muita rigidez de caráter. Adeus! Brasil acima de tudo e Deus acima de todos! E obrigado os EUA por defender o mundo.

terça-feira, 19 de março de 2019

ENTRE OS MORTOS E OS VIVOS( CONTO REVISITADO)






Desde que me entendo por gente, quando a noite chegava e o sono vinha, ninguém dormia. Todos ficavam vagando por aí como zumbis e à espreita de quem está acordado, para mordê-lo. Ao amanhece, todos voltavam ao normal.

 No início, tinha medo os gritos da madrugada, mas, acostumei-me com os sons que minha família emitia. 

Ao crescer, curti minha infância e juventude sem muito drama. A única coisa que me incomodava, era os gritos ou quando alguém ficava a me observar, para ser se dormiam realmente.

O tempo passou, tive mulher e filhos. Eram zumbis, também. Até quis ser mordido por eles, para não ser mais diferente. É muito pesado ser diferente dos outros, além, de não sentir nada como aquela música:
“Socorro, não estou sentindo nada.
Nem medo, nem calor, nem fogo,
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir.”[1]

Quando surgiram as redes sociais, descobri o "grupo dos acordados". Entrei em contato e conversei bastante com os integrantes. A que dialogava mais comigo era Ana e nos conhecemos no mundo real. Era casada, também, e sofria de ver os seus na madrugada, caçando os acordados.

Nós nos apaixonamos, porém, não podíamos abandonar nossas famílias. Encontrávamos um jeito para passar a noite se amando trancados num quarto de motel, enquanto os zumbis noturnos perambulavam pela madrugada.

Será que somos os loucos?! Ou pertencemos aos poucos sãos que ainda existem no mundo? 

Não consigo responder esta pergunta. A única certeza que continuarei com Ana e nos ajudaremos na travessia entre os vivos e os mortos. 








[1] Arnaldo Antunes- Socorro



quarta-feira, 13 de março de 2019

CONTATO INSÓLITO( Um conto ainda inacabado)





“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” Clarice Lispector
“Jogue fora as luzes, as definições.
Diga o que você vê na escuridão.” Wallace Stevens

LX300: - Sonho de novo com a criatura. Vive na floresta densa. Há momentos que parece me perceber e se aproxima de mim. Mas, para e ouve o barulho do vento nas árvores. O estranho é que ouço o barulho da floresta no quarto e vejo as sombras das árvores. Mas, agora, é diferente. Fizemos contato e experimentei suas sensações ao caminhar pela cidade. É uma criatura extraordinária. Gosto de me sentir confuso, já fui fazer uma revisão dos meus circuitos. Falei tudo sobre a criatura para você. Não pode caçá-la, agora, só porque tem curiosidades de querer dissecá-la.
O caçador ouve sua história com muita curiosidade. Sempre teve inveja de seres genuínos, que vivem em si mesmos e sem o manto da moral para aprisiona-los. Queria caçar como eles, sem julgamentos.

Na mata cerrada a criatura sempre percebia cheiros vindos de outras terras e ensaiava alguns passos para fora, mas, desistia, tinha medo de se machucar. Esquecia-se do desejo repentino, distraindo-se com os outros elementos da brenha.
 Porém, em uma madrugada, foi atraída por uma caverna, que aparecera do nada na mata. Viu um corpo sem fragrância deitado na cama. A criatura o observava, ficou fascinada.  Lambeu-o, mas não sentiu nada.  Então, começou a visitá-lo sempre, quando as madrugadas se tornavam mais densas e começaram a se conectar através dos sonhos de LX300. Depois, ele interagia acordado com ela, sem precisar sonhar.
O tempo passou e, em certa madrugada, a criatura percebeu LX300 agitado. Repentinamente, sentiu-se observada. Por um triz, escapou de uma flecha. LX300 avançou contra o caçador, que o jogou para longe. A criatura avançou e olhou fixamente para o caçador, que sentiu um medo devastador por causa de seu olhar e, inclusive, ao ouvir os ruídos da floresta negra, fugiu.
A criatura se aproximou do LX300. Viu certas luzes surgindo na sua cabeça. Aflita lhe deu uma lambida. LX300 a agradeceu por mostrar um mundo tão diferente e belo. Entrou em pane e se apagou de vez e, na área atingida, uma violeta brotou.
A criatura o levou para seu lar e LX 300 tornou-se parte da mata. No final, realizou o desejo de se transformar em ser vivo.
Reconfortou-se na escuridão da floresta e nas lambidas da criatura.



domingo, 10 de março de 2019

Fugidio





 Sempre quis tatuar um passarinho. Mas, a ideia escapava e voava às profundezas do inconsciente.
Um dia, conseguiu pegá-lo. Quando o tatuou e saiu do ateliê, foi atacado por um pássaro que perfurou seu olho.
A tatuagem desapareceu e só ficou uma cicatriz com formato de pássaro.
Depois disso,  andava sobressaltado. Ouvia, constantemente, barulho de asas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Akira





Quando o sol bate no chão da sala, ela se deita para se "bronzear". Olho para sua sombra e vejo um lobo. Curioso, pois, contrasta-se com a figura meiga da Akira.
Mas, mesmo que eu tente humanizá-la ou torná-la fofinha, o instinto primitiva de lobo está enbernado em algum recanto de sua existência. 
Ele se manifesta nos momentos em que  está distraída a tomar um banho de sol ou quando caça moscas.
A sombra do lobo parece e me encara, diz com o olhar: " Estou aqui, mesmo que tente me aniquilar, por meio de biscoitinhos e carinhos  na barriga. "
Então, começo a pensar ... Será que o afeto pode ser, também uma relação de poder?  O homem se sente o PROTETOR, inibindo a verdadeira natureza dos animais?
E eu? Tenho um lado selvagem? 
Acho que a sombra do lobo de Akira me pegou...