domingo, 5 de fevereiro de 2012

Conto escrito em 24/06/2006



FLERTE


Ela me olhava pela janela. Estava malhando, podia sentir sua respiração ofegante sob o véu. Escancarei a janela, queria que visse o meu corpo musculoso. Quando nos encontrávamos no metrô, ela não dizia nada, mas, o corpo falava tudo. Tentava se esconder ainda mais naquele véu colorido. Será que ela sabe a dança do ventre? Perguntava-me sempre. Via algumas aulas na academia, ficava com tesão de ver as mulheres remexerem as barrigas definidas e com piercing nos umbigos. Será que ela queria dançar para mim. Sempre ouvi que os olhos são o espelho da alma. Podia ver seus olhos em chamas sob o véu colorido.

Ficamos alguns meses assim. Abria a janela e ela se escondia na escuridão do seu apartamento. Porém, um dia, a campainha tocou. Fui atender sem camisa, estava suado. Tive uma surpresa. Era ela toda coberta com um vestido que parecia uma manta espessa. Fez um gesto para eu me sentar. Começou a se despir, mas continuou com o véu. Atrás de tantos panos, havia a típica roupa das dançarinas da dança do ventre. Pegou na bolsa um cd e colocou no som. Eu não sabia se estava maluco ou se era realidade. Ela transbordava sensualidade, ao fazer movimentos desta dança milenar. Senti-me um califa.

Quando terminou, veio à minha direção. Sentou no meu colo. Percebi que estava segurando um pequeno frasco. Sem dizer uma palavra, me fez beber um líquido doce. A partir daí, não me lembro mais de nada.

Acordei no sofá. Estava coberto com o edredom e numa das mãos estava com o véu colorido. Fiquei atordoado. O que teria acontecido? Liguei a TV, como sempre fazia de manhã. Há primeira coisa que vi, um vagão todo retorcido e em chamas. Quando a repórter disse a localidade do atentado, senti um calafrio. Sempre passava por ali, para trabalhar e encontrava a mulher misteriosa do véu multicolorido. Minha mente estava confusa. Comecei a fazer conexões, quando a repórter disse que os sobreviventes e testemunhas viram, minutos antes, uma jovem coberta por véus entrar no vagão do metrô, segundos depois, aconteceu há explosão. Não podia ser! Dias depois, a suspeitas se concretizaram. Era ela. Maldita!! Por que fez isso? Poderíamos ter nos conhecido melhor. Mas, era uma mulher-bomba e foi até o fim na sua missão. 

Matou milhares de pessoas inocentes, mas, salvou-me. Senti ao mesmo tempo culpa e felicidade por estar vivo.

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