domingo, 31 de maio de 2015

OBJETOS ( CONTO ANTIGO E RESSUSCITADO)

Imgem encontrada no google



O menino pega escondido a caneta de ouro e de estimação do pai. Ele tinha ganhado do avô do menino, quando se formou na faculdade: – Filho, você é dotô, tô orgulhoso.

O garoto corre para o quarto, começa a desenhar. Depois, vai aos aposentos da mãe. Vê uma echarpe sobre a cama. Gostava de ir à janela para que o vento a esvoaçasse. Imaginava que voava nela, como o Aladin no tapete mágico. Esta echarpe foi um presente de um antigo namorado de sua mãe, quando estava em Paris. Ela nunca deixou de amá-lo, mas gosta do marido também.

Ele brinca com carrinho de madeira, que foi feito pelo seu avô paterno; quase não o via. Não sabe o motivo de o avô não visitá-lo, só ouve comentários: – O patrão tem vergonha de sua origem...

Larga o brinquedo, vai ao quarto fechado pela mãe. Furta a chave da porta, que a mãe esconde junto com as joias. Quando entra no recinto, a primeira coisa que faz é olhar a foto da irmã morta. Era uma moça de dezoito anos. Morreu de uma hemorragia... Ninguém fala no assunto, o garoto só escuta frases soltas e murmúrios. A foto da irmã foi tirada em Petrópolis, estava com um vestido azul que a avó materna lhe deu de presente. Sobre a cama, há uma boneca loira de olhos azuis que o pai comprou para sua irmã de presente. O garoto imagina ser sua princesa, inventa histórias cheias de aventuras e que é um guerreiro que a salva das situações mais perigosas.

De repente, uma xícara se quebra. O grito da mãe o assusta e vai ver o que está acontecendo. Vê o rosto da mãe desfigurado. Ela quase bate na empregada, por quebrar a frágil relíquia. Comprou-a em um antiquário em Praga. O vendedor lhe disse que pertencera a um rei famoso de nome complicado. Mas ainda bem que não foi o uísque de doze anos do patrão, presente do embaixador inglês. O salário da empregada seria descontado até o dia de sua aposentadoria.

O pai chega, veio no carro que toda vida sonhou ter. Nunca se cansa de olhar a casa, onde vive agora. Lembra-se de que a mulher lhe diz sempre:

– Foi habitada por pessoas influentes.

A noite chega. O menino adormece com um livro nos braços. Uma antiga babá o lia para ele, quando era mais novo. Quando cresceu a mãe dispensou os seus serviços, não queria concorrência...

Ele sempre se lembra da "bá", ela sempre o protegia dos fantasmas que rodeavam os objetos da mansão centenária. 


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