domingo, 23 de dezembro de 2012

CEIA DE NATAL( conto antigo)




APARTAMENTO 101

 Antônio está de cueca, sentado na poltrona. Bebe cerveja e assiste a tevê. O telefone toca... Uma... Duas... Várias vezes. Ele não atende.  Sempre fica triste nesta época, lembra-se das pessoas que já se foram. A campainha toca e ele se arrasta até a porta. Quem poderia ser?  É Marinalda, vizinha do 202:

– Vem passar o natal lá em casa, seu Antônio, tem tanta coisa...

– Não sei... Não sou boa companhia...

– Se demorar muito, venho e te carrego pelas orelhas.



APARTAMENTO 202

 Marinalda mora com o filho, que é muito frágil de saúde.  Para animá-lo, ela sempre inventa festas.

  Só é ela e ele.



APARTAMENTO 303

Laura está na praia. Olha fixamente o mar. Sente falta de alguém... Decide caminhar pelo calçadão e, depois de alguns passos, esbarra num homem que parece conhecido.

– Você é o vizinho do 501, não é?

– Sim. Sou o Pedro.

– Pois é, não te reconheci de primeira, quase não te vejo. Moro no 303.

– Sei. Eu trabalho muito...

– Eu sou Laura...

– Muito prazer Laura!

_ Pensei que estivesse viajando.

_ Não. Eu vou ficar em casa mesmo!

_ Ah! Eu vou passar o Natal com a Marinalda do 202, se não tiver outro compromisso!

_ Não fui convidado.

_ Foi sim, por mim, então o que me diz?



APARTAMENTO 501

Pedro não para em casa e não possui vínculo com ninguém. Devido à sua "profissão". Precisa ser discreto para não levantar suspeitas e, às vezes, de tão discreto chega a ser  imperceptível.

Como nunca fica muito tempo num mesmo lugar, prefere não ter motivos para sentir falta dos lugares por onde passa, mas desta vez um belo rosto o seduziu. A jovem Laura com seus cabelos negros e seu sorriso triste.



A CEIA DE NATAL

Pedro e Laura trocam olhares. Marinalda e Antônio apreciam a felicidade de Lucas diante do presente de Natal: um computador.

 Estão entregues à felicidade, principalmente, por terem um breve abrigo da solidão.






Um comentário:

Angela disse...

gostei! emaranhado de pessoas e situações e fico pensando no por que as pessoas resolvem sentir solidão nestes dias, são como todos os outros... acho uma tolice sem cabimento, mas o ser humano adora um drama, basta uma desculpa.