sexta-feira, 28 de setembro de 2012

INVENÇÃO DA MEMÓRIA



De Salvador Dalí, A persistência da memória

"A memória é essa claridade fictícia das sobreposições que se anulam. O significado é essa espécie de mapa das interpretações que se cruzam como cicatrizes de sucessivas pancadas. Os nossos sentimentos. A intensidade do sentir é intolerável. Do sentir ao sentido do sentido ao significado: o que resta é impacto que substitui impacto - eis a invenção." Ana Hatherly, in 'A Cidade das Palavras'

I.


Dudv: “ Lembra-se de quando a gente se perdeu em Praga?”

Ana: “ Nunca estivemos lá.”

Dudv: “ Foi com Antônia então. Caramba! Fundi vocês duas nas minhas lembranças.”



II.

 De repente, me vejo em você. Continuo jovem e me comportando de um jeito que nunca me dei conta. É assim mesmo que você me via? Agora, quem sou? Sinto-me outro morando em suas recordações e sonhos.


III.



- Lembro-me que a casa dos meus avós era enorme e que brincava por todos os cantos. 

- Filha, a casa dos seus avós era pequena. Quando somos pequenos, enxergamos tudo grande e com muita fantasia.

IV



– Quem é este rapaz na sua carteira?

– Não percebe que esta foto é antiga?

– É alguém do passado?

– Está brincando? É você há vinte anos.

– Mas porque não colocou uma foto recente minha? Neste tempo, eu era outro.




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