"Porque eu fazia do
amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu
amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama
verdadeiramente."
Clarice Lispector
Antes da faculdade, Lauro e
Laura viviam suas solidões, apesar de terem amigos. Quando se
encontraram foi amor à primeira vista. E tinham um segredo em
comum, embora não o conseguissem definir cvom clareza.
No início, muitos os achavam interessantes, mas,
com o tempo, as atitudes do casal causavam estranheza aos amigos e
familiares. Lauro e Laura se beijavam, se davam as mãos e não se separavam por
nada, porém, pareciam não ter contato sexual.
Se alguém perguntava como era o sexo pra eles,
desconversavam. Quando estavam com amigos no quarto, olhos curiosos
observavam e ficavam intrigados ao vê-los deitados, dormindo profundamente ou
abraçados assistindo a tevê.
Amigos e familiares ficavam preocupados e sugeriam que
esquentassem a relação. Que comprassem roupas sensuais e brinquedos
eróticos. Os namorados não entendiam esta pressão para fazer sexo. Não tinham
vontade nem interesse em conhecer esses objetos.
Em uma ocasião, numa viagem entre conhecidos, um
colega agarrou Laura para ver se com a "pegada" dele, a moça ia se
viciar em sexo. Ela ficou apavorada e Lauro a salvou da situação, chegando
a lutar com o abusado. Lauro passou por momentos constrangedores,
também. Algumas meninas o paqueravam e quando não eram
correspondidas, chamavam-no de viado.
À medida que o tempo passava, a situação tornava-se
cada vez mais opressora. O respeito por eles não existia mais. Resolveram
cortar relações e viviam como exilados.
Anos depois, assistiram a um programa de
televisão, cujo tema era assexualidade. Os dois se olharam e se
perceberam.
Então, sentiram-se leves. Não eram os únicos
neste vasto mundo.
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