Hitler criança
Fiquei estranho e
joguei o livro do outro lado da cama e olhei o teto por algum tempo. De
repente, senti que estava caindo em um buraco repleto de imagens conhecidas que
não conseguia defini-las. Acordei em um lugar antigo, limpo e bem arrumado.
Parecia que eu estava numa casa de bonecas. Segurava um revólver na mão e achei
isto muito estranho. Andei pelo recinto e entrei num quarto que parecia ser de
bebê. Fui ao berço e vi um neném rindo para mim. Eu o conhecia de algum lugar.
Então, percebi o que deveria fazer, mas, não podia carregar a dor e a culpa
pelo mundo todo. Acordei assustado, peguei o livro que tinha o poema. Se
pudesse fazer isto, quem me garantiria que o mundo seria melhor? A História e
os noticiários nos mostram que há tantos “Hitlers” por aí e ainda ocorrem
muitas atrocidades neste vasto mundo. Quer saber de uma coisa, não quero ser o
SALVADOR, prefiro viver minha vidinha mais ou menos.
Mas, amigos, o que
fariam?
***
Curiosidade...
Houve um comercial da Mercedes mata Hitler quando criança e gera polêmica. Juro que escrevi o texto
antes de saber do comercial. O conto foi inspirado no poema Primeira foto de
Hitler de Wislawa Szymborska
(poeta polonesa,
laureada em 1996 com o Nobel da Literatura)
E quem é essa gracinha de tip-top?
É o Adolfinho, filho do casal Hitler!
Será que vai se tornar um doutor em direito?
Ou um tenor da ópera de Viena?
De quem é essa mãozinha, essa orelhinha, esse olhinho, esse narizinho?
De quem essa barriguinha cheia de leite, ainda não sabemos:
de um tipógrafo, padre, médico, mercador?
Quais caminhos percorrerão estas pernocas, quais?
Irão para o jardinzinho, a escola, o escritório, o casório
com a filha do prefeito?
Anjinho, pimpolho, docinho de coco, raiozinho de sol,
quando chegou ao mundo um ano atrás,
não faltaram sinais na terra nem no céu:
gerânios na janela, um sol primaveril,
a música de um realejo no portão,
votos de bom augúrio envoltos em papel crepom rosa.
Pouco antes do parto, o sonho profético da mãe:
sonhar com uma pomba - sinal de boas novas,
se for pega - vem uma visita muito esperada.
Toc, toc, quem é, é o coraçãozinho do Adolfinho que bate.
Fralda, babador, chupeta, chocalho,
O menino, com a graça de Deus e bate na madeira, é sadio.
parecido com os pais, com um gatinho na cestinha,
com os bebês de todos os outros álbuns de família.
Não, não vai chorar agora,
o fotógrafo atrás do pano preto vai fazer um clique.
Ateliê Klinger, Grabenstrasse Braunau.
E Braunau é uma cidade pequena, mas respeitada,
firmas sólidas, vizinhos honestos,
cheiro de massa de pão e de sabão cinzento.
Não se ouve o ladrar dos cães nem os passos do destino.
Um professor de história afrouxa o colarinho
e boceja sobre os cadernos.
Wislawa Szymborska
(poeta polonesa, laureada em 1996 com o Nobel da Literatura)