O QUADRO (nova versão para um conto antigo)

Crédito da foto: O quadro de Alice da novela A SUCESSORA

"À medida que os filhos crescem, a mãe deve diminuir de tamanho. Mas a tendência da gente é continuar a ser enorme."Fonte - Jornal do Brasil (1968)Autor - Lispector , Clarice

I

Lauro tinha o quadro da mãe na sala do casarão antigo, onde morava desde criança. Sua nova namorada Brenda detestava o quadro, pois o olhar da mãe de Lauro era ameaçador.  Havia uma pessoa que sentia o mesmo, era Antônio, melhor amigo de Lauro.

Entretanto, para os outros, o quadro transmitia paz e conforto.  As ex-namoradas de Lauro apreciavam muito a pintura e ficavam tristes por não ter conhecido a mãe de Lauro.

Houve até um caso peculiar, certa namorada do rapaz ao observar o quadro, confessou que havia traído Lauro e que não podia esconder isso, porque sempre fora tão bem tratada por ele e a pintura de sua mãe a confortava. Distanciaram-se por algum tempo, mas logo retornaram a ser amigos.

Entretanto,  algumas pessoas, sem explicação, desapareciam tragicamente da vida de Lauro...

II

Em um quarto de motel, longe da cidade, Brenda e Antônio estão estirados na cama, depois de transarem a tarde inteira. Começam a conversar...

- Antônio, não aguento mais o babaca do Lauro! E o quadro daquela velha ridícula? Depois de casada e Lauro sofrer "um acidente fatal", irei queimá-lo e reformarei a mansão.

- Tenha calma, a gente vai pegar essa grana preta. Lauro é um babaca.

- É tão tonto que dá náusea!

Riram e transaram novamente.

III

O clima do casarão tornava-se cada vez mais pesado para Brenda e Antônio. Sentiam-se vigiados pela pintura. Os olhos da mãe de Lauro pareciam de águia.

Antônio não conseguia mais entrar no casarão. Um dia, sofreu um acidente terrível e morreu. Brenda quando soube da notícia olhou para quadro e, no primeiro momento, soube que foi a mãe de Lauro a culpada. Pegou uma faca e avançou em direção ao quadro.

Quando Lauro chegou do hospital, muito triste por perder um amigo, encontrou o corpo de Brenda no chão da sala. Tinha sido degolada.

Então Lauro teve a revelação. Aproximou-se do quadro e disse:

- Mais uma vez obrigado.

IV

Meses depois, Lauro casou-se com a ex que o tinha traído. Quando ela engravidou e comunicou ao marido na sala, a imagem da mãe de Lauro esboçou um sorriso e seus olhos brilharam.

EVANDRO E LAURA

Cena do filme De repente é amor- A lot like Love

Viviam juntos e apaixonados. Nas redes sociais não tinham perfis separados, pelo contrário, compartilhavam o mesmo e postavam fotos sempre juntos, apaixonados, felizes em viagens e textos de juras de amor esterno. Todos os consideravam o casal perfeito.

Porém, um dia, sumiram das redes sociais. Foi uma surpresa, muitos se perguntavam o que aconteceu com os “pombinhos apaixonados”.

Amigos próximos de ambos comentaram que a separação não foi por motivo de traição ou problema financeiro. Simplesmente, começaram a sentir uma solidão avassaladora, quando estavam juntos. Tentaram muito evitar a separação, mas o abismo entre eles aumentava vertiginosamente a cada tentativa.

Despediram-se em silêncio.

O GATUNO( mini antigo de 2009)... Para quem ainda não leu

Imagem encontrada no google

Não se via o personagem do filme, mas a câmera tremida e a respiração ofegante davam a sensação de que corria. Quando a película terminou, não consegui me levantar do sofá; estava muito cansado. Ouvi alguém bater a porta e, de longe, escutei passos de corrida na rua. Descobri, no dia seguinte, a casa toda revirada e alguns objetos roubados. O título do filme surgiu na cabeça.

EXPLOSÃO

O verde que nasce do esgoto, a explosão da vida nos lugares mais lúgubres.

ACUMULADORA

Imagem encontrada no  google

"A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau." Mark Twain

Ninguém entendia os motivos que levavam aquela senhora chorar de alegria. Mas, ela sabia o significado de jogar um papel de bala no lixo. Essa “simples” atitude foi dolorida e o pontapé inicial para se libertar de um habito de não conseguir jogar fora a montanha de lixo acumulada ao longo dos anos em sua casa. 

AMIGOS

Imagem encontrada no google

- Mamãe, que amigo uso esta noite?

- Hoje é dia de balada?

- Sim.

- Tem um ótimo no que acabei de lavar e colocar no closet.

- Não, mãe, aquele usei bastante e estou enjoada dele.

- Então joga no lixo, filha. Não é bom usar coisa gasta. 

COMPLETAMENTE SÓ

Imagem encontrada no google

Não suportava mais ser “invisível” para as pessoas. Desde pequeno o tratavam com indiferença e diziam: “ Nem fede e nem cheira...”. A cada ano que passava, a solidão tornava-se cada vez mais pesada.

Um dia, com ódio do mundo, jogou uma lata de refrigerante com toda força da janela do ônibus, provocando um acidente terrível. Nem ligou, estava imerso em si mesmo.

Quando chegou à sua casa, encontrou o apartamento cheio de gente que gritava com ele. No início, surpreendeu-se, mas, começou a gostar dos insultos que rompiam o silêncio sepulcral, o qual o cercava por vários anos. Um homem tentou socá-lo, só que a mão atravessou o rosto do solitário sem o machucar. Então, todos na sala perceberam que eram fantasmas e que o único que os via era aquele ser estranho e sozinho.

Pela primeira vez, o solitário deu uma gargalhada e gritou:

- Nunca mais me sentirei só!

Nem se importou com o  protesto dos fantasmas, amaldiçoando-o por toda eternidade.

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Curioso que esse conto veio, quando estava dormindo na sala de tarde.  

Afago

Quando assistia filmes de terror, acordava no meio da noite assustado. Então, a mãe vinha e o afagava até adormecer. No dia seguinte, o pai o chamava para ir à escola e o menino perguntava pela mãe.

- Filho, já disse, ela foi pro céu e se tornou anjo!

- MÃE, ELA VAI ESTOURAR

Foto tirada pelo celular

Tentou salvá-la, mas a mãe segurou sua mão com força. Quando a bola de encher estourou, chorou. Mas, não sabia se era pela bola ou devido à mãozona materna apertando a sua, que era pequenina.

GOLFADA

Foto tirada do meu celular

O despertador toca quero dormir mais um pouco o sol bate no meu rosto vou tomar café a cachorra pula em cima de mim sua pata bate no meu saco xingo ela mas a danada me olha com aqueles olhos meigos que dissolve a raiva momentânea um turbilhão de pensamentos na cabeça o tempo correndo tomo café calço o tênis para caminhar aí tudo fica mais claro surgindo os pontos as vírgulas a coesão a coerência até que esta segunda-feira está um dia bonito

CHUVA LÁ FORA...( conto antigo de 2009)

Foto tirada no celular

Mesmo se secando com a toalha e trocando de roupa, tem a sensação de estar molhado. Comenta com alguém que percebe o mesmo. Apesar de ele estar com a pele seca aparentemente, quando é tocado, dá a impressão de que acabara de sair do banho sem se enxugar. O outro tem uma teoria:

– A chuva lá fora está tão molhada que encharcou sua alma. 

Notícia plausível em um futuro próximo:

Imagem encontrada no google

" Mais uma pessoa é condenada à morte por desperdiçar água. Estava horas tomando banho de mangueira"


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BOMBA NEWS

Minha Foto

Árvore foi presa porque um juiz tropeçou nela. A autoridade alegou desacato, porque não desviou a raiz. 



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IDÊNTICAS

Imagem encontrada no google

Heleno tinha temor de morrer. Certa madrugada de lua cheia, sonhou que estava caminhando em uma rua vazia e encontrou duas garotas idênticas de mãos dadas. Perguntou o nome delas e lhe responderam que já sabia quem eram.

Ao acordar, sentiu-se mais leve. Começou a viver sem medo da morte e aproveitou melhor os momentos. Lembrava-se constantemente do sonho que teve com as duas meninas, porém vinha o turbilhão da vida, empurrando a recordação para as profundezas do inconsciente.

Com passar do tempo, já bastante idoso e doente, ele olhou a janela aberta. De repente, reencontrou as duas meninas no parapeito da janela. Sorri e as identificou:

- Vida e Morte. 


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Ao som: 

Hora do almoço

Imagem encontrada no google

Quero relaxar um pouco, mas surge a preocupação com a falta de água, o medo de me transformar em retirante com sede e faminto; apreensivo se invadirão o Brasil e o país se tornar em uma ditadura; a conclusão amarga surge ao descobrir que serei um dos primeiros a me transformar em zumbi, pois não sou rico ou cientista ou militar e nem vivo em New York; a pergunta que sempre me aporrinha... Onde estarei daqui a cinquenta anos? O problema é que já estou com 36... Acabou meu horário de almoço, vou trabalhar um pouco...

AMORAL X IMORAL

Imagem encontrada no google 

Minha sobrinha: - Zumbi é melhor do que muitas pessoas vivas por aí.

Eu: - Por quê?

Minha sobrinha: - Eles matam porque têm fome e não por pura maldade, como se vê nas notícias de jornal.

Um conto antigo, para quem ainda não leu!

Joan Miro

A FENDA

– A Arte Moderna foi um movimento artístico do fim do séc XIX, que fez ruptura da imagem com a arte, desconstruindo os valores tradicionais artísticos...

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Uma fenda surgiu no quadro-negro.

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– Os artistas passam a experimentar novas visões, através de idéias sobre a natureza, os materiais e as funções da arte, tendendo com frequência à abstração...

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Do outro lado, existia um mundo completamente diferente do que eu conhecia. Perdi a autoridade de professor, não havia mais razão de continuar com hierarquias.

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– O discurso da Arte Moderna rompe com a ideia de mimese do real...  

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Todos estavam com muita fome. Começávamos a caçar bichos que pareciam pinturas impressionistas e a pescar peixes no céu violeta. Diplomas em faculdades estrangeiras, mestrados e doutorados, tudo virou pó. 

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– O artista e escritor belga Michel Seupher  comentou que teria que existir uma pintura totalmente independente da figura e como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito. Tal pintura almeja comunicar-se com os reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência. 

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Como sinto falta das reuniões em casa de amigos e na Universidade. Debatíamos teorias, pensamentos... Sinto falta das exposições, das bienais e dos livros da minha biblioteca particular.

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– A Arte Contemporânea está relacionada com a Pós-Modernidade. O pós-moderno é caracterizado pela diluição do tradicionalismo em função da novidade e pelas formas contemporâneas de olhar na direção do passado. O sujeito pós-moderno é fragmentado. Tudo acontece em tempo real, o tempo se desvincula do espaço físico e suas relações sociais são diluídas.

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Meus alunos tornaram-se feras vorazes. Distanciei-me, não queria perder a minha civilidade. Meus pais me educaram muito bem, não me transformarei numa besta. Foi uma batalha sangrenta comigo mesmo. Dividia o meu tempo relembrando todos os livros que li e procurando comida. Alimentava-me das criaturas amórficas que nadavam no céu-violeta e comia algumas frutas de formas geométricas. 

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– Mesmo recebendo a herança da ruptura da Arte Moderna, a arte Contemporânea busca a sua identidade e discute outras questões que estão acontecendo agora como: meio ambiente, política, sociedade, transcendência, tecnologia e o indivíduo.

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Criaturas-sombra me rodeavam, instintivamente comecei a falar de arte em geral. À medida que transmitia o conhecimento, minha memória ficava mais viva. Eles se reuniam para me escutar todos os dias. 

Voltei a ter o prazer de ensinar e me sentir importante.

E AGORA?

Certo dia...

 

Cena do filme OS INOCENTES

Um aluno novo apareceu na escola, ninguém sabia direito quem ele era. Quieto, sempre assistia à aula de Dona Lucinda com uma atenção particular. Então, certa manhã, dirigiu-se a ela:

- Professora, ser bom é fazer coisas boas?

-Sim...

- Mas, quando se faz coisas boas e têm pensamentos maus?

De repente, o alarme tocou e as crianças correram para o recreio. O novo aluno lhe olhou fixamente e lhe disse sorrindo:

- A reposta não está no seu livro? Nem tudo está escrito nele, professora.

Foi embora como se fosse sonho, nunca mais voltou à escola.

Apesar de aparentar preocupação com o menino, Dona Lucinda sentiu-se aliviada por ele nunca mais ter aparecido.

ENCANTO

Imagem encontrada no google

Às vezes, gosto de tomar banho com a luz apagada, fico mais relaxado. Porém, hoje, aconteceu algo surpreendente. A lua iluminou meu corpo molhado e me senti enfeitiçado por ela. Tampei os ouvidos, que abafou o barulho da água do chuveiro, transportando-me para uma praia deserta iluminada pela mesma lua, o encanto durou alguns minutos. O banheiro ficou mais escuro, vi que uma nuvem a encobria, tornando-a fantasmagórica. Terminei o banho e liguei a luz. Ainda sinto o encanto desse momento fluindo em mim. 

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alteridade

Ao anotar o óbito no registro de alguém, imagino outra pessoa fazendo o mesmo comigo. Já estou me acostumando com minha finitude.