sexta-feira, 31 de julho de 2015

Aos poucos dominam tudo...


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Verifico as portas, elas precisam estar fechadas para ninguém entrar, mas, os ruídos de fora perpassam nas frestas das janelas. Tenho a sensação de que a casa está sendo invadida. Aos poucos, eles dominam tudo. Será que nunca ficarei seguro? Na verdade, os outros estão já há muito tempo dentro do meu lar? Ouço pingos d'água no tanque, cacete! A conta de água ficará nas alturas... Tenho receio de abrir a porta, porém, a cachorra não está latindo. Logo, não há problema por enquanto. A cada dia que passa, percebo que eles estão ganhando terreno e a invasão é questão de tempo. Lembro-me de um conto que li há muito tempo: Casa tomada de Júlio Cortázar. Sinto a angústia dos personagens, acho que estou na mesma situação, quando ouço música alta, motos barulhentas, buzinas e pessoas falando alto pela rua. Preciso verificar bem se está tudo fechado. Pelo menos, agora, o silêncio ecoa e preciso aproveitar este intervalo de paz.
***

Quando foi dormir, seu quarto se fez uma rua movimentada.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

MAIS UM DIA


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Atravesso a rua e vejo um policial armado e com cara de bravo, mas, seus olhos espelhavam o medo do descaso que sofremos desde o início dos tempos. Estamos no mesmo barco furado, mesmo que pareça que somos de lugares opostos. De repente, uma gargalhada alta de um bêbado nos assustam e  trocamos olhares. Somos cúmplices de um sentimento de desejar voltar logo para casa e sobreviver a mais um dia.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Quando a juventude foi embora...

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Ela procurou outros caminhos para viver, fez faculdade, leu outros livros e chegou até a participar de uma oficina de poesia. Sentiu-se livre por andar na rua sem ser assediada.

Aprendera a lidar com a solidão, uma proeza que nunca pensou que conseguiria. Hoje, está mais seletiva e, quando arranja companhia, aproveita como nunca tinha feito antes.

Às vezes, gosta de se relembrar do passado e vê o álbum de fotos de quando ganhou o concurso de beleza de sua cidade natal.


A JOVEM E A VELHA( conto antigo)

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Casado há trinta anos com sua esposa, respeitava-a, mas não a amava mais. Apesar de ter a consciência de não ser um homem jovem, achava-a velha para ele.

Começou a traí-la, com uma amante bem peculiar. Ao dormir, sonhava com a esposa trinta anos mais nova, uma moça bonita e atraente. Ele, então, relembrava os momentos quentes que passou com ela no passado e a imaginar outras aventuras eróticas, com a versão mais nova de sua mulher. “Será que isso é traição?”, perguntava-se para si mesmo.

Não conseguia compreender o fato de amar e não mais a mesma mulher. Via-a dividida em duas; a jovem e a velha. Era apaixonado pela primeira e desprezava a segunda.

Um dia, a esposa cansada da indiferença quis conversar francamente. Saber o motivo de ele estar indiferente e se tinha uma amante. Ele, pressionado, disse a verdade.

A mulher ficou arrasada, preferiu que ele estivesse apaixonado por outra. Disse ao seu marido, que o passado não volta. Se ela envelheceu, ele também.  Saiu de perto dele e ficou num canto sozinha chorando.

Depois de se acalmar, preparou a jantar como fazia há trinta anos.


CLAMANDO POR JUSTIÇA( conto antigo)


 Resultado de imagem para notícias

   - Na última sexta-feira, um homem foi morto e esquartejado, num terreno baldio no subúrbio do Rio de Janeiro.


Quando entrou na faculdade de comunicação social, o rapaz Sérgio estava cheio de planos.  O principal deles era montar uma agência de notícias.


- Uma mulher foi estuprada, assaltada e morta perto de sua casa. Mais um caso de violência brutal na região zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.


 Ele queria viajar e fazer coberturas nos países em guerras. Descobrir grandes furos de reportagens.


-  Pai de santo manda um homem matar sua irmã. O motivo do crime é que sua irmã estava namorando seu antigo amante.”


Ao terminar a faculdade, os cursos de especialização e estágios, foi em várias editoras de jornais e de revistas, emissoras de TV e rádio. Mas, seus projetos mirabolantes não agradaram a ninguém.


- Boa noite, esse é o meu primeiro programa de televisão e ele se chama: Clamando por justiça. Meus primeiros convidados são: Jacinta uma moça pobre e do campo que engravidou do filho da patroa. Rodrigo seu sócio roubou sua mulher e o seu dinheiro. Também, temos o Fernando que deseja conhecer o pai, mas sua mão engravidou num baile e não sabe quem é seu pai. Essas pessoas precisam de justiça para sobreviver.


Cansado de procurar trabalho e já precisando de dinheiro para ajudar sua família, o rapaz arranjou emprego num jornal popular.


- Gente, isso é um absurdo!! Essa moça, a Jacinta, uma moça inocente do campo, pobre e grávida foi abandonada à própria sorte por esse filhinho de mamãe!! Isso não pode ficar assim, ela não é papel higiênico para ser usada e depois ser jogada fora. Usou até lamber os beiços meu filho, agora assuma as consequências.

Desiludido de seus sonhos grandiosos decidiu seguir a linha popularesca e ganhar dinheiro. Inventou bordões e escreveu palavras vulgares no jornal, onde trabalhava. Começou a fazer sucesso e fama. Logo foi contratado por uma rede de televisão para comandar o programa CLAMANDO POR JUSTIÇA.

Muitos o consideram um anjo e os outros, a personificação do capeta.

 


terça-feira, 28 de julho de 2015

LAURA, A ZELOSA



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Sempre cuidou muito da filha Aline, mas quando dormia um pouco de tarde, não via a menina pular da janela do quarto para brincar com a vizinha.

Um dia, o pai da vizinha apareceu na porta de Laura, dizendo que a filha dele estava grávida. Laura olhou para Aline e desmaiou de choque. Pois, tudo que construíra se ruiu.
Aline era um rapaz. Mas, ele lhe deu várias netinhas que amavam ficar sobre os cuidados da avó Laura, a zelosa.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

LUCRÉCIA, A AMIGA


Imagem encontrada no google de uma atriz atuando numa cena




Muito preocupada com as amigas, ficava primeiro com os rapazes que elas se interessavam para ver se eram dignos delas.

TALITA, A SANGUINÁRIA

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Tonava-se cada vez mais delicada e serena quando terminava de escrever mais um romance sobre personagens brutais e assassinos. 

CLARICE, A CUIDADORA


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Cuidava do pai com muito carinho, mesmo quando o senhor dava muito trabalho devido à senilidade. Na verdade, ela queria que o pai vivesse muito. Era a realização de sua vingança ao ver a imagem do déspota da família reduzido a nada.


sábado, 25 de julho de 2015

ZORBA, O GREGO


Paulo nunca entendeu o motivo do avô falar tanto deste filme. Achava a história chata e não gostava dos exageros do protagonista. Anos depois, assistiu-o novamente e gostou. Pela primeira vez, entendeu o avô, aliás, entrou em contato com ele depois de tantos anos de sua morte. As lembranças explodiram e ele as fruiu sem pensamentos.
Sentiu-se livre por breve momento.




Enquanto isso no mundo maravilhoso do Facebook...



AMIGA QUERIDA

Estou muito triste com a fofoca que está fazendo sobre de eu estar flertando com seu marido.  Quando soube deste boato, chorei muito. Sempre fui uma amiga verdadeira e você me traiu desta maneira. Amiga, ao invés de futricar e dizer inverdades sobre mim, por que não vai se cuidar? Desculpa, está uma baranga depois de seu terceiro filho. Falei para você não raspar os danoninhos das crianças e o restinho de “fofuras”, aqueles biscoitos horrorosos que parecem isopor.

Tudo bem que nunca foi muito bonita, mas sempre foi jeitosinha e arrumadinha... Não sou eu que se deve preocupar e sim com as “novinhas” que seu marido chama para sair depois da academia. Sabe como que é, amiga, o homem não precisa ser lá muito bonito, porém se é malhado no braço( mesmo tendo as pernas finas e uma barriguinha de chope) e um carrinho maneiro, terá sobremesa com certeza. Seu marido se enquadra neste quesito. Confesso que ele tentou me pegar, mas ele não faz meu tipo e, para mim, homem de amiga é mulher e eu não sou lésbica.  

Enfim, amiga, não adianta fazer trabalhos contra mim, tenho o corpo fechado e a consciência limpa de ser honesta. Não me use para extravasar suas mazelas, querida.  Matricula-se numa academia e pare comer que nem uma esfomeada os restinhos de comida que seus filhos deixam pela casa.

Quem sabe assim reconquiste de novo seu marido. Mas, não ficará maravilhosa como eu, mas jeitosinha de  novo.

Escreverei um poema que reflete minha alma...

Quando quero correr de pés descalços, sou menina...
Quando quero seduzir, sou mulher...
Quando quero me defender, sou fera...
Logo, sou menina-mulher-fera
Sou simplesmente e eternamente

Sondra Kaillannyy

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Morri...


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Mas, a Morte não vem me buscar e nem me retorna pelo whatsapp. Minha única companhia é a chata da Eternidade, como é monótona.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A curiosa e o medroso



Ela era destemida em demasia e ele muito prudente.

Ela o ajudava a ser mais corajoso para viver a vida, enquanto ele a ensinava ser mais cautelosa, evitando perigos que podiam ser evitados.

Ela se tornou um pouco ele.

Ele se tornou um pouco ela.


Saltaram no escuro rumo ao desconhecido de um relacionamento de indivíduos tão diferentes, como estas gotas que estão prestes a caírem na grade da janela.

Engarrafamento




Mais horas perdidas em um engarrafamento e em pé no ônibus. Detalhe, estamos no inverno e a condução está com o ar condicionado ligado no volume máximo de frio. Tento me distrair escrevendo no celular, mas não consigo achar as palavras certas para expressar o que sinto. Tudo é tão sentido e vazio, às vezes. Será que esse engarrafamento é de hoje ou estou preso num labirinto de congestionamentos? Será que meu lar ainda existe? O trânsito começa a fluir, seja o que Deus quiser...

segunda-feira, 20 de julho de 2015

- Feliz dia do amigo, meus queridos!!



Disse o funcionário do museu para as múmias milenares que ficavam expostas nas vitrines. Elas agradeceram através de sussurros ao amigo verdadeiro, que não as olhavam com curiosidade histórica e nem mórbida, mas, respeitosamente. Já os outros funcionários acharam que o museu estava amaldiçoado por alguma entidade, como naquele filme americano de muito sucesso...

sexta-feira, 17 de julho de 2015

BRINCAR




Brinco de tirar foto. Desfoco, corto, recorto e sobreponho filtros de fotografia sem nenhum tipo de critério artístico. Gosto de brincar de ser artista. Abro meu porão interno e as criaturas que habitam o meu eu mais profundo ficam livres, temporariamente, para arejarem a cabeça. É um jeito que encontrei de ficar são, inclusive, a lidar com meus recalques.


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Cuidado com que deseja...


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Crise por toda parte. Medo do futuro. Caminho. Atravesso a rua com cuidado, trânsito frenético. Com certeza se estivesse em NY, minha vida seria muito melhor. Agora, andaria no Central Park. Um cara esquisito vem na minha direção, atravesso a rua de novo. Corrupção e esculacho por toda parte! Preciso falar com meu contador, ele TEM que dar um jeito de ludibriar o Leão. Estou sufocado de impostos. Quem me liga?  Não! A ex-mulher está me ameaçando porque atrasei a pensão alimentícia dos filhos. Será que ela já sabe que viajei para Angra com Mariana, poxa vida, ficamos na casa de um amigo. Deve ser ciúmes porque arranjei uma namorada nova.  Como desejo SUMIR. Quê isso?! Socorro!!!!


News

Homem é morto por leão que apareceu misteriosamente em plena rua movimentada. Curiosamente, a fera estava de terno, gravata e com óculos.


terça-feira, 14 de julho de 2015

PROJEÇÕES








Olhou o avião e a carcaça da pipa cruzarem simultaneamente e viu a imagem projetada da estátua de Jano, que possui a face dupla que simboliza o passado e o futuro. Jano é o deus dos inícios, das decisões e escolhas. Tirou foto com a câmera do celular. Depois, continuou sua jornada. 

domingo, 12 de julho de 2015

VISITAS NOTURNAS



Cenas do filme TETA AMEDRONTADA


Sua mãe sempre lhe dizia da experiência de ser estuprada e que ela precisava ter muito cuidado com os homens, pois eram lobos vestidos em pele de cordeiros. Ela cresceu e se protegia como a mãe lhe dizia. Mas, na verdade, era violentada pelos relatos da mãe, principalmente, quando a noite invadia seu quarto. 

sábado, 11 de julho de 2015

POSSUÍDO



Sempre me considerei equilibrado e dono de mim mesmo. Mas, de um tempo pra cá, tive lapsos de memória e quando dava por mim, estava em outros lugares e conversando com pessoas que nunca tinha conhecido na vida. Fiquei com medo de estar enlouquecendo e me senti a deriva, pois sempre me considerei com autocontrole. Fui para vários psiquiatras, tomei remédios e me internei. Nada adiantava, eu desaparecia num passe de mágica. Comecei a pensar que uma entidade ou algum espírito me possuía, então fui enfrenta-lo e ele falou por dentro de mim que queria me salvar. Perguntei o porquê e ele me respondeu que eu vivia numa ilusão de unidade e que precisava me enxergar como vários. Chamei-o de demônio e retrucou que talvez more dentro de mim. Disse-lhe que não havia o mal em mim, só o bem. Então, ele escarafunchou uma memória antiga e me vi garotinho, que afogava com prazer as formigas que saíam do buraquinho do azulejo do banheiro. Estava tomando banho e sentia um prazer indescritível ao jogar a água nelas. Rebati, argumentando que era só uma criança sem noção do certo e errado. O demônio perguntou-me o que era certo, errado e se ao longo da história, o certo era o errado e vice-versa, dependendo de qual prisma se via. “Talvez, não sou demônio, mas anjo”. Explodi que era um Anjo Caído e riu de mim. Nunca senti tanto ódio na minha vida, de repente percebi-me mais vivo. Quando dei por mim, destruí a casa toda. Completamente exausto, fui dormir e ao acordar me senti outro. Parece que estou partido por dentro e ouço cacos o tempo todo. Algo mudou.

***

Conto ao som:

quinta-feira, 9 de julho de 2015

SOBREVIVENTE




A madrugada avança pela janela, Helena está à espera do filho. Ao mesmo tempo em que se angustia com a falta de notícias, pensa que se ele não existisse mais teria paz. De repente, lembra-se que no ônibus um homem lhe olhou com desejo e se sentiu mulher depois de muitos anos de só atuar como mãe. Olha-se ao espelho e passa batom, porém fica com medo. Pois, tem a impressão de estar prestes a saltar no escuro. Não sabe como viverá sem ninguém para cuidar. Ser mãe tornou-se sua identidade soberana que expulsou todas as outras. Helena questiona: “Quem vem antes, a mulher ou a mãe?” Olha para o telefone, deseja tanto que toque. Precisa saber como o filho está. Imagina-o morto e sente dor. O telefone toca, Helena atende apreensiva e ouve a voz do filho. Ele diz que precisa sumir por uns tempos e que se pudesse mandaria notícias.  Desliga rapidamente e Helena olha pela janela que a madrugada densa está indo embora, dando lugar ao dia; os pássaros começam a cantar e o trânsito mais denso. Helena toma banho para ir trabalhar. Sai de casa na hora habitual e se junta com as colegas de trabalho. É uma sobrevivente. 

domingo, 5 de julho de 2015

TODOS OS DIAS











Gosto de encontrar belezas escondidas no cotidiano. Parece que descubro tesouros que deixarão minha vida menos pobre. Belezas exuberantes, como numa viagem, nos são dadas, diferente das ocultas para as quais precisamos exercitar nosso olhar todos os dias, não deixando a apatia dominar nossa alma.  Pode se viajar todos os dias.

sábado, 4 de julho de 2015

MISTÉRIO

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Ao crescer percebeu que para viver e curtir as coisas que gostava precisava trabalhar. Então, fazia o que tinha que fazer e nos tempos vagos escrevia suas histórias enigmáticas, aproximando-se do mistério que o seguia desde a tenra idade. Quando a luz do sol invadia a janela, iluminava a saída do labirinto. Mas, as sombras das criaturas que habitavam o labirinto, refugiavam-se na memória e ele as transformava em personagens livres para viver o mistério. 

NÁUFRAGOS

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Todos achavam estranho aquele homem barbado, bronzeado e cheio de areia sentado na calçada do Centro da Cidade a pescar o nada. Nem imaginavam como esperava o resgate. Sentia-se sozinho na ilha e completamente engolido pela imensidão do oceano.